Nem sei se comentei sobre essa série aqui no passado, mas logo no começo dela eu resolvi assistir. Suspenses e mistérios britânicos fazem muito meu gosto.
Com isso, acabei assistindo ao primeiro episódio, Hino Nacional. Minha impressão não poderia ter sido pior. Tratava-se de uma situação em que o primeiro ministro britânico tinha de enfrentar uma crise: o sequestro da princesa real.
Para salvá-la, o sequestrador fez uma bizarra exigência: o primeiro ministro deveria fazer sexo com um porco e isso seria filmado e transmitido em cadeia nacional.
O episódio tem toda a questão da ética, de arruinar a vida do homem e o valor da vida da sequestrada, que estaria acima disso tudo.
No final, o político cede à chantagem em uma cena extremamente desconfortável e a princesa é liberta. Também é mostrado o que tudo aquilo faz com a vida dele.
Achei esse episódio forçado e de péssimo gosto. Além disso, não vi utilidade nele, nem em uma reflexão que fosse. Por isso, peguei abuso da série e acabei não vendo mais nada.
Black Mirror é em formato antológico. Cada episódio tem uma história e um elenco diferentes. Situações, tempos, estilos de narrativa, tudo varia. O que há em comum em todos os episódios é o fato de tratar-se de um futuro distópico, em que a evolução das tecnologias da informação muda a forma de viver, interagir e até mesmo a o modo de ser do homem.
Acontece que apesar de ter estreado em 2011, a série somente virou um fenômeno quando foi comprada pela Netflix, que exibiu os episódios antigos e passou a produzir novos. São temporadas curtas. Nas duas primeiras são 3 ou 4 episódios e nas duas atuais são mais 6. Há em torno de 1h de duração.
Mesmo com meu abuso, essa série virou assunto de todo lugar e ouvi algumas reflexões éticas que me fizeram dar mais uma chance na semana passada, afinal, não teria de continuar naquela péssima história do primeiro episódio.
Excelente escolha que eu fiz. Essa foi uma das melhores séries que eu vi nos últimos tempos.
Conforme seguem os episódios, há diversas formas de interação tecnológica e me poupo aqui de escrever sinopses e entrar em pormenores. Só digo que não houve sequer um episódio ruim depois daquele início terrível.
Destaco entre os meus episódios preferidos:
O dos méritos, na primeira temporada, com o ator Daniel Kaluya, que fiz o filme Corra! Recentemente. Além dele, o que parece ser o citado por todos com a frase “Isso é muito Black Mirror!” é o Queda Livre, no qual as pessoas são ranqueadas por estrelas em suas redes sociais e isso domina as relações de forma doentia, fazendo sumir a sinceridade e a verdade.
Esse episódio Queda Livre exponencia os efeitos de redes sociais como Instagram e Snapchat, mas não é só ele. Na quarta temporada o episódio Hang The Dj trata dos relacionamentos criados por algoritmos, mostrando uma distopia do Tinder.
Há episódios que mostram jogos, babás eletrônicas, registros por câmeras, transferência de memórias, backup de cérebro para a morte do corpo, punições psicológicas a criminosos, enfim, discussões éticas, das mais variadas em mundos que se entregam às facilidades da inteligência artificial. Em muitos há a crítica do que pode levar à própria robotização do homem quando dependente dos robôs.
Enfim, recomendo muito essa série.
Depois disso, por coincidência recebi a edição da Dossiê Super de janeiro e a capa dela tinha justamente essa série.
A revista disseca todos os episódios da primeira à terceira temporada. A quarta não rolou porque foi com estreia concomitante.
O mais bizarro é que o trabalho jornalístico foi feito para mostrar que os avanços não estão tão distantes assim do que mostra a série. Em todos eles a Dossiê mostra avanços tecnológicos nas respectivas áreas e os impactos que isso pode causar.
A publicação também assusta, sobretudo quando pensamos na velocidade das mudanças.
Recomendo Black Mirror. Pronto, agora também sou um desses.
FDL
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