“Acordei sufocada e arrepiada com aquele horror e a escuridão feito um punho se fechando à minha volta.
Quis gritar. O pânico se avolumou dentro de mim como um vulcão, pressionando as camadas da garganta fechada e dos dentes cerrados. Então pensei, uma espécie de delírio, e se eu gritasse, o que de pior poderia acontecer? Alguém ouviria? Que ouçam. Que ouçam, e talvez venham me tirar daqui.
Então liberei, soltei o grito que crescia dentro de mim, crescia e inchava e pressionava para sair.
E gritei e gritei e gritei.
Não sei quanto tempo fiquei ali tremendo, apertando o travesseiro fino, as unhas escavando o colchão descoberto.
Só sei que veio o silêncio na pequena cabine, exceto pelo ronco baixo do motor e a minha respiração, rascante na garganta irritada, ardida e rouca.
Ninguém apareceu.
Ninguém bateu na porta perguntando o que estava acontecendo, nem ameaçou me matar se eu não calasse a boca. Ninguém fez nada. Eu podia muito bem estar no espaço sideral, berrando para um vácuo sem som.
Minhas mãos tremiam e eu não conseguia tirar a jovem do sonho da minha cabeça, a ideia daquela forma molhada, em carne viva, engatinhando para perto de mim, agarrando, carente.
O que foi que eu fiz? Oh, Deus, por que tinha feito isso, insistido, me recusando a calar a boca? Eu mesma tinha me transformado em um alvo, com minha recusa de silenciar sobre o que havia acontecido naquela cabine. No entanto... no entanto, o que havia acontecido realmente?”
Ruth Ware
Eu já tinha comprado um livro dessa mesma autora no ano passado, chamado Em Um Bosque Muito Escuro, mas quando li a sinopse desse livro, eu acabei me interessando bastante e comprei, lendo logo quando chegou.
A sinopse oficial da livraria:
“Há um assassino a bordo do Aurora Boreal.
Mas como detê-lo quando ninguém acredita em sua existência?
Lo Blacklock, jornalista de uma revista de turismo, é vítima de uma invasão domiciliar. Embora tenha saído praticamente ilesa da ocorrência, ela agora tem dificuldades para dormir e vive à base de ansiolíticos. Nesta fase conturbada de sua vida, Lo recebe um convite da revista em que trabalha para cobrir a viagem inaugural de um luxuoso navio, o Aurora Boreal. Uma ótima oportunidade para ser promovida e, quem sabe, se recuperar do choque sofrido.
O cenário no interior do Aurora é fascinante: cabines luxuosas, jantares esplêndidos e convidados elegantes. No meio de uma noite, no entanto, Lo acorda com um grito, corre para a janela e vê o que lhe parece um corpo sendo jogado ao mar da cabine vizinha à sua. Mas os registros mostram que ninguém se hospedara ao seu lado e que não falta ninguém da lista de passageiros.
Lo se recusa a duvidar de seus próprios instintos e começa uma investigação para encontrar qualquer prova de que foi testemunha de um assassinato. Exausta, abalada emocionalmente e desacreditada por todos os passageiros, que seguem viagem como se nada tivesse acontecido, ela precisa encarar a possibilidade de que talvez tenha cometido um terrível engano. Ou se convencer de uma vez por todas de que está presa em um navio com um assassino à solta.”
Em um primeiro momento, essa história lembra muito A Dama Oculta, de Ethel Lina White, que inspirou o filme de Alfred Hitchcock. Comentei o livro e o filme no ano passado.
Certamente tem uma inspiração, sobretudo por conta do ambiente claustrofóbico e do fato de não acreditarem na protagonista, colocando sua sanidade à prova. Ocorre que a solução, os motivos e o fechamento da história são bem diferentes.
Ouso dizer que nesse livro o fim foi melhor do que no mais antigo.
Essa história me prendeu de um jeito que eu não conseguia largar esse livro. É o típico thriller que eu gosto, com reviravoltas, dúvidas, mistérios, violência, personagens dúbios e excêntricos, enfim, fiquei muito bem impressionado com essa autora e certamente vou ler o outro livro dela logo.
Sei que há informações sobre um filme no futuro. Espero que seja bom, porque o livro é excelente. Não é por outro motivo que ficou entre os mais vendidos por tanto tempo.
Recomendo forte. Um dos melhores do ano até agora.
FDL
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