quarta-feira, 22 de março de 2017

A Bela e a Fera

a bela e a feraFilme: A Bela e a Fera (Beauty and the Beast)
Nota: 9,5
Elenco: Emma Watson, Luke Evans, Kevin Kline, Ewan McGregor, Ian McKellen, Emma Thompson, Stanley Tucci
Ano: 2017
Direção: Bill Condon

 

 

 

 

O desenho de A Bela e a Fera, de 1991, ainda é muito marcado na minha memória. Eu tinha 06 anos (no Brasil esteve no cinema em 1992) e fui ao cinema nas minhas férias com minha mãe e meu irmão.

No ano seguinte, foi a primeira fita em VHS que eu ganhei, junto com o Ratinho Detetive, que nós assistíamos até decorar todas as falas.

Realmente é um clássico que você nem precisa colocar na categoria animação. É um clássico e pronto.

Quando soube que seria feita uma adaptação live action desse filme eu nem liguei. Eu sabia que não iria assistir. Nada do que é feito assim é bom, porque os diretores querem dar uma identidade própria ao trabalho e acabam descaracterizando tudo, mas usando o título original para chamar a atenção das pessoas nas bilheterias.

Porém, todos começaram a falar sobre a extrema fidelidade que esse filme teria quando comparado ao desenho original. Isso já começou a despertar meu interesse.

A escolha da atriz para fazer a Bela arrematou e eu fiquei ansioso esperando o que seria feito com essa obra pela qual eu tenho muito carinho.

Quando falamos da fidelidade, realmente é isso. Não é uma cópia total, mas o que interessava foi mantido. O decorrer da história é o mesmo, as cenas são as mesmas e até as músicas foram utilizadas iguais. Há diálogos novos, músicas novas e até algumas adições que eram necessárias e a gente nem sabia.

Por exemplo, em um momento os personagens do castelo explicam para Bela que são daquele jeito por serem amaldiçoados, afinal, não fazia sentido ela conversar com um candelabro e um relógio e achar que estava tudo beleza. Claro que deixaram de fora a parte principal.

Outra coisa legal foi a cena em que a Bela leva a Fera de volta ao castelo após ele ser atacado por lobos. Ela pede ajuda dele, para que ele suba no cavalo. Pensando bem, como naquele desenho a Bela colocou uma Fera desmaiada em cima de um cavalo para levar? Bom.

Fora isso, é a pura experiência do cinema, com visuais impressionantes, histórias cativantes, músicas que emocionam e, no meu caso, remetem a um tempo passado.

A atuação da Emma Watson foi criticada por algumas pessoas, mas eu achei excelente. Ela é perfeita para fazer a Bela, até mesmo pela sua postura na vida real, de não ser apenas uma mocinha boba, já que a Bela gosta de ler e se recusa a ser uma esposa submissa.

Recomendo muito esse filme, seja para quem curtia o desenho como eu e minha família, seja para quem quer conhecer agora.

FDL

segunda-feira, 20 de março de 2017

Vertigo (Um Corpo que Cai) – Boileau - Narcejac

vertigo um corpo que cai“– Quero ver como é lá em cima – ela disse.

– Não podemos nos atrasar.

– É só um momento!

Ela já estava subindo. Ele não podia perder tempo. Com repugnância, subiu os primeiros degraus, agarrando-se a uma corda sebosa que servia de corrimão.

– Madeleine!... Mais devagar!

Sua voz reverberou, retomada em ecos breves pelas paredes apertadas. Madeleine não respondeu, mas ele ouvia o estalido de seus sapatos nos degraus. Flavières atravessou um curto patamar, percebeu através de uma abertura o teto do Simca e, para além de uma fileira de choupos, uma plantação onde mulheres trabalhavam com lenços sobre a cabeça. Começou a sentir náuseas. Afastou-se da abertura, continuou a subir mais lentamente.

– Madeleine!... Espere por mim!

Respirava depressa. Suas têmporas latejavam. Suas pernas não obedeciam direito. Um segundo patamar. Pôs a mão diante dos olhos para não ver o vazio, mas podia senti-lo à sua esquerda, no poço onde pendiam as cordas dos sinos. Gralhas saíram voando, grasnando ao redor das pedras quentes. Nunca seria capaz de descer aquilo.

– Madeleine!

Sua voz se tornou mais rouca. Ele ia gritar, como uma criança no escuro? Os degraus iam ficando mais altos, escavados no centro. Um pouco de luz penetrava por uma terceira abertura, acima de sua cabeça. A vertigem estava à espreita dele naquele novo patamar. Não conseguiria evitar dar uma olhada e, dessa vez, estaria mais alto que o cimo das árvores; o Simca não seria mais que uma pequena mancha. O ar afluiria à volta dele, vindo de todos os lados, seria levado como uma onda. Deu mais um passo, dois. Esbarrou numa porta. A escada continuava do outro lado.

– Madeleine!... Abra!

Ele mexia desesperadamente na maçaneta, batia na madeira com a palma da mão. Por que ela tinha fechado aquela porta?

– Não! – ele gritou. – Não... Madeleine... Não faça isso... Eu... Eu...”

Boileau - Narcejac

Eis que chega a hora do segundo livro que virou filme na obra de Hitchcock.

Eu vi esse filme Um Corpo que Cai em 2009, mas as memórias sobre ele são tão vivas que até me impressiona. E olha que eu até reli o que escrevi na época, porque costumo fazer isso para dar um arranque na memória e percebi que fui econômico em escrever sobre o enredo e passagens específicas.

O livro de Boileau-Narcejac é excelente. O filme de Hitchcock é bastante fiel a acontecimentos e passagens ocorridas no romance. Uma ou outra coisa são diferentes, mas fazem tudo ficar melhor ainda.

Nessa história o advogado e detetive Flavières é um ex-policial e tem um trauma, já que seu problema de vertigem provocou uma tragédia, que o fez se desligar da polícia e recomeçar a vida.

Um antigo colega de Flavières, Gèvigne, o procura para investigar Medeleine, sua esposa, que apresenta um comportamento estranho.

Obviamente o protagonista se apaixona pela bela e misteriosa mulher, ficando em um dilema entre a fidelidade ao amigo e os sentimentos fortes que desenvolveu pela esposa dele. Fora isso, há o incansável faro investigativo, que o faz tentar a todo custo desvendar os motivos dos atos e comportamentos de Madeleine.

O suspense de Hitchcock é cheio de efeitos visuais e sonoros que potencializam a nossa tensão e atenção. Eu achei que no livro sentiria falta disso por conta da leitura. Ao contrário: livros estimulam a nossa imaginação e boa parte da experiência parte de nós mesmos. Quando bem escrito, o texto faz a experiência ser perfeita.

Diversas passagens desse livro são geniais, como a da torre da igreja, já famosa.

O livro é curto e a edição que comprei há pouco tempo da editora Vestígio é outra obra de arte, em capa dura e com uma arte impecável. Vale a pena.

Vamos ao próximo livro de março: Psicose.

FDL

sábado, 18 de março de 2017

Love – 2ª Temporada

love s2

Terminei de assistir à aguardada segunda temporada de Love, excelente série trazida pelo Netflix no ano passado.

O bom de ver séries no Netflix é que vamos lá com um lanchinho despretensioso e quando vemos passamos o nosso final de semana inteiro no sofá assistindo a uma temporada inteira. Nem preciso dizer o que aconteceu aqui.

Mickey e Gus voltam nessa temporada exatamente no ponto onde acabou a temporada passada, mas fazem o oposto do que prometeram naquele episódio.

Mickey pede para ficar um ano sem sair com ninguém, mesmo gostando de Gus. Isso faz parte do que ela acredita ser uma forma de se curar de mais uma de suas compulsões.

Acontece que os dois se aproximam e não tem como se separarem. A temporada inteira é assim.

Eu vou destacar o excelente segundo episódio da temporada. Aquela cena inicial é genial. As conversas, o desconforto e finalmente ele esperando ela ir embora para peidar.

Também foi muito bom o episódio em que Gus conhece o pai dela e acaba demonstrando o que vai ser o ponto fraco dele. Isso acontece porque os defeitos dela são bem mais evidentes, mas os dele são latentes.

A série, claro que traz problemas no final, porque senão a história não anda. Não sei se vai se sustentar por muito tempo com isso, mas foi tudo excelente.

Mais uma vez elogio os coadjuvantes que sustentam muito a série, além da trilha sonora e de toda a leveza dos diálogos.

Se eu pudesse, veria essa série o ano todo, porque é de fato um prazer.

Até o ano que vem então!

FDL

sexta-feira, 17 de março de 2017

Os Pássaros – Frank Baker

os-passaros livro“O Parlamento se dispersou sem ter chegado a nenhuma conclusão. Então, os proprietários de jornais, ansiosos como de costume para demonstrou seu poder, começaram a dizer ao governo o que fazer. “Atirem neles! ”, clamou um jornal. “Atraiam-nos no céu com bolsas cheias de alimentos saborosos”, proferiu outro em tom colérico. “Seduzam-nos para leva-los até um parque vazio, soltem um exército de gatos famintos e torçam pelo melhor.”. “Ofereça uma libra esterlina por cada pássaro morto cujo cadáver possa ser apresentado.”.

Claro, claro, certamente. Mas um fato se destacava. Ninguém até então havia sido capaz de matar ou capturar uma daquelas pragas. Pelo contrário, um considerável número de pessoas engajadas em combate-las tinha morrido. E em todos esses embates mortais, nenhum pássaro, nem mesmo uma pena, jamais foi encontrado”.

Frank Baker

Assisti ao filme no ano passado e já estava empolgado com o livro com edição toda fodona que tinha sido lançado. Percebi depois que tenho vários livros aqui de obras que viraram filmes do Hitchcock. Por isso em março vou tentar ler todos e completar.

Oficialmente, o filme Os Pássaros é inspirado no conto homônimo de Daphne du Maurier. Infelizmente não encontrei essa desgraça, porque teria lido e completado tudo. Tive dificuldades até para encontrar em inglês.

Extra-oficialmente soube-se que o filme foi inspirado na também homônima obra de Frank Baker, lançada no Brasil nos últimos meses. Houve discussão de plágio e um monte de coisa. Fato é que há muitas semelhanças no tema principal.

A história em si é bem diferente entre livro e filme. Já comentei o filme Os Pássaros no post, mas na obra escrita, que se passa em Londres, um homem entediado com seu emprego burocrático se apaixona por uma mulher misteriosa e isso o faz questionar aquela vida que levava.

Claro que junto disso, o mundo vive um momento de ruptura para um futuro distópico depois que pássaros misteriosos passam a atacar as pessoas e mata-las.

O mais interessante da obra de Baker é que não se trata apenas de um suspense violento marcado por um “salve-se quem puder”. Há uma dose reflexiva interessante na história.

O protagonista observa uma certa dose de julgamento moral por parte dos pássaros. Acabam sendo atacados aqueles que não enxergam o fundo dos olhos dos pássaros no momento do ataque.

Assim o faz o protagonista, que acaba tendo um tipo de epifania e muda sua forma de ver o mundo, deixando de ser atacado pelos pássaros.

“Em um segundo aterrorizante, que pareceu durar por toda a eternidade, percebi tudo o que eu era, tudo o que havia esmaecido para se extinguir em mim. Vi, no fundo das covas daqueles dois olhos mortos, a alma que eu havia expulsado de mim há tanto tempo. E ela era abominável.

... Eu não consigo mais falar sobre aquilo. Pois falar daquilo que vi é trair a Alma cheia de vida que, desde aquele momento, nasceu em mim e ainda sobrevive. Eu vi – e isso é tudo que posso lhe dizer -, eu vi a emanação corrompida da Alma de um homem que, nas palavras de um grande profeta: ‘Deus fez para que ele próprio se arruinasse.’

Eu vi e sobrevivi. Se não tivesse visto, meu Demônio teria me destruído. Mas eu vi e sobrevivi.”

Ao contrário disso, diversos personagens com algum desvio de caráter não são poupados pelos pássaros assassinos. Um exemplo disso é o chefe, que só pensa em si mesmo.

“Daquela noite em diante, senti-me oprimido e assustado pela imagem de um pássaro que parecia ter o poder de, a qualquer momento, se materializar no céu em volta de mim. Eu nunca o vi como uma figura robusta e clara como os outros pássaros que voavam sobre a City; para mim, ele sempre aparecia como um fantasma, mais sentido que avistado. Era algo que eu possuía e de que não conseguia me livrar; em meus inumeráveis esforços para me livrar dele, ficou claro que aquela criaturas desejava se tornar parte de mim. Pensei repetidas vezes no pequeno pássaro encolhido no ombro do poeta; na velha senhora que saíra carregada da cabine telefônica; e nas centenas que haviam encontrado suas mortes ao tentar acabar com as aves. Ao me lembrar desses casos, não tentei afastá-lo de mim. Eu nem poderia, não ousava enfrenta-lo. O pensamento de encontra-lo face a face me enchia de terror. Tentei desesperadamente não leva-lo em consideração. O sentimento pesado de temor e angústia, com o qual a sua presença me dominava era aterrorizador. Eu não conseguia dormir em um quarto com janelas abertas, pois tinha medo de acordar e encontra-lo voando pelo quarto na escuridão ou, pior ainda, pousado em meu peito, olhando para mim com seus olhos cruéis e penetrantes.”

Esse livro em alguns momentos é bem enrolado e chato, se perdendo mais uma vez em descrições e reflexões sem sentido. Mas a leitura flui porque pelo menos não tentaram complicar demais a linguagem.

Certamente você vê a influência da obra no filme de Hitchcock.

Agora, enquanto escrevia esse post acabei finalmente encontrando o curto conto de Daphne du Maurier. Tirei minha habilidade de ler em inglês do arquivo e já completei a experiência de uma vez:

The Birds And Other Stories – Daphne du Maurier

the birds“Nat had no time to answer. He was raking the bodies from the chimney, clawing them out onto the floor. The flames still roared, and the danger of the chimney catching fire was one he had to take. The flames would send away the living birds from the chimney top. The lower joint was the difficulty, though. This was choked with the smoldering helpless bodies of the birds caught by fire. He scarcely heeded the attack on the windows and the door: let them beat their wings, break their beaks, lose their lives, in the attempt to force an entry into his home. They would not break in. He thanked God he had one of the old cottages, with small windows, stout walls. Not like the new council houses. Heaven help them up the lane, in the new council houses”

Daphne du Maurier

 

O conto é bem curto. Não passa de 40 páginas.

Em alguns momentos lembra mais o filme, porque mostra uma família fugindo do ataque de pássaros e tentando se salvar em sua casa. O filme do Hitchcock também segue essa linha, embora a história também não seja a mesma.

Nesse conto há várias espécies de pássaros e alguns morrem após atacar os humanos. Não há nada de moralismo ou de filosofia nessa historinha.

O final é bem mais amargo e mostra mais um comportamento de uma família em tempos de tragédia.

Recomendo tudo, porque essa história, contada de diversas formas e meios é muito interessante. Só serviu para reforçar o quanto esse clássico é bom.

Vamos ao próximo livro: Vertigo – Um Corpo que Cai.

FDL

quinta-feira, 16 de março de 2017

Tony & Susan – Austin Wright e Animais Noturnos

tony susan

“O homem chegou perto o bastante para que Tony sentisse o cheiro de cebola misturado a algo doce e licoroso, sua cara na mesma altura do rosto de Tony, e, embora fosse magro, Tony sabia que o homem podia destruí-lo. Deu um passo para trás, mas o homem diminuiu o espaço entre os dois. É a diferença de idade, disse Tony para si mesmo, sem acrescentar que desde os tempos de garoto nunca mais tinha se metido numa briga e mesmo naquela época jamais havia ganhado uma briga. Vivo num mundo diferente, Tony quase falou para si mesmo.”

Austin Wright

É um livro de tamanho médio, que me pareceu bem interessante tanto pela sinopse, quanto pelas indicações que recebi e também por ter uma comentada adaptação ao cinema ano passado.

Pois bem.

O começo realmente é excelente. Tanto que acabei lendo 120 páginas tudo de uma vez em uma noite aí. O problema vem depois.

Acontece que a história começa intensa e vem com vários problemas e uma grande tragédia. O que sobra depois é a essência da história, que não sei dizer se não é boa ou se não foi bem feita.

Vai a sinopse do Skoob mesmo:

Há vinte e cinco anos, Susan Morrow deixou Edward Sheffield, seu primeiro marido. Certo dia, instalada confortavelmente na casa em que mora, com os filhos e o segundo marido, inesperadamente ela recebe, pelo correio, um embrulho que contém o manuscrito do primeiro romance escrito por Edward. Ele lhe pede que leia seu livro: Susan sempre foi sua melhor crítica, justifica. Tony e Susan, de Austin Wright, publicado originalmente nos Estados Unidos em 1993, ganha nova edição, dezoito anos depois de seu lançamento, por se tratar, segundo seus editores, da “mais impressionante obra de arte da ficção americana desde Revolutionary Road, de Richard Yeats”, publicado no Brasil como Foi apenas um sonho.

Ao iniciar a leitura, Susan é arrastada para dentro da vida do personagem Tony Hastings, um professor de matemática que leva a família de carro para a casa de veraneio no Maine. Quando a vida comum e civilizada dos Hastings é desviada de seu curso de forma violenta e desastrosa, Susan se vê novamente às voltas com seu passado, obrigada a encarar a própria escuridão e a dar um nome para o medo que corrói seu futuro e que vai mudar sua vida.

O livro é dividido em duas partes que se alternam: a história de Susan e a história que ela lê, chamada Animais Noturnos, protagonizada por Tony.

A parte de Susan é simplesmente desinteressante. Ela até faz boas reflexões sobre seu passado e traça paralelos com sua vida e o que interpreta nas entrelinhas no livro de Edward. Mas tudo aquilo leva páginas e páginas de descrição, com um ritmo que nos perde.

Já Animais Noturnos fala basicamente sobre esse homem, Tony, que não confronta ninguém, está acostumado a fazer aquilo que lhe pedem. Ele é travado pela falta de coragem, pelo receio de cometer erros e pelo medo de não ser aceito.

A primeira parte de Animais Noturnos é perturbadora, porque retrata com frieza e de um jeito cru a violência humana, principalmente sob o aspecto psicológico. O domínio mental que Ray exerce em Tony é incômodo. Ao mesmo tempo, nos colocamos no lugar dele.

Depois disso a história se arrasta e depois de um bom tempo você entende para onde ela vai caminhar, mas leva muitas páginas e, novamente, muitas descrições inúteis para encher linguiça.

O final do livro chegou a me dar raiva. O diálogo final de Ray e Tony parece infantil de tão imbecil. Não dá. Além disso, me parecia óbvio o que aconteceria. E aconteceu.

No final, não foi a melhor experiência do mundo para mim, mas gosto varia e para outras pessoas pode funcionar como um bom livro.

Agora, vamos ao filme:

Animais Noturnos

animais noturnosFilme: Animais Noturnos (Nocturnal Animals)
Nota: 6,5
Elenco: Amy Adams, Jake Gyllenhaal, Laura Linney, Michael Sheen e mais trocentas pessoas avulsas.
Ano: 2016
Direção: Tom Ford

Complicado esse filme, viu.

Se eu já não achei o livro lá essas coisas, o filme teria que aproveitar o que tem de bom em recursos para compensar. Mas achei que tentou demais e acabou cagando com tudo.

A cena inicial, com aquela mulher nua já foi desnecessária e eu não consegui enxergar de onde aquilo poderia ter utilidade. Me pareceu mesmo que foi apenas para chocar.

Há diversas alterações na história, principalmente na de Susan. Ficou claro que quem adaptou essa história para o cinema achou que essa parte sem graça e vazia no livro. De fato é, mas esse vácuo foi preenchido de forma muito superficial.

Esse filme tem cenários lindos, pessoas com cara até de futurísticas e me pareceu que tudo custou uma fortuna. Mas focaram demais na parte estética e o conteúdo mesmo, que mais me interessava, ficou desconexo.

O lado de Animais Noturnos em si, com o Tony, estava um pouco melhor, porque foi mais fiel. Eu achava que me sentiria mal com a cena inicial na estrada e de fato isso aconteceu. Toda aquela tensão, aquele sofrimento e maldade não podem ser vistos em um dia que você não esteja especialmente preparado para isso.

Se a cena final do livro, no embate entre Tony e Ray me irritou, nesse filme me deixou indignado. Que atuação foi aquela do Jake Gyllenhaal? Foi a pior dele que eu já vi, de longe. Era mecânico, com uns gritos esquisitos e não passavam nenhuma emoção, embora ele fizesse muitas caretas.

Eu respeito quem viu genialidade nesse filme, porque muitos viram. Mas para mim não funcionou. Aliás, o combo livro+filme não é o que mais me ganhou não.

Vamo que vamo.

FDL

sábado, 25 de fevereiro de 2017

How To Get Away With Murder – 3ª Temporada

htgawm

Terminou nessa semana a série do ano novamente.

Viola Davis fudidona, descendo o cacete em todo mundo como uma advogada criminalista em um ambiente cheio de crimes foi tudo que os fãs de séries precisavam. Eu nem conseguia antes imaginar que precisava dessa série.

É forçada, fantasiosa e irreal? Claro. Mas não me importo nem um honorável pouquinho.

A atuação de Viola Davis até deixa o resto do elenco meio apagado, coitadinhos. Mas são todos muito bons. Essa série tem sucesso porque sabe cuidar de seus coadjuvantes.

Essa temporada não foi tão boa quanto as duas primeiras. A série começou a mostrar alguns recursos preguiçosos de enrolação. Mas tudo bem, ainda tá longe de acontecer o que sempre é feito com as outras séries de sucesso.

A história ficou focada no caso que remete ao passado de Annalise e Wes, com todo o assassinato envolvido na outra temporada. Além disso, um dos estudantes é assassinado no meio da temporada e Annalise é presa.

Os episódios de season finale dessa série são sempre um evento. Dá muita ansiedade e você sempre mexe o mouse para ver se está acabando.

Agora só em setembro que sabemos mais disso, porque How To Get Away With Murder bate, assopra e dá dois tapas na cara de volta. Soubemos alguns mistérios e outros nos foram apresentados.

O recurso de flashbacks é o que para mim acaba sendo a cereja do bolo. Sempre digo que sou fã desse modo de solucionar mistérios.

Acho difícil alguma série ser melhor que essa nesse ano, mas fica aí o desafio.

FDL

Contágio Criminoso – Patricia Cornwell

contágio criminoso“Saiam", disse, sem me preocupar em ser gentil. "Vocês estão na minha vaga." Eles não deram importância às minhas palavras e alguém acendeu o refletor. Por um momento permaneci sentada, olhando para fora, sentindo a raiva me queimar como brasa. A repórter bloqueava minha porta e enfiou o microfone pela fresta na janela.

"Doutora Scarpetta, pode confirmar que o Açougueiro atacou outra vez?", ela perguntou em voz alta, enquanto a câmera registrava tudo e as luzes me cegavam. "Tirem a perua de vocês daí", falei com raiva contida, olhando diretamente para ela e para a câmera.

"É verdade que outro torso foi encontrado?" A chuva escorria pelo capuz de sua capa, enquanto ela empurrava o microfone mais para dentro. "Vou pedir pela última vez que retirem o carro de vocês da minha vaga", falei, como se fosse um juiz a ponto de decretar desrespeito à corte. "Isso é invasão." O câmera achou um novo ângulo, acionou o zoom e o iluminador aproximou a luz dos meus olhos.

"O corpo foi desmembrado, como os outros...?" Ela tirou o microfone bem a tempo, quando subi o vidro da janela. Engatei a ré e comecei a recuar o carro. A equipe saiu do caminho enquanto eu dava uma volta de trezentos e sessenta graus. Os pneus cantaram e espirraram água quando parei bem atrás da perua, prendendo-a entre meu Mercedes e a parede do prédio. "Espere um pouco!" "Ei! Você não pode fazer isso!" Os rostos traíam incredulidade, quando desci. Não me dei ao trabalho de pegar o guarda-chuva. Corri para a porta e a destranquei para entrar. "Ei!" Os protestos exacerbaram-se. "Assim não podemos sair." Dentro da garagem a água acumulada na imensa perua castanha pingava no piso de concreto. Abri outra porta e atravessei o corredor, olhando em torno para ver quem estava por ali. Os ladrilhos brancos permaneciam imaculados, o ar impregnado pelo cheiro de desodorante industrial. Entrei no escritório do necrotério e a imensa porta de aço inoxidável do compartimento refrigerado se abriu sibilando.”

Patricia Cornwell

Ler os livros da Patricia estão sendo praticamente como acompanhar aquelas séries procedurais, com o caso da semana e uma história maior que dura a temporada envolvendo o personagem principal. A diferença é que leio dois livros por ano.

Contágio Criminoso é o 8º livro da série da legista Kay Scarpetta. As histórias, como disse acima, são relativamente independentes, mas há resgate de assuntos do passado.

Nesse suspense, Kay investiga uma série de assassinatos relacionados que ocorrem tanto nos EUA como na Inglaterra. A aparição de um novo caso, mais grave e a possibilidade de o assassino utilizar os corpos para disseminar uma forte versão da varíola como terrorismo biológico fazem com que a médica se envolva tanto profissional quanto pessoalmente no caso.

Contágio Criminoso resgata também de forma superficial um caso antigo relacionado à sobrinha de Kay, Lucy. Acredito que o desfecho disso ocorra no próximo livro.

Além disso, Kay resgata uma história antiga, sobre a morte de seu namorado, ocorrida no livro Desumano e Degradante.

O livro é bom, mas de longe é o mais fraco da escritora, que nessa altura da sua carreira, pareceu cair em uma fórmula preguiçosa, que envolve perseguição machista de colegas profissionais, morte de assistentes do laboratório e uma vida amorosa complicada sem motivos aparentes.

Acredito que nos próximos livros a coisa esquente mais com casos mais complexos. Gosto muito da ótica de trazer a modernidade a esses livros. Principalmente por lê-los com vários anos de distância e saber como as coisas funcionam atualmente.

Continua sendo uma excelente opção de leitura para mim e logo leio o próximo: Foco Inicial.

FDL

sábado, 18 de fevereiro de 2017

Pequenas Grandes Mentiras – Liane Moriarty

Pequenas-Grandes-Mentiras“Jane ficara horrorizada. Assim Renata teria mais motivos para não gostar dela. Jane arranjaria uma inimiga. A última vez que tivera alguma coisa parecida com um inimigo, estava no primário. Nunca lhe passara pela cabeça que mandar o filho para a escola seria como voltar à escola também.

...

E o fato incontestável por trás de sua decisão era: ela amava Perry. Ainda estava apaixonada. Ainda tinha uma queda pelo marido. Ele a fazia feliz e a divertia. Ela ainda gostava de conversar com ele, de assistir à televisão com ele, de ficar na cama com ele em manhãs frias e chuvosas. Ela ainda o desejava.

Mas cada vez que não o largava, ela lhe dava permissão para fazer aquilo de novo. Sabia disso. Era uma mulher culta, com opções, lugares para ir, família e amigos que a apoiariam, advogados que poderiam representa-la. Não temia que ele a matasse se ela tentasse larga-lo. Não temia que ele lhe tirasse as crianças.”

Liane Moriarty

Terminei de ler esse livro na semana passada, mas resolvi postar sobre ele hoje porque estreia a série inspirada nele à meia noite na HBO.

Excelente essa leitura. Pequenas Grandes Mentiras é um livro que fala de vários assuntos e também de várias formas, utilizando o drama, o romance e a comédia.

Segue a sinopse oficial, que está muito boa.

"Com muita bebida e pouca comida, o encontro de pais dos alunos da Escola Pirriwee tem tudo para dar errado. Fantasiados de Audrey Hepburn e Elvis, os adultos começam a discutir já no portão de entrada, e, da varanda onde um pequeno grupo se juntou, alguém cai e morre.

Quem morreu? Foi acidente? Se foi homicídio, quem matou?

Voltando no tempo até alguns meses antes desse incidente, Pequenas grandes mentiras conta a história de três mulheres, cada uma delas diante de uma encruzilhada.

Madeline é forte e decidida. No segundo casamento, está muito chateada porque a filha do primeiro relacionamento quer morar com o pai e a jovem madrasta. Não bastasse isso, Skye, a filha do ex-marido com a nova mulher, está matriculada no mesmo jardim de infância da caçula de Madeline.

Celeste, mãe dos gêmeos Max e Josh, é uma mulher invejável. É magra, rica e bonita, e seu casamento com Perry parece perfeito demais para ser verdade.

Celeste e Madeleine ficam amigas de Jane, a jovem mãe solteira que se mudou para a cidade com o filho, Ziggy, fruto de uma noite malsucedida.

Quando Ziggy é acusado de bullying, as opiniões dos pais se dividem. As tensões nos pequenos grupos de mães vão aumentando até o fatídico dia em que alguém cai da varanda da escola e morre. Os envolvidos revelam impressões frequentemente contraditórias e não será fácil descobrir a verdade.

Liane Moriarty reúne brilhantemente na mesma cena ex-maridos e segundas sempresas, m~es e filhas, bullying e escândalos familiares para nos lembrar das perigosas meias verdades que contamos a nós mesmos para sobreviver”

Do mesmo jeito que temos três protagonistas nesse livro, temos três assuntos principais também: bullying na escola, violência conjugal e a guerra entre os pais nos ambientes escolares dos filhos. Tudo isso é focado em alguma personagem: Jane, Celeste e Madeline, respectivamente. Mas o mais interessante é que a autora juntou os três temas e misturou as histórias das personagens, em um bolo só que ficou único, já que tudo é meio ligado mesmo.

Madeline é a minha personagem preferida, com certeza. Ela é espontânea e carismática. Além disso, é uma amiga e mulher fiel, mesmo em situações que a razão possa pedir para que ela pense em si mesma ou julgue as pessoas que ama. Ela é pura emoção.

Gostei muito da trama paralela que Madeline tem na sua família, enfrentando as mudanças da filha adolescente, que passa a odiar a mãe e se aproximar do pai. Marquei um trecho que sintetiza essa personagem:

“Mas cada interação com Abigail era uma batalha constante entre ‘Eu sou assim, Abigail, é pegar ou largar’ e ‘Seja melhor, Madeline, seja mais calma, mais delicada, mais parecida com Bonnie’.

- Você viu Eloise ser eliminada na semana passada? – Perguntou Madeline. Era o que ela normalmente diria a Abigail, então foi o que disse.

- Não estou vendo America’s Next Top Model – Abigail suspirou – esse é o site da Anistia Internacional. Estou lendo sobre a violação dos direitos humanos.

- Ah – disse Madeline. – Nossa.

- Bonnie e a mãe dela são da Anistia Internacional – contou Abigail.

- Claro que são – murmurou Madeline. Deve ser assim que Jennifer Anistou se sente, pensou Madeline, sempre que fica sabendo que Angelina e Brad adotaram mais um ou dois órfãos.

O livro todo tem esse teor irônico e bem-humorado para tratar das questões familiares que esses homens mulheres enfrentam.

A mistério só é revelado no final do livro e não era o que mais me prendia. O melhor mesmo era ler as situações inusitadas, principalmente com relação à guerra que a escola infantil se tornou com os egos dos pais.

Pequenas Grandes Mentiras também tem um recurso que eu achei genial: as fofocas. Ao final de cada capítulo, há pequenos depoimentos de personagens secundários a respeito de acontecimentos relatados anteriormente. Claro que há o comentário maldoso, o fofoqueiro típico, o irônico maldoso, o compreensivo.

O final é muito bom. Há um encerramento bem interessante de todos os personagens, sobretudo com uma lição aprendida por cada um deles, mesmo que uma tragédia precisasse ter acontecido.

Há diversas passagens que eu marquei porque achei boas. Não dá para escrever tudo aqui. Isso é mais um sinal de que o livro é excelente.

Fica agora a expectativa da série, que é do David E. Kelley. Difícil ser ruim, mas aí é para o futuro.

FDL

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Alta Fidelidade – Nick Hornby

Alta-Fidelidade-Nick-Hornby“ Em ordem cronológica, meus cinco términos de namoro mais memoráveis de todos os tempos, aqueles que eu levaria pra uma ilha deserta:

...

Esses foram os que doeram de verdade. Tá vendo seu nome aí no meio, Laura? Acho que, raspando, até entrava nos dez mais, mas entre os top five não tem lugar para você; essa lista está reservada para aquele tipo de humilhação e desgosto que você simplesmente não é capaz de causar. Isso provavelmente soou mais cruel do que eu pretendia, mas...”

Nick Hornby

Existem livros que simplesmente você tem que ler. Esse daí ia passando por mim de todos os jeitos e eu nunca pegava. Dessa vez coloquei ele na frente da fila e li porque estava sentindo que seria uma boa. Acertei na mosca.

Vou começar falando do autor, sobre quem fui pesquisar apenas ao fim da leitura e fiquei muito surpreso. Ele também escreveu “Um Grande Garoto”, que, tal qual “Alta Fidelidade”, rendeu um filme e, no caso do primeiro, um seriado.

Além disso, Nick Hornby escreve nas versões para cinema de seus filmes e também escreveu o excelente filme do ano passado, Brooklyn.

“Alta Fidelidade” é muito bom de ler. Em dias você termina. O protagonista Rob é um chato: melancólico, egoísta, inseguro, musicalmente elitista, impaciente e obcecado. Mas é muito bom conhecer o que ele tem pra falar e a gente acaba gostando dele e torcendo para que ele consiga superar seus problemas.

Rob é um homem de 30 e poucos anos que largou a faculdade e é dono de uma loja de discos (a história se passa no meio dos anos 90). Esse cara é obcecado por músicas e por top 5. Para tudo Rob tem um top 5 diferente, como músicas após acabar namoros, músicas de velório, filmes legendados e muitos outros.

Ele tem um namoro de alguns anos com Laura, que resolve deixa-lo com o doloroso argumento de que ele não muda, não tem vontade de melhorar a vida. Deprimido e revoltado, Rob faz um top 5 com os términos mais dolorosos da sua vida (fazendo questão de não incluir Laura) e vai atrás de cada uma das mulheres para investigar o que ele tem de errado para sempre ser rejeitado.

Durante toda a história Rob faz muitos comentários e observações sobre relacionamentos e sobre a vida de modo geral, que são muito bons e você se pega concordando com pensamentos bem incorretos.

Vai um exemplo sobre a morte do pai da ex-namorada:

“Eu sabia que o Ken gostava de mim, mas nunca consegui descobrir muito por quê, exceto por aquela vez em que ele estava atrás da gravação de My Fair Lady com o elenco do musical original em Londres e eu achei o disco numa feira e mandei para ele. Estão vendo o que se pode conseguir com atos de bondade gratuitos? Ir para numa porra de um funeral, é isso o que se consegue.

‘Você quer que eu vá?’

‘Não me importo. Desde que você não espere ficar de mão dada comigo’”.

Os coadjuvantes também são muito bons, por exemplo os dois caras que trabalham na loja de discos de Rob e são nerds típicos.

O final do livro é bem legal, mostra maturidade e que homens e mulheres precisam passar por diversas adversidades para atingir o autoconhecimento.

Claro que muito desse livro me chamou a curiosidade porque eu já tinha visto o filme no meio dos anos 2000. Eu lembrava pouco da história, apenas que tinha gostado bastante e que tinha curtido o elenco.

Para o combo ficar completo eu precisava rever o filme.

Eis.

alta fidelidade filmeFilme: Alta Fidelidade (High Fidelity)
Nota: 9
Elenco: John Cusack, Iben Hjejle, Jack Black, Catherine Zeta-Jones, Joan Cusack, Tim Robbins, Lili Taylor, Sara Gilbert
Ano: 2000
Direção: Stephen Frears

 

 

 

 

Esse diretor é bem conceituado. Esse ano mesmo vi com ele o Florence Foster Jenkins. Mas ele fez um dos meus preferidos de todos os tempos: Ligações Perigosas.

John Cusack estava no auge dele quando desse filme. Já vi pessoas dizendo que não gostaram muito, mas é que tem aquele estilo britânico e é esquisito mesmo.

Há algumas cenas meio estranhas, principalmente a inicial, que é teatral e caricata demais. Acaba dando a impressão de que o filme será ruim, mas ao contrário, ele só melhora.

Quando eu li a cena da personagem Charlie, eu ficava imaginando como era. Não quis relembrar quem interpretava quem, apesar de lembrar dos mais óbvios mesmo, como o John Cusack de Rob e o Jack Black de Barry.

Enfim, a Charlie, feita pela Catherine Zeta-Jones estava excelente, ficou no ponto da descrição feita no livro, dos hábitos irritantes, dos trejeitos manipuladores e etc. É perfeita a sensação de reencontrar alguém que esteve por muito tempo na sua vida e você idealizava, até relembrar os defeitos.

Há algumas mudanças inúteis na história, como a alteração em uma das ex-namoradas do top 5, que ficou bem sem sentido. Óbvio que foi para condensar a história, mas parte do trabalho criativo é superar essas adversidades elevando a história, não diminuindo. Por isso não é perfeito.

Mas o filme ganha por poder utilizar as ferramentas audiovisuais a seu favor e não perdeu a chance de fazer isso. Eu ri com a cena em que Rob descobre que Laura não tinha transado com o Ian. Quando ele sai na rua toca “We Are The Champions”. É bem a essência irônica da história de Nick Hornby.

A trilha sonora de Alta Fidelidade também é muito boa. Até as músicas creditadas, que nem lembro em quais cenas do filme aparecem são boas.

Mas destaco uma:

 

Essa música toca na loja de discos. Muito boa a cena aliás.

Mas a melhor mesmo é quando toca “Most Of The Time” do Bob Dylan

 

Essa é a melhor cena do filme. Nessa o Rob tem compreensão sobre ele mesmo.

Só mais uma música. A dos créditos finais, para coroar.

 

Enfim. Recomendo tudo: livro, filme, fica aí a sugestão para uma nova série, já que fazem série de tudo mesmo.

FDL

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Bom Dia, Verônica – Andrea Killmore

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“Forcei um sorriso, concordando com ele. Mais do que um soco, o velho merecia umas porradas. Machista de merda. Eu sabia quanto era difícil para qualquer mulher vir até uma delegacia prestar queixa, ter que vencer a vergonha e explicar como foi feita de trouxa por um galã que lhe fez juras de amor via internet. Só pensava em como Marta tinha se sentido ao ser recebida por Carvana, aquele tom depreciativo na voz, aquele desprezo pela dor que ela sentia. Eu entendia por que a pobre coitada tinha pulado da janela.”

Andrea Killmore

Eu não estava no clima para algo perturbador, mas meu lado curioso por mistérios sempre vence meu lado cansado que quer pensamentos felizes.

“Bom dia, Verônica” é um livro cheio de coisas a se comentar. A primeira delas é que a editora Darkside não está para brincadeira. Eles costumam caprichar na parte estética das edições para ganhar os leitores, além de ter estratégias interessantes pela internet. Só que nesse livro eles foram além.

Acredito que para compensar o fato de que os leitores de thrillers não se interessariam por uma edição nacional da categoria, eles trouxeram a “questão” da autora. Está na contracapa e nas páginas da internet:

“Quanto menos você souber sobre Andrea Killmore, menos risco vai correr. Amiga íntima do perigo, a nova autora da Darkside Books é uma revelação que não se pode revelar, e seu verdadeiro nome continua um mistério até para a editora. Em outra vida, ela foi alguém importante dentro da polícia. Após trabalhar infiltrada em um caso e sofrer uma grande perda pessoal, a autora se viu obrigada a assumir uma nova identidade. E com ela, uma nova vocação...”

Apesar de todo esse mambo jambo de anonimato, fiquei curioso justamente com o contrário. Como seria um suspense policial brasileiro? Fiquei com medo de ser algo que iria para o lado de Tropa de Elite ou qualquer obra do cinema brasileiro, mas fiquei surpreso com a forma, com a linguagem e, sobretudo, com a escrita da autora.

A protagonista do livro se chama Verônica, uma escrivã de polícia que por conta de problemas no passado, ficou relegada a um cargo puramente burocrático, sendo secretária de um delegado na DHPP.

Logo no início vemos a insatisfação com a vida sem significado que Verônica tem, daí até o título do livro, já que todos na delegacia lhe dão bom dia, mas ninguém liga para ela.

O problema é que no mesmo dia Verônica acaba testemunhando um suicídio dentro da própria delegacia e também recebe uma ligação de uma mulher desesperada pedindo ajuda.

Mesmo sendo fora de sua função e mesmo dissuadida pelo seu chefe, Verônica investiga os dois crimes e vai ao longo da obra descobrindo situações terríveis que afastam cada vez mais um possível fim de acordo com a Justiça, pelo menos a formal.

O livro é muito bom e eu li em poucos dias, até por não ser longo e enrolado também. Verônica é uma personagem muito interessante, porque faz parte dessa nova geração de protagonistas não idealizadas, com problemas reais e dilemas verossímeis.

Aliás, o que mais me dava um pé atrás com “Bom dia, Verônica” era a questão da verossimilhança, porque se a autora tentasse imitar o estilo gringo de escrever romances de investigação utilizando o Brasil como localização, ficaria impossível. Esse país é próprio.

Foi nessa parte que eu achei excelente a escrita de Andrea Killmore. É bem fiel a algo que se espera da realidade paulistana, com até o senso de humor dos brasileiros.

“Quando terminamos, ajeitei-me bela, recatada e do lar, e paguei o serviço com uma gorjeta generosa. Não sei se estava na classificação da Helô, mas o frentista, sem dúvida, era um cafuçu long neck: a embalagem não era lá essas coisas, mas o resto...”

A parte que não gostei tanto foi o excesso de situações incomuns e violentas que foram colocadas para chocar. A autora parece que descarregou toda a sua munição de uma vez, ficando difícil de acreditar nessa coincidência de coisas assombrosas acontecendo com uma pessoa só. Mas tudo bem, é ficção.

Posso ser chato e ver um errinho de português aqui e outro ali? Sim. Posso ter visto alguma confusão quanto à revisão sobre nosso sistema legal? Também, mas não é o mais importante.

bom dia veronica

Observo também que essa obra foi escrita muito recentemente, porque Verônica pega Uber e no livro há várias referências e expressões que aconteceram no Brasil há muito pouco tempo. A linguagem certamente pode unir as pessoas e nisso houve um grande acerto.

A autora até ensaia algumas reflexões legais, aquelas passagens que a gente marca no livro porque achou interessantes:

 

 

 

“O ser humano é podre e egoísta, prefere o problema que já conhece a enfrentar o desconhecido com honra. Janete não tinha coragem de se livrar do marido criminoso, mas tinha coragem de me entregar para ele a fim de ser torturada. Em seu egocentrismo insano, era uma mulher disposta a tudo para manter a vidinha torpe”

O final do livro é complicado. Não gostei muito da direção que a personagem Verônica tomou e como as histórias se encerraram. Mas apesar de não ser do meu gosto, não critico, porque fez sentido.

De todo modo, como romance de estreia, “Bom dia, Verônica” não fez feio, porque não há muito disso por aqui e há espaço para crescimento. Achei divertido e em alguns momentos desacreditava no que lia, de tão absurdo.

Foi um acerto e recomendo aos entusiastas desse tipo de literatura.

FDL