“— Atticus — o que exatamente é um admirador de pretos? – perguntei.
Atticus ficou sério.
— Alguém chamou você disso?
— Não, a sra. Dubose disse que você é. Toda tarde ela repete isso. Francis me chamou disso no Natal passado, foi quando ouvi pela primeira vez.
— Foi por isso que brigou com ele? — perguntou Atticus.
— Foi, pai...
— Então, por que está perguntando o que significa?
Tentei explicar que a briga não foi tanto pelo que Francis disse, mas pela maneira como disse.
— Foi como se me chamasse de melequenta ou algo assim.
— Scout — disse papai — admirador de preto é uma dessas expressões sem sentido, como melequenta. É difícil explicar: pessoas ignorantes, sem valor, falam isso quando acham que alguém está pondo os negros acima deles. Passou a ser usada por gente do nosso meio para rotular alguém de uma forma feia e vulgar.
— Mas você não é admirador de preto, é?
— Sou sim. Eu me esforço para gostar de todo mundo... De vez em quando, é muito difícil. Querida, não se importe em ser chamada de algo que as pessoas acham que é insulto. Isso só mostra como essa pessoa é mesquinha, e não a atinge. Então não se deixe abalar pela sra. Dubose. Ela já em problemas demais.”
Harper Lee
Chegamos praticamente no meio d ano para eu achar o que é, provalvemente o melhor livro que li no período. Dificilmente algum vai bater. Mas, claro, fica lançado o desafio.
Acabei lendo esse livro mais por vergonha de não ter tido a oportunidade. Já assisti ao filme O Sol É Para Todos há alguns anos. Tinha ficado muito impressionado com a obra e a leitura tinha que vir, até porque, está em praticamente toda lista de livros obrigatórios que aparecem por aí.
Não é sem motivo. Essa escrita tem uma mágica inexplicável. A forma como Scout nos conta a história de um pequeno período de sua infância é cativante. A inocência da família, impactada pela educação dada por um homem à frente de seu tempo, Atticus, comove aquele que observa a maldade do ser humano em tantas formas, mas com um pai que luta a batalha, mesmo que perdida, para dar um mundo melhor a seus filhos.
Há diversas passagens realmente bonitas nesse livro, mas qualquer diálogo entre Atticus e Scout ou Jem valem por qualquer minuto que você pare para folhear esse livro. Atticus educa as crianças com verdade, sem mentiras, mas com sensibilidade e razão, ensinando os filhos a refletir, não a obedecer, a respeitar, não a temer.
Não há mais o que dizer sobre esse livro, somente que em breve precisarei reler, porque ele é um refúgio em tempos tão sombrios.
Será que “admirador de pretos” é o novo “vitimista” ou “mimimi”? Quem sabe, né?
FDL
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