sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

O Caso do Policial Canibal

canibal policial

Original: Thought Crimes: The Case Of The Cannibal Cop

Mais um documentário original HBO sobre true crime.

É retratada a história do policial Gilberto Valles, de New York.

Valles foi condenado em 2012, após serem encontradas em seu nome diversas postagens em fóruns da internet planejando sequestrar e comer a carne de várias vítimas. Além disso, foram encontradas pesquisas de Valles nos computadores da polícia, que indicavam os nomes das pessoas que ele planejava ferir.

Houve prisão, mas não sem uma grande controvérsia: Valles nunca chegou a atacar ninguém, nem deu início a qualquer execução de crime. Sua defesa era de que tudo aquilo não passava de fantasia que ele escrevia nos fóruns e que jamais planejou colocar em prática qualquer coisa escrita.

Os defensores de Valles afirmam que ele foi condenado pelo simples fato de pensar, algo que não é crime. Nos EUA há o crime de conspiração para homicídio, no qual é possível punirem-se os atos preparatórios para o crime de homicídio.

Tal qual no Brasil, atos preparatórios não são puníveis, a não ser que haja algum tipo criminal especificando essa conduta.

Ocorre que nem um pequeno ato preparatório a defesa entende ter sido realizado. A pesquisa dos nomes no computador de Valles teria sido meses antes e não tinha relação porque ele, de fato não chegou a fazer nada. Não foi apreendida arma, ou outro instrumento, ele não foi flagrado fazendo nada que pudesse indicar um crime em iminente ocorrência.

Já os acusadores entenderam que Valles ao compartilhar esses desejos assassinos e canibais e relatando planos com grandes detalhes, conspirou para ocorrer um crime e não tivesse sido sua prisão, certamente uma tragédia ocorreria, afinal ele tem os traços de um psicopata.

Apesar da condenação, Valles recorreu do crime e acabou obtendo o direito de liberdade, primeiramente com tornozeleira eletrônica, e depois ficou livre por completo.

Assistindo ao documentário, que é de 2015, vi que a história ainda não tinha acabado, pois a promotoria havia recorrido também, buscando sua condenação.

Eu pesquisei rapidamente e, pelo que eu vi, o recurso acusatório não foi acolhido e aparentemente o caso acabou com a absolvição de Valles.

Há dois pontos interessantes sobre esse caso que eu fui pensando conforme via: o primeiro deles é que muitas pessoas acreditam que as redes sociais sejam um universo paralelo e nele podem assumir outras personas e escreverem o que querem, do mesmo modo que podem fantasiar em suas mentes. Não podem. Mesmo que não sejam presas, são moralmente julgadas e isso tem consequências, porque o mundo real e o da internet estão completamente fundidos já.

A segunda observação tem a ver com o julgamento moral. Ao final do documentário, Valles lamenta não ter mais o contato de sua ex-mulher e filha (a primeira que encontrou as postagens). Mas, acima disso, ele ficou conhecido como o policial canibal e, apesar de feliz com a liberdade, em ser um “cidadão comum”, como ele poderia agora encontrar uma parceira? Que mulher iria querer se envolver com ele?

Enfim, sei lá eu se ele realmente planejava matar e comer alguém, muito menos sei se essa prisão o impediu de destruir uma vida (não que em caso positivo ela se justificasse), só sei que palavras têm poder, ainda mais em tempos que não há mais borracha possível para apagar o que é escrito e publicado.

Seja lá como for, ainda acho temerária essa postura de julgamento moral e de manipulação de sensações dos jurados que os julgamentos norte-americanos têm. Não se busca verdade ou justiça, é cada vez mais um jogo de quem tem mais habilidades e recursos para cumprir sua agenda. O lado mais fraco, lógico, dança nessa história.

É um bom documentário, com testemunhos e imagens reais. Um dos meus favoritos até agora.

FDL

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