sexta-feira, 29 de junho de 2012

Acima de Qualquer Suspeita

Acima de qualquer suspeita

“... Se você não tem coragem de apontar, sussurrou John White, não pode esperar que eles tenham coragem de condenar.

Por essa razão eu aponto. Estendo a mão ao longo do tribunal. Estico um dedo. Procuro os olhos do réu. E digo:

‘Este homem foi acusado.’”

Scott Turow, em Acima de Qualquer Suspeita.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Nunca escondi que sempre fui fã do John Grisham, com seus suspenses de tribunal. Por conta da vasta obra dele nunca tinha me interessado por outros autores do mesmo gênero. Era um erro.

Estava bisbilhotando outro dia em uma livraria e vi a capa do Acima de Qualquer Suspeita e acabei me interessando pela sinopse, pelos comentários, por saber que foi inspiração para um filme famoso, pela arte da capa, enfim, o livro chamou a minha atenção.

Comprei e a obra entrou na fila que não para de aumentar proporcionalmente contrária ao meu dinheiro disponível. O filme ficou no HD esperando o momento certo também.

Em meio a provas e estudos acabei lendo esse livro muito rápido, uns 15 dias no máximo. É um dos melhores livros que eu já li na vida sem a menor sombra de dúvidas.

Acima de Qualquer Suspeita trata da história de Rusty Sabich ,narrada em primeira pessoa. Trata-se de um promotor de justiça que é responsável por investigar a morte de uma colega sua de promotoria, com quem já teve um caso extraconjugal e escondeu de todos. Quando descoberto, Rusty tem sua reputação questionada e em meio a tramoias é acusado pelo assassinato, ocorrendo um emocionante julgamento.

Esse livro tem várias nuances muito interessantes. A primeira delas é só sabermos no final se Rusty realmente a matou o não. Além disso, rompe completamente com o maniqueísmo, que é um fruto tentador nos tribunais. Estamos lidando com seres humanos, profissionais do direito, que podem pensar diferente e ter suas escorregadas na ética.

Todos os personagens são riquíssimos e fogem dos estereótipos, por mais que caiamos na armadilha de pensar no começo de que será um cliché. Não é.

A arte da capa é ainda mais interessante do que parece, porque revela a sensação de Rusty ao ter apontado para ele o dedo acusatório, quando passou a vida apontando aos outros.

Posso correr o risco de ser um herege, mas a narrativa do Scott Turow é mais rica, ele é mais articulado nas descrições das pessoas. Além disso, o livro tem um forte aspecto sexual, tratado de forma explícita, sem eufemismos, mas sem ser obsceno também.

Os livros do Scott Turow são anteriores aos do Grisham, sendo um tipo de precursor nesse modelo de suspenses de tribunal que são moda hoje em dia. Também vende muito no mundo todo. Acima de qualquer suspeita foi escrito em 1989.

Claro que esse livro foi o gatilho dos meus impulsos doentios e eu já comprei a obra do Scott Turow quase completa, tendo tempo sabe deus quando para ler tudo.

Vamos ao filme:

 

acimadeqqrsuspeita-filmeFilme: Acima de Qualquer Suspeita ( Presumed Innocent )
Nota: 9
Elenco: Harrison Ford, Raul Julia, Bradley Whitford são os atores que eu conheço.
Direção: Alan J. Pakula (já falecido, mas dirigiu O Dossiê Pelicano, outra impecável do John Grisham)
Ano: 1990

 

 

 

 

A primeira coisa é não confundir com um filme homônimo que tem o Michael Douglas, que não chega a ser horrível, mas não é bom. Já vi esse filme, em 2009, mas por algum motivo não escrevi sobre ele aqui. A culpa é da tradução, porque o filme recente originalmente se chama Beyond a Reasonable Doubt, aquele brocardo famoso dos tribunais americanos.

Presumed Innocent é um ótimo filme. Não sou fã do Harrison Ford, mas ele acabou dando um bom tom na interpretação de Rusty.

Conforme eu ia lendo o livro ficava imaginando quem eram os atores que tinham interpretado no filme. Conheço muito poucos, mas a mais agradável surpresa foi saber que o enigmático e interessante advogado Sandy foi feito pelo saudoso Raul Julia, impecável como sempre.

Cabe ressaltar o que já se sabe. Há mudanças leves no roteiro, mas como adaptação não tem como fugir disso, sobretudo no desfecho. Claro que nós ficamos frustrados, sobretudo com a pressa que algumas coisas acabam acontecendo. Mas é natural, já que eu seria o primeiro a reclamar de um filme de 5 horas.

Ler um livro e assistir a um filme sobre um crime intrigante, sobre as tramoias do Ministério Público e sobre o indivíduo além do advogado é uma oportunidade única.

Para mim já virou clássico. Recomendo muito.

FDL

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