quarta-feira, 15 de maio de 2013

Misto Quente – Charles Bukowski

“– Ei, garoto!
– Que foi? – olhei para ele. Era um cara grande, na casa dos vinte, braços peludos e uma tatuagem.
– Pra que porra de lugar você pensa que está indo? – ele me perguntou.
Estava querendo se exibir para sua garota. Ela era gostosa, a cabeleira loira balançando ao vento.
– Comer seu cu, parceiro! – eu falei.
– O quê?
– Eu disse: comer seu cu!
Mostrei o dedo médio”

misto quenteSempre tive vontade de ler um livro do Bukowski, por tudo que já tinha ouvido falar dele, mas, sobretudo por conta do que lhe faz mais famoso: a capacidade narrativa de se fazer sem rodeios, direta, concisa e sem pudores.

Com certeza será um livro do qual eu não vou me esquecer.

É uma obra de ficção com traços autobiográficos. O protagonista, que é visto como um alter ego é Henry Chinaski. Esse mesmo personagem está em várias obras de Charles Bukowski.

Por acidente escolhi esse livro e por uma feliz coincidência, embora não tenha sido o primeiro publicado, em sequência cronológica da história é o primeiro, pois retrata a infância e juventude de Hank.

Muito embora não haja nenhum clímax, você devora o livro em poucos dias, porque pela capacidade do escritor você se interessa por aquela vida. Além disso, o autor explora um tema comum a todos: a sensação de não pertencer.

Henry Chinaski passa sua infância nos EUA entre as guerras, marcado pela crise de 1929. É pobre, tem um pai violento e maníaco, uma mãe omissa e fraca. Sua forma de se fazer respeitado pela comunidade é usando a agressividade e a bebida. Tem origem alemã e usa as ideias nazistas para impor essa fama de durão, embora não acreditasse realmente naquilo nem tivesse lido Mein Kampf, como ele mesmo diz.

É feio, tem feridas horríveis intratáveis no corpo inteiro, motivo de não fazer sucesso com as meninas. Gosta de escrever, mas não gosta de conversar muito sobre escrever. Assim passa os seus dias, com rancor de todos a sua volta.

A sua juventude o encaminha para um homem inteligente, com facilidade de aprender coisas novas sem precisar se dedicar e além de alcoolatra e violento, solitário.

Aliás, a solidão de Chinaski é uma das coisas mais interessantes da história, porque ele quer ser assim. Os amigos o procuram, mas sempre o irritam de algum modo. Por outro lado, quer fazer algo da sua vida que não seja apenas ser mais um no mercado de trabalho. Acho que todos nós somos assim.

Quero ler o restante dos livros dele. Achei muito interessante, sobretudo a sua sinceridade. Não existe média. É um loucão que resolveu escrever.

FDL

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