sexta-feira, 17 de março de 2017

Os Pássaros – Frank Baker

os-passaros livro“O Parlamento se dispersou sem ter chegado a nenhuma conclusão. Então, os proprietários de jornais, ansiosos como de costume para demonstrou seu poder, começaram a dizer ao governo o que fazer. “Atirem neles! ”, clamou um jornal. “Atraiam-nos no céu com bolsas cheias de alimentos saborosos”, proferiu outro em tom colérico. “Seduzam-nos para leva-los até um parque vazio, soltem um exército de gatos famintos e torçam pelo melhor.”. “Ofereça uma libra esterlina por cada pássaro morto cujo cadáver possa ser apresentado.”.

Claro, claro, certamente. Mas um fato se destacava. Ninguém até então havia sido capaz de matar ou capturar uma daquelas pragas. Pelo contrário, um considerável número de pessoas engajadas em combate-las tinha morrido. E em todos esses embates mortais, nenhum pássaro, nem mesmo uma pena, jamais foi encontrado”.

Frank Baker

Assisti ao filme no ano passado e já estava empolgado com o livro com edição toda fodona que tinha sido lançado. Percebi depois que tenho vários livros aqui de obras que viraram filmes do Hitchcock. Por isso em março vou tentar ler todos e completar.

Oficialmente, o filme Os Pássaros é inspirado no conto homônimo de Daphne du Maurier. Infelizmente não encontrei essa desgraça, porque teria lido e completado tudo. Tive dificuldades até para encontrar em inglês.

Extra-oficialmente soube-se que o filme foi inspirado na também homônima obra de Frank Baker, lançada no Brasil nos últimos meses. Houve discussão de plágio e um monte de coisa. Fato é que há muitas semelhanças no tema principal.

A história em si é bem diferente entre livro e filme. Já comentei o filme Os Pássaros no post, mas na obra escrita, que se passa em Londres, um homem entediado com seu emprego burocrático se apaixona por uma mulher misteriosa e isso o faz questionar aquela vida que levava.

Claro que junto disso, o mundo vive um momento de ruptura para um futuro distópico depois que pássaros misteriosos passam a atacar as pessoas e mata-las.

O mais interessante da obra de Baker é que não se trata apenas de um suspense violento marcado por um “salve-se quem puder”. Há uma dose reflexiva interessante na história.

O protagonista observa uma certa dose de julgamento moral por parte dos pássaros. Acabam sendo atacados aqueles que não enxergam o fundo dos olhos dos pássaros no momento do ataque.

Assim o faz o protagonista, que acaba tendo um tipo de epifania e muda sua forma de ver o mundo, deixando de ser atacado pelos pássaros.

“Em um segundo aterrorizante, que pareceu durar por toda a eternidade, percebi tudo o que eu era, tudo o que havia esmaecido para se extinguir em mim. Vi, no fundo das covas daqueles dois olhos mortos, a alma que eu havia expulsado de mim há tanto tempo. E ela era abominável.

... Eu não consigo mais falar sobre aquilo. Pois falar daquilo que vi é trair a Alma cheia de vida que, desde aquele momento, nasceu em mim e ainda sobrevive. Eu vi – e isso é tudo que posso lhe dizer -, eu vi a emanação corrompida da Alma de um homem que, nas palavras de um grande profeta: ‘Deus fez para que ele próprio se arruinasse.’

Eu vi e sobrevivi. Se não tivesse visto, meu Demônio teria me destruído. Mas eu vi e sobrevivi.”

Ao contrário disso, diversos personagens com algum desvio de caráter não são poupados pelos pássaros assassinos. Um exemplo disso é o chefe, que só pensa em si mesmo.

“Daquela noite em diante, senti-me oprimido e assustado pela imagem de um pássaro que parecia ter o poder de, a qualquer momento, se materializar no céu em volta de mim. Eu nunca o vi como uma figura robusta e clara como os outros pássaros que voavam sobre a City; para mim, ele sempre aparecia como um fantasma, mais sentido que avistado. Era algo que eu possuía e de que não conseguia me livrar; em meus inumeráveis esforços para me livrar dele, ficou claro que aquela criaturas desejava se tornar parte de mim. Pensei repetidas vezes no pequeno pássaro encolhido no ombro do poeta; na velha senhora que saíra carregada da cabine telefônica; e nas centenas que haviam encontrado suas mortes ao tentar acabar com as aves. Ao me lembrar desses casos, não tentei afastá-lo de mim. Eu nem poderia, não ousava enfrenta-lo. O pensamento de encontra-lo face a face me enchia de terror. Tentei desesperadamente não leva-lo em consideração. O sentimento pesado de temor e angústia, com o qual a sua presença me dominava era aterrorizador. Eu não conseguia dormir em um quarto com janelas abertas, pois tinha medo de acordar e encontra-lo voando pelo quarto na escuridão ou, pior ainda, pousado em meu peito, olhando para mim com seus olhos cruéis e penetrantes.”

Esse livro em alguns momentos é bem enrolado e chato, se perdendo mais uma vez em descrições e reflexões sem sentido. Mas a leitura flui porque pelo menos não tentaram complicar demais a linguagem.

Certamente você vê a influência da obra no filme de Hitchcock.

Agora, enquanto escrevia esse post acabei finalmente encontrando o curto conto de Daphne du Maurier. Tirei minha habilidade de ler em inglês do arquivo e já completei a experiência de uma vez:

The Birds And Other Stories – Daphne du Maurier

the birds“Nat had no time to answer. He was raking the bodies from the chimney, clawing them out onto the floor. The flames still roared, and the danger of the chimney catching fire was one he had to take. The flames would send away the living birds from the chimney top. The lower joint was the difficulty, though. This was choked with the smoldering helpless bodies of the birds caught by fire. He scarcely heeded the attack on the windows and the door: let them beat their wings, break their beaks, lose their lives, in the attempt to force an entry into his home. They would not break in. He thanked God he had one of the old cottages, with small windows, stout walls. Not like the new council houses. Heaven help them up the lane, in the new council houses”

Daphne du Maurier

 

O conto é bem curto. Não passa de 40 páginas.

Em alguns momentos lembra mais o filme, porque mostra uma família fugindo do ataque de pássaros e tentando se salvar em sua casa. O filme do Hitchcock também segue essa linha, embora a história também não seja a mesma.

Nesse conto há várias espécies de pássaros e alguns morrem após atacar os humanos. Não há nada de moralismo ou de filosofia nessa historinha.

O final é bem mais amargo e mostra mais um comportamento de uma família em tempos de tragédia.

Recomendo tudo, porque essa história, contada de diversas formas e meios é muito interessante. Só serviu para reforçar o quanto esse clássico é bom.

Vamos ao próximo livro: Vertigo – Um Corpo que Cai.

FDL

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