segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Making a Murderer

Making a Murderer 1A moda de documentar crimes reais realmente está bem forte nos EUA. Já comentei o podcast Serial e o especial da HBO The Jinx.

Agora foi a vez do Netflix entrar na bagaça.

O que é contado nesse documentário de 10 episódios é absurdo. Faz com que nós percamos a fé no ser humano (os que ainda tinham alguma).

Making a Murderer conta a história de Steven Avery. Após ter passado 18 anos preso por um crime que não cometeu, ele consegue a liberdade por conta de um exame de DNA que prova sua inocência. A história vira notícia e, quando está prestes a ganhar uma gigantesca indenização pelo Estado, Avery se torna o principal suspeito do assassinato da fotógrafa e jornalista Teresa Halbach.

É uma história de crime muito diferente. Porque sempre há um foco. Geralmente as atenções são voltadas para o criminoso, ou para a vítima e, em alguns casos, os advogados. Em Making a Murderer não, o protagonista é o Estado.

Steven Avery ficou anos preso por estupro e conseguiu provar sua inocência graças a uma prova de DNA. Já começa aí a prova de que o Estado passou por cima dele tanto com acusações sabidamente improcedentes quanto com impossibilidade de defesa.

Diante da vergonha para o Estado de um processo que indenizaria Steven, ele é preso, dessa vez acusado de homicídio. Parece conveniente. Ainda mais por terem sido os mesmos policiais.

O ponto é: um lado acusa o Estado de armar o caso para não ter a imagem abalada pelo erro judicial anterior. O outro lado diz que Steven nunca foi santo e talvez a cadeia tenha mexido com a cabeça dele, mas que era um assassino.

Making a Murderer 2

Esse documentário é um emaranhado de contradições, coincidências bizarras, maus policiais, famílias desestruturadas, enfim... cada um chega a uma conclusão sobre a culpa de Steven.

A minha conclusão é não saber, porque o Estado montou um caso extremamente falho e conduziu as investigações com clara perseguição. O intuito era punir Steven, não saber a verdade sobre Teresa. Isso também não quer dizer que ele não fez...

Nem vou falar daquele promotor, mais desqualificado do que qualquer outra coisa (e de voz irritante).

Gosto muito de ver trabalhos assim saindo. Retira muito o glamour que as pessoas pensam haver na justiça criminal, mesmo a norte-americana. Gosto também de quem tem coragem de questionar as instituições. Elas têm suas funções, mas são operadas por seres humanos e podem sim sair da curva.

O documentário é bem longo e cheio de detalhes, porque foi filmado praticamente tudo nos julgamentos e provas que aconteceram. O caso já era muito famoso nos EUA. Por isso, em alguns momentos é cansativo e repetitivo.

Mesmo assim eu recomendo a quem gostaria de conhecer um pouco mais da justiça criminal.

Só um detalhe final: eu ainda tenho nojo e decepção do que foi aquele interrogatório seguido de confissão de Brendan Dassey, aquele teste ao qual foi submetido também. Aceitar aquilo como prova é o retrato do cinismo de um sistema ou falho ou construído pra se livrar de quem incomoda.

FDL

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