sábado, 25 de fevereiro de 2017

Contágio Criminoso – Patricia Cornwell

contágio criminoso“Saiam", disse, sem me preocupar em ser gentil. "Vocês estão na minha vaga." Eles não deram importância às minhas palavras e alguém acendeu o refletor. Por um momento permaneci sentada, olhando para fora, sentindo a raiva me queimar como brasa. A repórter bloqueava minha porta e enfiou o microfone pela fresta na janela.

"Doutora Scarpetta, pode confirmar que o Açougueiro atacou outra vez?", ela perguntou em voz alta, enquanto a câmera registrava tudo e as luzes me cegavam. "Tirem a perua de vocês daí", falei com raiva contida, olhando diretamente para ela e para a câmera.

"É verdade que outro torso foi encontrado?" A chuva escorria pelo capuz de sua capa, enquanto ela empurrava o microfone mais para dentro. "Vou pedir pela última vez que retirem o carro de vocês da minha vaga", falei, como se fosse um juiz a ponto de decretar desrespeito à corte. "Isso é invasão." O câmera achou um novo ângulo, acionou o zoom e o iluminador aproximou a luz dos meus olhos.

"O corpo foi desmembrado, como os outros...?" Ela tirou o microfone bem a tempo, quando subi o vidro da janela. Engatei a ré e comecei a recuar o carro. A equipe saiu do caminho enquanto eu dava uma volta de trezentos e sessenta graus. Os pneus cantaram e espirraram água quando parei bem atrás da perua, prendendo-a entre meu Mercedes e a parede do prédio. "Espere um pouco!" "Ei! Você não pode fazer isso!" Os rostos traíam incredulidade, quando desci. Não me dei ao trabalho de pegar o guarda-chuva. Corri para a porta e a destranquei para entrar. "Ei!" Os protestos exacerbaram-se. "Assim não podemos sair." Dentro da garagem a água acumulada na imensa perua castanha pingava no piso de concreto. Abri outra porta e atravessei o corredor, olhando em torno para ver quem estava por ali. Os ladrilhos brancos permaneciam imaculados, o ar impregnado pelo cheiro de desodorante industrial. Entrei no escritório do necrotério e a imensa porta de aço inoxidável do compartimento refrigerado se abriu sibilando.”

Patricia Cornwell

Ler os livros da Patricia estão sendo praticamente como acompanhar aquelas séries procedurais, com o caso da semana e uma história maior que dura a temporada envolvendo o personagem principal. A diferença é que leio dois livros por ano.

Contágio Criminoso é o 8º livro da série da legista Kay Scarpetta. As histórias, como disse acima, são relativamente independentes, mas há resgate de assuntos do passado.

Nesse suspense, Kay investiga uma série de assassinatos relacionados que ocorrem tanto nos EUA como na Inglaterra. A aparição de um novo caso, mais grave e a possibilidade de o assassino utilizar os corpos para disseminar uma forte versão da varíola como terrorismo biológico fazem com que a médica se envolva tanto profissional quanto pessoalmente no caso.

Contágio Criminoso resgata também de forma superficial um caso antigo relacionado à sobrinha de Kay, Lucy. Acredito que o desfecho disso ocorra no próximo livro.

Além disso, Kay resgata uma história antiga, sobre a morte de seu namorado, ocorrida no livro Desumano e Degradante.

O livro é bom, mas de longe é o mais fraco da escritora, que nessa altura da sua carreira, pareceu cair em uma fórmula preguiçosa, que envolve perseguição machista de colegas profissionais, morte de assistentes do laboratório e uma vida amorosa complicada sem motivos aparentes.

Acredito que nos próximos livros a coisa esquente mais com casos mais complexos. Gosto muito da ótica de trazer a modernidade a esses livros. Principalmente por lê-los com vários anos de distância e saber como as coisas funcionam atualmente.

Continua sendo uma excelente opção de leitura para mim e logo leio o próximo: Foco Inicial.

FDL

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