Estação Carandiru foi lançado em 1999. Foi um grande sucesso. Ganhou filme do Hector Babenco, prêmio Jabuti e ficou marcado como uma leitura obrigatória da nossa geração.
Eis que em 2012 Drauzio Varella apareceu e mostrou que ainda tinha mais a dizer.
Dessa vez o médico revelou detalhes não só de quando esteve no Carandiru, mas em outros presídios paulistas ao longo de sua carreira. Só que agora o ponto de vista é dos carcereiros, personagens meio esquecidos no outro livro.
Desde o começo Drauzio Varella diz que se aproximou dos funcionários do sistema penitenciário e muitos deles são seus bons amigos. Isso nos dá a falsa impressão de que ele faria uma narração pegando leve com seus colegas, querendo dar uma boa imagem.
Não achei.
Do mesmo modo que ele humanizou os presos, mostrou diversos lados que os seres humanos imersos profissionalmente nesse mundo acabam desenvolvendo.
Há muitas histórias de violência, revolta, injustiça e denúncia. O lado mais cômico que Estação Carandiru tinha ficou diminuído, embora o tragicômico apareça algumas vezes.
Gosto muito da passagem em que o autor comenta ter assistido do alto de um edifício à demolição da Casa de Detenção junto com seus colegas carcereiros. Me ficou uma impressão de que para vários deles o mundo em que viviam foi implodido junto, já que aquele local era um universo em si mesmo.
Como fez antes, o médico analisa a situação dos presos, da situação carcerária, de toda a contradição autodestrutiva que o nosso sistema carcerário e penal coloca em prática. Isso tem muito valor, pois leva informações ao leitor comum que não tem acesso a dados assim.
Achei esse livro excelente. Há várias coisas mais a se dizer sobre ele, mas escreveria por demais aqui. Li em dois dias porque é um livro curto e com as mesmas características anteriores de Drauzio Varella: é direto, conciso e sem muitas digressões. Sua função é fazer um retrato. E muito bem feito.
Reforço que as informações sendo contadas por um médico voluntário fazem a descrição ter mais credibilidade, já que ele não tem necessariamente um lado a defender. E olha que ele fala em partes do livro como esse trabalho influenciou sua vida e seu comportamento.
Recomendo a todos.
FDL
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