quinta-feira, 1 de março de 2018

Lolita – Nobokov

“Eu seria um canalha se dissesse, e o leitor um idiota se acreditasse, que o choque da perda de Lolita me curara da pederose. Não havia meio de modificar minha natureza maldita, qualquer que fosse o desfecho do meu amor por ela. Em parques e praias, meu olho cansado e sorrateiro, contrariando a minha vontade, continuava a procurar o fulgor dos braços e pernas de alguma ninfeta, os sinais enviesados das colegas e damas de companhia de Lolita.”

Nobokov

lolitaO livro de fevereiro do desafio de 12 livros para 2018 foi Lolita, do Nobokov.

Na verdade ele é meio que um truque, porque eu comecei com ele no ano passado. Foi minha primeira experiência com audiobook. Essa leitura foi minha perturbadora companhia por algumas semanas na academia.

Chegando na metade, eu peguei o livro escrito e continuei.

Esse livro é muito bom e muito forte.

Ele conta a história, narrada em primeira pessoa, do “Humbert Humbert”, um confesso pedófilo ao leitor.

Humbert faz digressões e conta suas experiências de vida, sobretudo com seu grande amor, a “ninfeta” Lolita, de 12 anos com quem se envolveu sexualmente após tornar-se seu tutor legal.

Esse livro é bizarro porque o autor utiliza uma linguagem extremamente rebuscada, mas não complexa. Chega a ser poética. Ele é expressivo e muito descritivo. Em certos momentos, ele utiliza metáforas tão leves, que esquecemos se tratar de uma descrição de uma violência sexual contra uma criança.

E essa é a ideia dele. Ele diz não tentar se absolver de seus crimes com seu relato, mas ele tenta a todo momento justificar indiretamente seus desejos e atitudes. Não o diz, mas faz.

Ele é aquilo que se costuma chamar de narrador não confiável.

A história é complexa e a narrativa também, porque exige atenção. Com o uso frequente de linguagem figurada, alegorias, metonímias e outras figuras, não é qualquer leitor que consegue entender o efeito que Nobokov quer causar com Humbert.

Fato é que esse livro é interessante do ponto de vista da natureza humana, já que pedófilos sempre existiram e agiam mocozados. Existia de certa forma até alguma permissividade com seus comportamentos.

Gostei muito dessa leitura.

Uma revista recente da OAB tem um texto muito bom também sobre esse livro, com análises e informações sobre a obra.

Recomendo.

FDL

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