Fui meio relapso com essa série. Primeiro por não ter feito post sobre a primeira temporada e depois por deixar 3 episódios não vistos para depois.
Rev. é uma comédia no estilo britânico mais clássico: cheia de sutilezas e ironias, marcadas por um tema central que não se perde nas temporadas curtas e bem espaçadas uma entre a outra.
A série retrata uma paróquia decadente de igreja anglicana em Londres. A figura central é o Reverendo Adam, (tão bem interpretado que rendeu vários prêmios ao ator principal) que é cercado pelas mais patéticas figuras no local.
Confesso que quando comecei a assistir (até me envolvi nas legendas) eu esperava uma crítica à decadência das religiões como um todo. Todavia não é nada disso.
A proposta é de uma visão moderna da fé. A trama mostra um vigário que adora as músicas da Rihanna, tem suas pequenas crises conjugais, uma vez ou outra bebe para esquecer dos problemas, sofre com a competição masculina e etc...
A visão imaculada do sacerdócio é quebrada e a igreja é mais um local de integração comunitária do que qualquer coisa.
Rev. ainda traz temas comuns à religião atual, que precisa se adaptar para não ter os bancos dos templos vazios: aceitar o aspecto cosmopolita das cidades, deixar de fingir que determinados assuntos não existem e, sobretudo, humanizar a figura do padre.
Coloco a segunda temporada ainda como um crescimento, porque as nuances são evidentes. Exemplo disso é o 3º episódio, no qual Adam e a esposa cuidam de uma sobrinha malcriada e sofrem em como controlá-la. Nesse mesmo episódio, antes de dormir ela está lendo o livro “The Slap, cuja série já comentei aqui. Até rola um episódio em que a menina quase apanha.
O episódio do jogo de futebol foi uma obra de arte, porque desconstrói para depois consruir. Mostra o tempo inteiro o lado ciumento e marrento que o homem ameaçado exteriora. Mas o fato trágico traz a sabedoria que o sacerdote tem o dever de mostrar no final.
Mas claro que o grande destaque é o episódio final, o especial de Natal. Aliás, é uma síntese do que é o Rev. Adam: um homem que se desdobra para cumprir seu papel na família, na congregação e ainda precisa lutar contra suas crises de fé e seus desejos pessoais. No final, depois de surtar por todos só esperarem sua perfeição, o episódio mostra a união das pessoas ao redor da fé.
Não é segredo que sou ateu. Mas confesso que essa série é uma lição de tolerância, pois ainda que não acreditemos nas mesmas coisas, a preocupação com o outro e a aceitação das diferenças estão acima da questão das crenças.
Nesse ponto, esperava uma crítica azeda, mostrando os podres da Igreja, por outro lado, vi uma crítica fundada, mostrando o lado humano de quem realmente acredita nela.
Até a próxima temporada.
0 comentários:
Postar um comentário