segunda-feira, 30 de abril de 2018

How To Get Away With Murder – 4ª Temporada

how-to-get-away-with-murder s4A série continua muito boa e a gente fica tenso com os mistérios querendo assistir. Viola Davis continua excepcional. Mas um enredo tão eletrizante precisa de muitas histórias surpreendentes e fortes. Ocorre que acaba ficando tudo fantasioso demais, até para uma série de onde já esperamos isso.

A qualidade tem decaído a cada temporada e não sei aonde essa série vai. Por enquanto continuo tendo vontade de assistir.

A temporada ficou focada na recuperação de Annalise como advogada, por meio de uma ação coletiva que ela abriu. A gravidez de Laurel e sua vingança contra seu pai, com ajuda de seus colegas também movimentou a temporada.

Destaco também o episódio do crossover da série com Scandal, com participação da personagem Olivia Pope. Não assisto a essa série, mas sei que é muito admirada pelo estilo similar ao de How To Get Away With Murder.

Doi dizer que eu acho que essa série devia ser encerrada logo, porque as histórias vão se encerrando. É muita gente morta, muita coisa cercando as mesmas pessoas. Fica complicado. Mas fazer o que se a série vai ficando também interessante?

Vamos lá ver o que acontece no ano que vem.

FDL

domingo, 29 de abril de 2018

Mosaic

mosaicVi a chamada dessa série no começo do ano e acabei reservando. Dizia ter um formato revolucionário, um mistério criminal e ainda a Sharon Stone. A direção dos seis episódios coube a Steven Sorderbergh. Não tinha como perder.

Mas eu acho que perdi alguma coisa. Foi uma das coisas mais chatas que eu assisti nos últimos anos.

O mistério estava claro desde o começo. Os diálogos eram fracos e chatos. Passavam-se minutos de série sem que nada de relevante tanto no enredo como artisticamente acontecesse.

Aquela câmera inquieta que era pra ser moderna só me deixava confuso. Enfim, foi uma tentativa que não deu certo e só terminei de assistir para saber o final. Antes não tivesse feito isso.

A Sharon Stone interpretou bem, claro, mas ela morre no começo! Complicado.

Eu sei que o revolucionário de Mosaic era que no original a série foi vista por um app e quem via escolhia por qual caminho assistir, de forma a chegar no fim do mesmo jeito. Na HBO Go eu acabei vendo uma montagem pronta feita pelo canal. Ainda assim, não faria diferença a ordem dos fatores. Mesmo assim, a ideia foi boa. Em uma história boa pode ser divertido assistir a um suspense assim.

Esperava mais dessa série. Decepcionou. Uma pena.

FDL

sábado, 28 de abril de 2018

Todas as Garotas Desaparecidas – Megan Miranda

todas as garotas desaparecidas“ ‘O que aconteceu naquelas horas com todos vocês?”, os policiais perguntaram. Revelem os seus sergredos, com quem, como e por que, entre as dez da noite e as seis da manhã. Os mesmos policiais que dispersavam nossas festas, mas nos levavam para casa em vez de ligar para nossos pais; que namoravam nossas amigas e bebiam cerveja com nossos pais e irmãos. Mas aqueles segredos, os policiais não guardariam. Nem no bar, nem na cama, nem nesta cidade.

Quando a equipe da polícia estadual chegou para ajudar, era tarde demais. Já tínhamos definido nossas teorias, já acreditávamos no que precisávamos acreditar.

A linha oficial de investigação: a última vez que Corinne existiu para todos que a conheceram foi pouco depois da entrada no parque de diversões, e de lá ela desapareceu.

Mas, na verdade, não. Havia mais coisa além disso. Uma peça de cada um de nós que mantivemos escondida.

Para Daniel, ela desapareceu do lado de fora do parque, atrás da bilheteria.

Para Jackson, no estacionamento das cavernas.

E, para mim, ela sumiu em uma curva da estrada sinuosa, no caminho de volta para Cooley Ridge.

Éramos uma cidade cheia de medo, em busca de respostas. Mas também éramos uma cidade cheia de mentirosos.”

Megan Miranda

Terminando o mês de abril, continuo com os thrillers. Todas as Garotas Desaparecidas certamente não foi o melhor do ano. Também não foi ruim.

Na história, uma mulher de 28 anos chamada Nicollete volta à sua pequena cidade natal para tratar da venda de sua casa de infância. Para isso, precisa tratar de assuntos que preferia fingir ignorar quando foi embora: a doença mental de seu pai, a relação ruim com seu irmão depois da morte de sua mãe e, acima de tudo, o desaparecimento de Corinne, sua melhor amiga, 10 anos antes.

O problema é que com sua volta novas histórias em uma cidade fofoqueira parecem surgir. Do mesmo modo, novas suspeitas e também um novo desaparecimento.

O que tem de mais diferente nesse livro é a forma de contar. Ele é narrado de trás para frente de forma diferente. Seleciona-se uma parte da história e volta-se no tempo. Para quem assistiu a séries como Damages e How To Get Away With Murder, é exatamente essa linguagem. Nunca tinha visto em romances de suspense.

O desfecho da história e a forma de sustentar o suspense é que não foram das melhores. A protagonista não é daquelas por quem nós acabamos nos apegando muito e, se a história é contada assim, obviamente que partes importantes de clímax são contadas no final. Por isso, pensando na lógica, não faz sentido a apatia da personagem nos dias finais, que foram as páginas iniciais do livro.

Ainda assim foi uma boa experiência e mesmo não sendo o melhor livro do mundo eu recomendo.

Destaco também o trecho epigrafado na página de introdução da terceira parte do livro. Tirei foto. Gostei da frase.

todas as garotas trecho

FDL

domingo, 22 de abril de 2018

Tinha Que Ser Ele

tinha que ser eleFilme: Tinha Que Ser Ele (Why Him?)
Nota? 7
Elenco: James Franco, Bryan Cranston, Megan Mullally
Ano: 2016
Direção: John Hamburg

Comédias não andam fáceis de encontrar por aí. Gosto do trabalho do James Franco como ator e o trailer me chamou a atenção.

“Ned (Bryan Cranston) leva a família inteira para visitar a querida filha Stephanie (Zoey Deutch) durante o feriado do Natal, mas ao encontrá-la entra em conflito com o namorado dela (James Franco), um rapaz excêntrico que ficou rico por causa da internet.”

Esse filme não passa de uma versão mais adulta de Entrando Numa Fria, mas no final acaba divertindo com algumas cenas absurdas e atores que sabem ser engraçados.

Acho difícil que eu acabe me lembrando desse filme no futuro, mas não foi tempo perdido. Se nem eles mesmos se levam a sério, por que eu levaria?

Recomendo para um dia de risada despretensiosa.

FDL

sábado, 21 de abril de 2018

Foco Inicial – Patricia Cornwell

foco inicial“Peguei a pistola Glock nove milímetros na gaveta do escritório e examinei todos os cômodos, em todos os pisos. Entrei em cada um deles com a pistola firmemente apontada, segurando-a com as duas mãos, enquanto o coração batia forte. Carrie Grethen tornara-se para mim um monstro dotado de poderes sobrenaturais. Comecei a imaginar que ela seria capaz de driblar qualquer sistema de segurança e surgir das trevas assim que eu me sentisse segura e baixasse a guarda. Nos dois pavimentos de minha casa de pedra não havia sinal de presença humana, exceto a minha. Levei um cálice de borgonha tinto para o quarto e vesti o robe. Telefonei para Wesley e senti um arrepio de medo quando ninguém atendeu. Tentei novamente, por volta da meia-noite, e mesmo assim não consegui falar com ele.

"Meu Deus", falei em voz alta, sozinha no quarto. A luz suave do abajur formava sombras de cômodas e mesas antigas lixadas até recuperarem o cinzento do carvalho antigo, pois eu apreciava as ranhuras e marcas de uso formadas ao longo do tempo. As cortinas em rosa pastel balançavam, agitadas pelo ar que saía dos orifícios de ventilação. Meu descontrole emocional crescia com qualquer movimento, mesmo eu sabendo racionalmente sua causa A cada momento que passava, o medo ampliava o controle sobre minha mente, por mais que eu tentasse sufocar as imagens de um passado que compartilhava com Carrie Grethen. Ansiava pelo telefonema de Benton. Tentava me convencer de que estava tudo bem e eu só precisava dormir. Li alguns poemas de Seamus Heaney e cochilei no meio de The Spoonbait. O telefone tocou às 2h20 da madrugada, e meu livro caiu no chão. "Scarpetta", resmunguei ao aparelho, enquanto meu coração disparava como sempre ocorria quando me acordavam de supetão. "Sou eu, Kay", disse Benton. "Desculpe eu ligar tão tarde, mas achei que você poderia ter tentado falar comigo. A secretária eletrônica parou de funcionar por algum motivo, e eu saí para comer alguma coisa e depois caminhei na praia por mais de duas horas. Precisava pensar um pouco. Calculo que você já saiba da novidade."

"Sim." Eu já estava completamente desperta.”

Patricia Cornwell

Quem diria que já estou no nono livro da Dra. Kay Scarpetta? Bom, infelizmente esse foi até agora o pior da série.

Kay envolve-se na investigação da morte de vítimas assassinadas em misteriosos incêndios e o caso parece cada vez mais se aproximar de Carrie Grethen, psicopata inimiga sua e de sua sobrinha Lucy, que em livros anteriores já matou muita gente e está internada em uma clínica psiquiátrica.

Foco Inicial trata da investigação dos incêndios e também da caçada a Carrie, mas também tem um grande impacto na vida da própria legista, que precisará ser forte para suportar efeitos que os crimes perigosos causam na sua intimidade.

O livro tem passagens que eu sinto já ter lido antes, além de muitos trechos técnicos sem sentido. Faltou um pouco de substância nessa história, que me pareceu aquilo que muita gente chama de suspense burocrático.

Pelo que eu vi por aí, os fãs da escritora também não consideram ser esse seu melhor trabalho. Bola para frente, não vivemos apenas de trabalhos grandiosos.

Que os próximos livros sejam bons ao ponto de recuperar o prestígio que essa autora tem. Espero um dia alcançar essa quantidade insana de livros publicados por Patricia Cornwell.

FDL

sexta-feira, 20 de abril de 2018

Series Finale: Love – 3ªTemporada

love s3Essa série tão divertida, que me visita um final de semana por ano há três anos, tem presença intensa e vai embora, acabou. Uma pena. Mas séries boas são assim mesmo, sabem a hora de acabar.

A temporada final da série mostra Gus e Mickey se adaptando a uma vida de casal, coisa que não souberam fazer com seus estilos de vida anteriores. Há o episódio da viagem com amigos, do reencontro com a ex, de conhecer a família dele, de apoio de ambos ao trabalho e, por fim, a decisão madura para o futuro.

A série é deliciosa de ver. Porque além de ter um humor adulto e inteligente, fala de relacionamentos de forma real, sem muita romantização, embora ainda seja uma obra de ficção. Além disso, a comédia é agradável e muitas vezes desconfortável no ponto certo.

Os coadjuvantes mais uma vez estavam excelentes. Quero destacar a história da personagem Bertie, que esteve muito apagada na série, mas teve de lidar com aquilo que todo mundo já passou na vida: sair de um relacionamento empacado, mas ter dificuldades para não ferir sentimentos, embora um novo amor já tenha surgido.

Tenho que mencionar novamente a trilha sonora dessa série, que é caprichada. No final do 4º episódio teve uma música que eu gostei muito. Eels – I Like The Way This Is Going. A melodia é muito bonita e a letra retrata muito bem aquela fase dos relacionamentos que Mickey e Gus estão. Segue o vídeo.

Vai fazer falta. Mas do ponto que estava, seriam criados conflitos desnecessários somente para a série continuar no ar. Gostei muito de como a história foi construída e mais um ponto para Judd Apatow, que vem acertando, com Girls, Descompensada e outros.

Recomendo muito essa série que a Netflix nem promove tanto.

FDL

domingo, 15 de abril de 2018

A Mulher Na Cabine 10 – Ruth Ware

a mulher na cabine 10“Acordei sufocada e arrepiada com aquele horror e a escuridão feito um punho se fechando à minha volta.

Quis gritar. O pânico se avolumou dentro de mim como um vulcão, pressionando as camadas da garganta fechada e dos dentes cerrados. Então pensei, uma espécie de delírio, e se eu gritasse, o que de pior poderia acontecer? Alguém ouviria? Que ouçam. Que ouçam, e talvez venham me tirar daqui.

Então liberei, soltei o grito que crescia dentro de mim, crescia e inchava e pressionava para sair.

E gritei e gritei e gritei.

Não sei quanto tempo fiquei ali tremendo, apertando o travesseiro fino, as unhas escavando o colchão descoberto.

Só sei que veio o silêncio na pequena cabine, exceto pelo ronco baixo do motor e a minha respiração, rascante na garganta irritada, ardida e rouca.

Ninguém apareceu.

Ninguém bateu na porta perguntando o que estava acontecendo, nem ameaçou me matar se eu não calasse a boca. Ninguém fez nada. Eu podia muito bem estar no espaço sideral, berrando para um vácuo sem som.

Minhas mãos tremiam e eu não conseguia tirar a jovem do sonho da minha cabeça, a ideia daquela forma molhada, em carne viva, engatinhando para perto de mim, agarrando, carente.

O que foi que eu fiz? Oh, Deus, por que tinha feito isso, insistido, me recusando a calar a boca? Eu mesma tinha me transformado em um alvo, com minha recusa de silenciar sobre o que havia acontecido naquela cabine. No entanto... no entanto, o que havia acontecido realmente?”

Ruth Ware

Eu já tinha comprado um livro dessa mesma autora no ano passado, chamado Em Um Bosque Muito Escuro, mas quando li a sinopse desse livro, eu acabei me interessando bastante e comprei, lendo logo quando chegou.

A sinopse oficial da livraria:

“Há um assassino a bordo do Aurora Boreal.

Mas como detê-lo quando ninguém acredita em sua existência?

Lo Blacklock, jornalista de uma revista de turismo, é vítima de uma invasão domiciliar. Embora tenha saído praticamente ilesa da ocorrência, ela agora tem dificuldades para dormir e vive à base de ansiolíticos. Nesta fase conturbada de sua vida, Lo recebe um convite da revista em que trabalha para cobrir a viagem inaugural de um luxuoso navio, o Aurora Boreal. Uma ótima oportunidade para ser promovida e, quem sabe, se recuperar do choque sofrido.

O cenário no interior do Aurora é fascinante: cabines luxuosas, jantares esplêndidos e convidados elegantes. No meio de uma noite, no entanto, Lo acorda com um grito, corre para a janela e vê o que lhe parece um corpo sendo jogado ao mar da cabine vizinha à sua. Mas os registros mostram que ninguém se hospedara ao seu lado e que não falta ninguém da lista de passageiros.

Lo se recusa a duvidar de seus próprios instintos e começa uma investigação para encontrar qualquer prova de que foi testemunha de um assassinato. Exausta, abalada emocionalmente e desacreditada por todos os passageiros, que seguem viagem como se nada tivesse acontecido, ela precisa encarar a possibilidade de que talvez tenha cometido um terrível engano. Ou se convencer de uma vez por todas de que está presa em um navio com um assassino à solta.”

Em um primeiro momento, essa história lembra muito A Dama Oculta, de Ethel Lina White, que inspirou o filme de Alfred Hitchcock. Comentei o livro e o filme no ano passado.

Certamente tem uma inspiração, sobretudo por conta do ambiente claustrofóbico e do fato de não acreditarem na protagonista, colocando sua sanidade à prova. Ocorre que a solução, os motivos e o fechamento da história são bem diferentes.

Ouso dizer que nesse livro o fim foi melhor do que no mais antigo.

Essa história me prendeu de um jeito que eu não conseguia largar esse livro. É o típico thriller que eu gosto, com reviravoltas, dúvidas, mistérios, violência, personagens dúbios e excêntricos, enfim, fiquei muito bem impressionado com essa autora e certamente vou ler o outro livro dela logo.

Sei que há informações sobre um filme no futuro. Espero que seja bom, porque o livro é excelente. Não é por outro motivo que ficou entre os mais vendidos por tanto tempo.

Recomendo forte. Um dos melhores do ano até agora.

FDL

quinta-feira, 12 de abril de 2018

Na Natureza Selvagem – Jon Krakauer

na natureza selvagem“Coisa muito parecida poderia ser dita de McCandless durante os meses que passou ao lado do rio Sushana.

Seria fácil estereotipar Christopher McCandless como mais um garoto com sensibilidade demais, um jovem maluco que lia livros em demasia e não tinha um núnimo de bom senso. Mas o estereótipo não se encaixa. McCandless não era um indolente incapaz, perdido e confuso, torturado por desespero existencial. Ao contrário: sua vida estava cheia de significados e propósitos. Mas o significado que ele tirava da existência estava longe do caminho confortável: ele não confiava no valor das coisas que vêm facilmente. Exigia muito de si mesmo mais, no final, do que podia dar.”

Jon Krakauer

Para o desafio de leitura, o livro do mês de abril foi esse. É bem curto e foi lido rapidamente. Gostaria de ter me interessado mais.

A linguagem é jornalística e Jon Krakauer busca compreender toda a trajetória do jovem Christopher McCandless, que acabou morrendo por não sobreviver à natureza que resolveu enfrentar no frio do Alaska.

A história é interessante porque mostra um homem que não sabemos se tinha problemas psicológicos ou se realmente cansou da sociedade superficial que vivemos. De todo modo, não estava pronto para a vida selvagem e acabou sucumbindo.

O problema da leitura é que o autor não conseguiu tantos dados assim. Por isso, em vários momentos, um livro de apenas 200 páginas fica cansativo com descrições de paisagens ou outras coisas que realmente não interessam.

Não dá pra dizer que o livro é ruim, longe disso. Talvez eu tivesse esperando mais dele, de tanto que me foi prometido. De todo modo, serviu para conhecer a história de Christopher, que além de trágica, tem sua beleza e seu valor único.

Há um filme sobre esse livro. Quem sabe no futuro eu assista?

De todo modo, recomendo a leitura e nessas partes mais chatas, só ler mais rápido mesmo.

FDL

segunda-feira, 9 de abril de 2018

A Queda – Albert Camus

camus a queda“Mas, enfim, eu estava do lado certo, isso bastava para a paz de minha consciência. O sentimento do direito, a satisfação de ter razão, a alegria de nos estimarmos a nós próprios são, meu caro senhor, impulsos poderosos para nos manter de pé ou nos fazer avançar. Pelo contrário, privar os homens desses impulsos implica transformá-los em cães raivosos. Quantos crimes cometidos simplesmente porque seu autor não podia suportar o fato de estar errado! Conheci, em outros tempos, um industrial que tinha uma mulher perfeita, admirada por todos e que, no entanto, ele traía. Esse homem ficava literalmente raivoso ao se descobrir culpado, na impossibilidade de receber, ou de passar a si próprio, uma certidão de virtude.

Quanto mais a mulher se mostrava perfeita, mais ele se enraivecia. Finalmente, seu erro se tornou insuportável. Que pensa que fez então? Deixou de enganá-la? Não. Matou-a. Foi desse modo que travei conhecimento com ele.”

Albert Camus

Há alguns anos eu li O Estrangeiro e A Peste e acabei gostando muito da escrita de Camus. Ele é direto, sem muita enrolação e com posições certeiras, com as quais eu concordei várias vezes.

Me deparei com um relançamento interessante da sua obra pela editora Record e acabei adquirindo alguns para a minha coleção, inclusive os que eu já li, pois acho que valem uma releitura no futuro. Acabei pegando A Queda no pacote por conta da sinopse e do conteúdo.

Confesso que não conheço muito bem a obra dele do ponto de vista da crítica literária, com análises mais profundas. Talvez no caso dele valha um aprofundamento. De todo modo, esse livro apesar de ter uma pegada um pouco diferente dos outros dois, é tão bom quanto, senão mais.

Eu acabei lendo agora nas férias, em um dia de passeio por agradáveis praias e o resultado foi que acabei terminando inteiro em um dia só. Como é uma obra de reflexões, várias delas me atingiram em cheio e meu livrinho acabou ficando cheio de marcações. A da epígrafe foi minha preferida. Mas deixo mais uma aqui para mostrar que esse negocinho é invocado.

“Sobretudo, não acredite em seus amigos, quando lhe pedirem que seja sincero com eles.

Só anseiam que alguém os mantenha no bom conceito que fazem de si próprios, ao lhes fornecer uma certeza suplementar, que extrairão de sua promessa de sinceridade. Como poderia a sinceridade ser uma condição da amizade? O gosto pela verdade a qualquer preço é uma paixão que nada poupa e a que nada resiste. É um vício, às vezes um conforto, ou um egoísmo.

Portanto, se o senhor se encontrar neste caso, não hesite: prometa ser verdadeiro e minta o melhor que puder. Atenderá ao profundo desejo deles e provará duplamente sua afeição.

Tanto isso é verdade que raramente nos abrimos com quem é melhor do que nós. De preferência, fugimos a esse convívio. Na maioria das vezes, pelo contrário, confessamo-nos aos que se parecem conosco e que partilham de nossas fraquezas. Não desejamos, pois, nos corrigir; nem melhorar: seria preciso, antes de tudo, que fôssemos julgados fracos. Apenas desejamos ser lastimados e encorajados em nosso caminho.”

A Queda tem um pouquinho de história. Trata-se de um famoso advogado francês que parece ter vivido o auge de sua profissão, mas passou por algum momento que fez mudar sua postura. Agora vive em Amsterdã nos bares conversando e refletindo sobre a profissão e a vida.

Nesse livro ele conversa não se sabe com quem. Isso ocorre porque os diálogos são suprimidos e não há voz do interlocutor. Há muito assunto relacionado à profissão do advogado, sobretudo em relação à culpa que o ser humano sente. Esse assunto foi tratado em O Estrangeiro. Esse trecho do livro é muito bom:

“Eis o que nenhum homem (exceto os que não vivem, quero dizer, os sábios) consegue suportar. A única defesa está na maldade. As pessoas apressam-se, então, a julgar, para elas próprias não serem julgadas. Que quer? A ideia mais natural para o homem, a que lhe surge ingenuamente, como no fundo de sua natureza, é a ideia de sua inocência. Sob esse aspecto, somos todos como aquele francesinho que, em Buchenwald, teimava em querer apresentar uma reclamação ao escrivão, prisioneiro como ele, que registrava sua chegada. Uma reclamação? O escrivão e seus colegas riam: "Inútil, meu velho. Aqui, não se reclama." "Mas, veja bem, meu senhor", dizia o francesinho, "meu caso é excepcional. Sou inocente!"”

Acredito que não tem jeito, vou ter que comprar essa obra toda e vou acabar lendo mais desse autor, porque esse livro me impressionou muito. Levei na mala de forma despretensiosa e ele me fez um dia que já estava excelente acabar sendo um dos melhores da minha vida.

FDL

domingo, 8 de abril de 2018

A Mulher Na Janela – A. J. Finn

a mulher na janela“A ESCRITURA DE VENDA FOI PUBLICADA ONTEM. Meus novos vizinhos são Alistair e Jane Russell; eles pagaram 3,45 milhões de dólares por sua humilde morada. Segundo o Google, ele é sócio de uma empresa de consultoria de porte médio, inicialmente com sede em Boston. Quanto à mulher, impossível levantar no Google alguma coisa a respeito de uma Jane Russell que não seja a atriz.

É um bairro divertido, esse em que viemos morar.

A residência dos Millers do outro lado da rua (“Ó, vós que por aqui entrais, abandonai toda a esperança”) é uma das cinco casas que posso bisbilhotar das minhas janelas que dão para o sul. A leste, ficam outras duas, que são gêmeas idênticas: ambas com o mesmo cinza na fachada, o mesmo verde-garrafa nas portas, as mesmas cornijas retas nas janelas. São as Gray Sisters. Na da direita (talvez um pouquinho mais escura que a outra), moram Henry e Lisa Wasserman, residentes já antigos. “Faz mais de quatro décadas que estamos aqui”, disse a Sra. Wasserman, orgulhosa, quando nos mudamos. Ela havia batido à nossa porta para dizer “pessoalmente” quanto ela “e o meu Henry” lastimavam a chegada de “mais um bando de yuppies” naquela vizinhança que um dia havia sido uma comunidade de verdade.

Ed só faltou espumar de tanta raiva. Olivia batizou seu coelhinho de pelúcia de Yuppie.

Depois disso nenhum dos dois veio nos procurar para dizer o que quer que fosse, nem mesmo agora que o bando de yuppies se resume apenas à minha pessoa. Pelo visto, também não são simpáticos com seus vizinhos de porta, os moradores da outra Gray Sister. Estes, por coincidência, têm Gray como sobrenome. O pai é sócio de um pequeno escritório especializado em fusões e aquisições, a mãe é viciada em clubes de leitura, e o casal tem duas filhas gêmeas adolescentes. Segundo a página do clube da Sra. Gray na internet, o livro que ela escolheu este mês e que, nesse exato momento, na sala de sua casa, está sendo estudado por oito mulheres de meia-idade é Judas, o obscuro.

Li o livro também, então fico imaginando que estou lá no grupo com elas, mordiscando uma torta de café (nenhuma à vista), bebericando uma taça de vinho (isso para mim é fácil). “O que você achou do Judas, Anna?”, perguntaria Christine Gray, e eu responderia: “Meio obscuro.” Todo mundo acharia graça. Na realidade, todas estão rindo do outro lado da rua. Tento rir com elas. Dou um gole no vinho.

A oeste dos Millers estão os Takedas. O marido é japonês, a esposa é americana e o filho deles é absurdamente lindo. Violoncelista. Nos meses de verão ele estuda com as janelas da sala abertas, do modo como Ed costumava deixar as nossas abertas também. Certa noite, num mês de junho já muito distante, eu e Ed ficamos dançando ao som de uma suíte de Bach, rodopiando na cozinha, minha cabeça no ombro dele, enquanto o garoto tocava do outro lado da rua.

No último verão, sempre que a música do violoncelista vinha me procurar aqui em casa, batendo educadamente na janela e dizendo “Me deixe entrar”, eu não deixava. Não conseguia. Não abri a janela uma única vez. Nunca. Mas podia ouvir o violoncelo suplicar: “Me deixe entrar... Me deixe entrar...”

A.J. Finn

Esse lançamento tinha uma sinopse muito boa e acabei comprando. Levei para a viagem junto com A Mulher Na Cabine 10. Como são parecidos, pensei que escolheria qual dos dois iria ler. Foram tão bons e me instigaram tanto que acabei lendo ambos.

A sinopse que estava no site:

“Anna Fox mora sozinha na bela casa que um dia abrigou sua família feliz. Separada do marido e da filha e sofrendo de uma fobia que a mantém reclusa, ela passa os dias bebendo (muito) vinho, assistindo a filmes antigos, conversando com estranhos na internet e... espionando os vizinhos.

Quando os Russells – pai, mãe e o filho adolescente – se mudam para a casa do outro lado do parque, Anna fica obcecada por aquela família perfeita. Até que certa noite, bisbilhotando através de sua câmera, ela vê na casa deles algo que a deixa aterrorizada e faz seu mundo – e seus segredos chocantes – começar a ruir.

Mas será que o que testemunhou aconteceu mesmo? O que é realidade? O que é imaginação? Existe realmente alguém em perigo? E quem está no controle?”

Não tem como não comparar com A Mulher Na Cabine 10, porque foram lançados praticamente na mesma época e ambos são claustrofóbicos mostrando mulheres brigando com seus nervos testemunhando crimes e sendo desacreditadas.

Mas, por incrível que pareça, são livros distintos. Personagens e situações diferentes, com desfechos e contextos completamente diversos.

Gostei mais da Mulher da Cabine 10, mas esse livro também é muito bom. A personagem principal, Anna, me incomoda em alguns momentos pela ingenuidade ou pela falta de noção. A narração recorre em diversos momentos a recursos de visão turva, tontura, murmúrios desconexos e isso faz com que fique complicado manter a clareza da história, que é contada em primeira pessoa.

Preciso destacar também a excelente lista de filmes antigos de suspense a que é feita referência nesse livro, sobretudo Hitchcock. Nem sabia desse fato e, por coincidência, acabo de sair de um mês acompanhando a obra dele. Há muitos filmes ali que deu vontade de ver.

Há mais de um twist na história e um deles eu realmente não esperava. Algumas respostas me pareceram até óbvias, mas, no geral, o suspense se segura bem.

Ano bom para os livros de suspense. Espero que inspirem bons filmes no futuro, porque a coisa não anda boa.

Recomendo com força.

FDL

terça-feira, 3 de abril de 2018

Discovery ID em Março

Destino Macabro (Dead on Arrival)

destino macabro - dead on arrival

Uma das melhores séries de crime que eu vi no ID até agora. Ela é de 2014 e teve 06 episódios.

O tema é o de pessoas que saem de cidades pequenas no interior e vão para cidades grandes em busca de sonhos, mas acabam caindo em algum tipo de armadilha mortal.

Foram selecionadas histórias interessantes, com depoimentos emocionantes de familiares atingidos pela perda.

O primeiro episódio foi o melhor.  Tratou do caso da atriz Rebecca Schaeffer, que veio de uma cidade pequena no interior para a carreira de atriz em Hollywood. Quando tudo começa a dar certo e ela está conseguindo papéis e testes, um stalker lunático a assassina em casa.

Tem um episódio de um rapaz que vai trabalhar em um bar de rock, mas não deveria ter confiado em seu chefe.

O episódio de uma médica dos anos 90 que foi assassinada grávida foi bem triste. Ela era pesquisadora da AIDS em uma época que todos tinham medo de se envolver com a doença. Mas foi assassinada por um homem que se disfarçava de médico.

Se desde 2014 não houve novas temporadas, acho difícil que venha mais alguma. De todo modo, se aparecer uma continuação, eu vejo. Recomendo esse título.

Som da Morte (Hear no Evil)

som da morte - hear no evil

Som da morte foi exibido na versão original em 2017 e teve 06 episódios na temporada. Não tenho informações de continuação.

Os casos tratados envolvem crimes que tiveram solução graças a gravações feitas por vítimas, testemunhas e até mesmo pelos culpados.

Foram histórias interessantes e, mesmo que em alguns casos tenham colocado umas dramatizações para encher linguiça, valeram assistir.

Destaco o episódio do senhor que era veterano do Exército e teve sua casa invadida algumas vezes. Sua solução foi atrair os ladrões (dois adolescentes da região) para surpreendê-los com tiros, tortura e sofrimento. O problema é que os próprios equipamentos de segurança que ele instalou mostraram que ele ultrapassou em muito a legítima defesa e agiu com muita violência.

Também teve o episódio da mulher que lutou muito pela custódia de sua filha contra seu ex-marido vingativo, até que ele a matou alegando legítima defesa. Ocorre que a vítima havia gravado diversas conversas que comprovavam as ameaças dele e isso fez com que se investigasse e concluído que ele a matou para se livrar dela e ficar com a filha.

Há um caso dos anos 80 em que um homem foi investigado por falsificação de moedas, mas a investigação em seus pertences encontrou diversas gravações em que ele torturava e estuprava mulheres. Assim, descobriu-se que o homem era um perigoso serial killer que cruzava o país e de quem ninguém desconfiava.

Todos os episódios foram bons.

Inspiração Assassina (First Kill)

inspiração assassina - first kill

Esse teve apenas dois episódios exibidos.

O primeiro deles conta o caso do assassino Son of Sam, que já teve outro episódio exibido em documentário pelo mesmo canal. Inspiração Assassina é de 2014, foi exibido antes.

É narrado novamente todo o caso, mas sob a perspectiva dos policiais e também mostrando como o psicológico de David Berkowitz foi evoluindo para que ele assassinasse as pessoas. Também mostrou como ele está hoje.

O outro episódio mostra um homem perturbado pela rejeição, que acabou estuprando e matando mulheres, sem ser pego durante décadas.

Não foi nada demais e tenho certeza de que se não ler o que escrevi por aqui novamente, esqueço que assisti a esses episódios.

Segredos da Minha Morte (Grave Mysteries)

segredos da minha morte - grave mysteries

São 06 episódios.

Trata-se de mortes suspeitas que após investigações da polícia, percebe-se que as vítimas tinham mistérios que causaram suas mortes.

Destaco o caso da transexual Ty, que acabou sendo assassinada pelo namorado adolescente que não queria assumi-la.

Também destaco o caso da jovem Brittany, que desaparece e sua família pensa que ela é uma santa, mas eles não fazem ideia do que seu namorado mais velho a obriga a fazer.

São bons episódios. Mais do mesmo que o ID costuma exibir.

...

Pelo canal A&E tentei ver o caso do Mistério das 11 Garotas, mas simplesmente não deu. Ficou claro que tentaram fazer um documentário de 06 episódios com uma história que não sustentava isso. Era tudo exibido muito desinteressante. Não deu.

Fora isso, nesse mês dei uma diminuída nos documentários de true crime, porque outras coisas apareceram. Tenho temporadas inteiras gravadas. Vamos ver se aparece tempo e disposição.

FDL

segunda-feira, 2 de abril de 2018

Inside Amy Schumer e A Garota Com a Tribal nas Costas

“Em primeiro lugar, quero agradecer às pessoas que me lembraram de que sou mulher. Seus elogios foram formulados com muita precisão, de modo que em nenhum momento fui descrita apenas como “uma pessoa engraçada”, mas sempre como “uma mulher engraçada”. Voces sempre garantiram que eu não me esquecesse dos meus ovários em nenhum momento. Obrigada. Sem tais lembretes constantes, talvez eu simplesmente tivesse esquecido meu útero em um ônibus, mas vocês me fizeram ficar perpetuamente ciente de que sangro uma vez por mês e sei contar piadas!”

Amy Schumer

inside amy schumerJá estava acompanhando a série Inside Amy Schumer há meses. Ia assistindo aos episódios aos poucos, sempre que estava livre e com vontade de dar uma risada.

Mesmo que em alguns momentos ela force e eu não entenda o ponto dela, Amy é engraçada, porque é porra louca, não tá nem aí para ser a gatinha perfeitinha. Tem sua vaidade, mas do jeito que ela é.

Terminei agora a quarta temporada e gostei muito.

A série mescla esquetes com entrevistas na rua, com pessoas específicas e trechos de shows de stans-up dela. Há participações especiais e os temas são recorrentes: sexo, feminismo, relacionamentos, hipocrisia, enfim, a pauta do momento.

Há alguns meses também me deparei com o livro dela por 9,90 em uma promoção. Obviamente meu lado canguinha falou mais alto e eu comprei.

Como é curto e eu estava no ânimo de rir, acabei lendo nessa semana.

a garota com tribalO livro não é necessariamente uma comédia. Amy tenta o tempo inteiro mostrar que a pessoa dela é diferente da que ela assume nos palcos e filmes. Tem passagens de gosto duvidoso e o livro simplesmente não é muito bom.

Ela fala sobre a carreira dela, sobre relacionamentos abusivos que ela teve, sobre a relação com os pais e ela, de fato, é uma pessoa interessante, com uma boa história de vida. Mas talvez eu tenha esperado outra coisa nesse livro.

De todo modo, não fez mal conhecer um pouco mais a vida dela.

Agora, a série dela, se voltar para mais temporadas, com certeza eu vou ver.

FDL

domingo, 1 de abril de 2018

Vende-se Esta Casa

Vende-se Esta CasaFilme: Vende-se Esta Casa (The Open House)
Nota: 4
Elenco: Dylan Minnette
Ano: 2018
Direção: Matt Angel, Suzanne Coote (precisou de 2 diretores pra fazer essa merda?)

Eis que aparece o pior filme do ano. Acho que é bem difícil eu conseguir superar, viu?

E, pior, é original Netflix. Aquela ideia de que provavelmente eles tinham algum critério na seleção de conteúdo próprio e que as chances de qualidade seriam boas caiu por água abaixo.

Não tem o que falar de interpretação, de visão, de final aberto, de nada. Esse filme é ruim e pronto.

“Após a morte do pai, o adolescente Logan Wallace (Dylan Minnette) e sua mãe, Naomi Wallace (Piercey Dalton), se mudam temporariamente para uma casa à venda, buscando superar o trauma familiar. Eles precisam apenas organizar um dia de "portas abertas" para acolher potenciais compradores do imóvel. Depois deste evento, Logan e Naomi começam a perceber presenças estranhas dentro da casa.”

Além das intermináveis cenas das pessoas andando pela casa gigante atrás de alguém, há um maldito de um aquecedor que não para de apagar e uma vizinha doida que não tem sentido algum.

Quem é o assassino? Por quê? Qual a relação com a família? Por que esse drama familiar? Acho que estamos querendo explicações demais. A moda agora é simplesmente acabar com o filme do nada, criando mistérios que não são revelados só porque não há explicação alguma.

Preguiça de filme assim.

Deu raiva.

FDL