“A questão é se uma técnica dessas pode realmente tornar um homem bom. A bondade vem de dentro, 6655321. Bondade é algo que se escolhe. Quando um homem não pode escolher, ele deixa de ser homem.”
Anthony Burgess
Chegou a vez do mês de junho no desafio dos livros de 2018. Cruzei o Equador. Consegui!
Sempre tive vontade de ler esse livro, mas a disposição de enfrentar a dificuldade nunca vinha. Só com um desafio assim para eu me permitir conhecer essa obra. E que obra.
Primeiro preciso destacar essa edição que eu tenho aqui, da Editora Aleph. Foi um especial comemorativo dos 50 anos de Laranja Mecânica em 2012, mas ainda dá para comprar nas lojas. Oportunidade única.
O livro tem uma jacket toda laranja e é de capa dura laranja também. O papel é nobre e tem que cuidar muito bem dele, porque faz apenas 03 anos que eu comprei o livro e ele já amarelou um pouco na parte de cima. O papel é lindo, mas pesado e sensível.
Além disso, há material inédito, com textos de apoio do próprio Anthony Burgess, um muito útil glossário para a linguagem nadsat e ilustrações muito bonitas e interessantes, agressivas como o próprio livro.
Para melhorar, no final há algumas páginas do manuscrito do autor, com anotações e até mesmo alguns desenhos malucos.
Só lamento não ter conseguido comprar o especial que vinha com um moleskine de brinde. Nada mais hipster que um moleskine de Laranja Mecânica.
Quanto ao conteúdo, já fazia tempo que eu tinha perdido contato com a obra. Assisti ao filme do Stanley Kubrick quando ainda era adolescente algumas vezes e gostei muito. Mas eu sempre tive predileção pela história do que pela parte cinematográfica do filme. Por isso, sempre fiquei na dívida de ver o livro que inspirou esse clássico do cinema.
Foi bom matar a saudade. O livro é escrito de um jeito muito interessante. No começo é difícil se adaptar com os termos nadsat que Alex usa, mas depois você se acostuma e passa a entender tudo sem precisar consultar o glossário. Mas a narrativa mesmo, que mistura crítica social, deboche e violência, é única. Esse livro é muito bom.
Há algumas diferenças com o que Kubrick apresentou sim. Inclusive, o próprio Burgess comenta algo do tipo em um dos textos de apoio que ficam ao final do livro. Mas a essência é a mesma.
A crítica contra a lavagem cerebral, contra a covardia do cidadão comum que abre mão da sua liberdade por mais conforto e os meios que se usam para atingir objetivos aparentemente nobres é bem clara e incisiva.
Alex é um excelente personagem e por mais que seja um ser humano abjeto, ele é carismático. Só bons escritores conseguem criar figuras assim. E Burgess ainda coloca tudo isso em uma tese sua sobre o ser humano que tem sua essência arrancada.
É um livro considerado cult, difícil, pretensioso. Mas não achei nada disso. A leitura foi paulatina e tranquila. Não tem nada demais e o autor soube utilizar muito bem as sensações que causaria no leitor: desde o nojo à repulsa e a risada.
Um dia relerei esse livro. Parece que mesmo depois de 50 anos esse livro continua se alimentando e Laranja Mecânica, o filme também, ainda é extremamente atual.
FDL
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