“ Em ordem cronológica, meus cinco términos de namoro mais memoráveis de todos os tempos, aqueles que eu levaria pra uma ilha deserta:
...
Esses foram os que doeram de verdade. Tá vendo seu nome aí no meio, Laura? Acho que, raspando, até entrava nos dez mais, mas entre os top five não tem lugar para você; essa lista está reservada para aquele tipo de humilhação e desgosto que você simplesmente não é capaz de causar. Isso provavelmente soou mais cruel do que eu pretendia, mas...”
Nick Hornby
Existem livros que simplesmente você tem que ler. Esse daí ia passando por mim de todos os jeitos e eu nunca pegava. Dessa vez coloquei ele na frente da fila e li porque estava sentindo que seria uma boa. Acertei na mosca.
Vou começar falando do autor, sobre quem fui pesquisar apenas ao fim da leitura e fiquei muito surpreso. Ele também escreveu “Um Grande Garoto”, que, tal qual “Alta Fidelidade”, rendeu um filme e, no caso do primeiro, um seriado.
Além disso, Nick Hornby escreve nas versões para cinema de seus filmes e também escreveu o excelente filme do ano passado, Brooklyn.
“Alta Fidelidade” é muito bom de ler. Em dias você termina. O protagonista Rob é um chato: melancólico, egoísta, inseguro, musicalmente elitista, impaciente e obcecado. Mas é muito bom conhecer o que ele tem pra falar e a gente acaba gostando dele e torcendo para que ele consiga superar seus problemas.
Rob é um homem de 30 e poucos anos que largou a faculdade e é dono de uma loja de discos (a história se passa no meio dos anos 90). Esse cara é obcecado por músicas e por top 5. Para tudo Rob tem um top 5 diferente, como músicas após acabar namoros, músicas de velório, filmes legendados e muitos outros.
Ele tem um namoro de alguns anos com Laura, que resolve deixa-lo com o doloroso argumento de que ele não muda, não tem vontade de melhorar a vida. Deprimido e revoltado, Rob faz um top 5 com os términos mais dolorosos da sua vida (fazendo questão de não incluir Laura) e vai atrás de cada uma das mulheres para investigar o que ele tem de errado para sempre ser rejeitado.
Durante toda a história Rob faz muitos comentários e observações sobre relacionamentos e sobre a vida de modo geral, que são muito bons e você se pega concordando com pensamentos bem incorretos.
Vai um exemplo sobre a morte do pai da ex-namorada:
“Eu sabia que o Ken gostava de mim, mas nunca consegui descobrir muito por quê, exceto por aquela vez em que ele estava atrás da gravação de My Fair Lady com o elenco do musical original em Londres e eu achei o disco numa feira e mandei para ele. Estão vendo o que se pode conseguir com atos de bondade gratuitos? Ir para numa porra de um funeral, é isso o que se consegue.
‘Você quer que eu vá?’
‘Não me importo. Desde que você não espere ficar de mão dada comigo’”.
Os coadjuvantes também são muito bons, por exemplo os dois caras que trabalham na loja de discos de Rob e são nerds típicos.
O final do livro é bem legal, mostra maturidade e que homens e mulheres precisam passar por diversas adversidades para atingir o autoconhecimento.
Claro que muito desse livro me chamou a curiosidade porque eu já tinha visto o filme no meio dos anos 2000. Eu lembrava pouco da história, apenas que tinha gostado bastante e que tinha curtido o elenco.
Para o combo ficar completo eu precisava rever o filme.
Eis.
Filme: Alta Fidelidade (High Fidelity)
Nota: 9
Elenco: John Cusack, Iben Hjejle, Jack Black, Catherine Zeta-Jones, Joan Cusack, Tim Robbins, Lili Taylor, Sara Gilbert
Ano: 2000
Direção: Stephen Frears
Esse diretor é bem conceituado. Esse ano mesmo vi com ele o Florence Foster Jenkins. Mas ele fez um dos meus preferidos de todos os tempos: Ligações Perigosas.
John Cusack estava no auge dele quando desse filme. Já vi pessoas dizendo que não gostaram muito, mas é que tem aquele estilo britânico e é esquisito mesmo.
Há algumas cenas meio estranhas, principalmente a inicial, que é teatral e caricata demais. Acaba dando a impressão de que o filme será ruim, mas ao contrário, ele só melhora.
Quando eu li a cena da personagem Charlie, eu ficava imaginando como era. Não quis relembrar quem interpretava quem, apesar de lembrar dos mais óbvios mesmo, como o John Cusack de Rob e o Jack Black de Barry.
Enfim, a Charlie, feita pela Catherine Zeta-Jones estava excelente, ficou no ponto da descrição feita no livro, dos hábitos irritantes, dos trejeitos manipuladores e etc. É perfeita a sensação de reencontrar alguém que esteve por muito tempo na sua vida e você idealizava, até relembrar os defeitos.
Há algumas mudanças inúteis na história, como a alteração em uma das ex-namoradas do top 5, que ficou bem sem sentido. Óbvio que foi para condensar a história, mas parte do trabalho criativo é superar essas adversidades elevando a história, não diminuindo. Por isso não é perfeito.
Mas o filme ganha por poder utilizar as ferramentas audiovisuais a seu favor e não perdeu a chance de fazer isso. Eu ri com a cena em que Rob descobre que Laura não tinha transado com o Ian. Quando ele sai na rua toca “We Are The Champions”. É bem a essência irônica da história de Nick Hornby.
A trilha sonora de Alta Fidelidade também é muito boa. Até as músicas creditadas, que nem lembro em quais cenas do filme aparecem são boas.
Mas destaco uma:
Essa música toca na loja de discos. Muito boa a cena aliás.
Mas a melhor mesmo é quando toca “Most Of The Time” do Bob Dylan
Essa é a melhor cena do filme. Nessa o Rob tem compreensão sobre ele mesmo.
Só mais uma música. A dos créditos finais, para coroar.
Enfim. Recomendo tudo: livro, filme, fica aí a sugestão para uma nova série, já que fazem série de tudo mesmo.
FDL
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