Tava devendo o post sobre essa série que eu esperei estrear desde o meio do ano passado, quando soube que seria produzida.
Vamos combinar que um projeto desse tinha tudo para dar errado, né? Semana antes do natal, poucos recursos, inspirado em uma das obras mais complexas e controversas da nossas literatura, com a Maria Fernanda Candido representando um dos papéis mais difíceis possíveis e com muito poucos capítulos.
Agora, uma coisa é fato: a Globo consegue atingir qualidade e bom gosto nas suas minisséries. A preocupação deles aí realmente é correr riscos e buscar algo diferente. Já vimos que com Queridos Amigos, Um Só Coração, O Quinto dos Infernos, Presença de Anita, Os Maias e outros.
Aqui foi outro acerto.
Poderia ser mais uma história de época com seu enredo contado e com canastrões de trajes da época. Mas todo mundo sabe que o Machado de Assis não escreveu isso. Tinha uma história, que era segundo plano perto dos comentários do narrador e de como ele via a própria vida. Resultado: colocaram na minissérie um narrador, com um plus, temos expressões e emoções não identificáveis no texto. Ótimo. Temos que colocar mais elementos, característicos do veículo escolhido. Senão qual o sentido da adaptação.
Houve quem dissesse que ficou muito centrado nos monólogos. Então não gostou de ler o livro, né? Esqueceu que as digressões são o ponto principal?
Como já disse, não era mais uma história de época. Era Machado de Assis! Universalista. Nada melhor que misturar cenas atuais nisso, pra lembrar o telespectador que os efeitos da nossa mente sobre nós é eterno, não é datado em certo período. O Machado era irreverente, não gostava de vanguardas e tradições. Daí o rock'n'roll de trilha sonora. Tem coisa mais universalista, eterna e irreverente que rock'n'roll?
Além disso, foi uma atuação completamente teatral. Genial saída para a falta de recursos, não acham? Além disso, estávamos vendo uma narração, não houve forma melhor de ficar claro que assistimos a algo por meio dos olhos de um narrador humano, logo, tendencioso.
O elenco é novo, a não ser pela Maria Fernanda ( que nem apareceu tanto pra estragar o negócio ), o antigo Pedrinho do Sítio do Pica Pau Amarelo ( nem é tão veterano assim ) e a Eliane Giardini, que é excelente. Mas as atuações são excelentes, principalmente para o Bento adulto e para o José Dias.
O que tem de melhor na obra foi mantido e aproveitado na linguagem do audiovisual como um todo ( músicas, teatro e a televisão em si ). A gente se irrita com o Bento desde o começo, quando é um viadinho mirim falando: "Se mamãe quiser...".
Têm coisas que eu preferia de outro jeito? Claro, cada um tem sua impressão. Senti falta de outras? Sinceramente, não; a essência tava ali.
A atriz que fez a Capitu mais nova foi muito bem. O olhar expressivo e intrigante: podendo ser tanto o de dissimulada quando de cigana oblíqua e dissimulada. A menina foi encontrada em um show de sua banda. Achei isso demais.
5 capítulos recomendados.
Como destaquei a trilha sonora, vou colocar aqui o vídeo com a música que eu mais gostei:
Beirut - Elephant Gun, tema de Capitu e Bento quando jovenzinhos.
FDL