sexta-feira, 18 de maio de 2018

Cartas Extraordinárias

cartas extraordinárias

Em todo lugar, em todo vídeo, em todo blog, eu via as pessoas indicando esse livro, dizendo que era a maravilha do mundo. Fiquei curioso e outro dia na livraria física (das poucas que ainda não fecharam) eu folheei e percebi do que se tratava e por que o motivo de tanta empolgação.

Comecei a ler em abril de forma paulatina. Todo dia umas 3, 5 cartas, até acabar. Às vezes queria ler mais, porque você se empolga em se intrometer na vida das pessoas assim. Sobretudo porque revela uma prática que não acontece mais. Não há necessidade de escrevermos longos textos a pessoas que temos à disposição sempre pelas redes sociais.

De todo modo, Cartas Extraordinárias mostra todo o tipo de correspondência. Entre reis, presidentes, celebridades, crianças, empresários, cientistas, atores, escritores, enfim... Os assuntos variam também, sejam elogios, críticas, respostas irônicas, receitas de bolo, cartas e respostas de fãs, debates do mundo acadêmico, literário ou do showbusiness, enfim, são 125 interessantes exemplos de ser humano.

Eu marquei minhas 11 preferidas. Não foi fácil.

002: Jack Estripador para George Lusk. O serial killer jamais preso enviou uma carta debochada e o rim de uma das vítimas ao chefe da investigação de seus crimes.

006: Bill Hicks, um humorista de stand up debatendo liberdade de expressão com um sacerdote. Um tapa na cara.

013 (minha preferida): Charles Dickens escreve ao Times após ficar horrorizado com a população assistindo a uma execução em praça pública em Londres.

Essa carta mexeu comigo, porque ela voltou a 1849 para mostrar o espetáculo de punições, que ainda existe, sobretudo com o efeito catártico de ver o outro expiar pelos seus pecados. Vemos nos jornais todos os dias quando um raro crime violento de classe média transforma os personagens em celebridades.

Pior é que hoje em dia não percebemos o angry mob porque a praça pública com as pessoas gritando se chama internet e as imagens ficam difusas, mas só que são muito mais potentes.

Agora, me pergunto, mesmo com mudanças na sociedade o ser humano vibra pela punição do outro, será que isso faz parte da sua natureza? Será que isso impede o colapso da sociedade e controla a nossa própria violência? Não sei, cada vez sei menos.

019: Uma emocionante carta de um ex escravo a seu antigo dono.

058: Carta de Fiódor Dostoiévski a seu irmão relatando seu sofrimento durante o período preso.

065: O cientista Ernst Stuhlinger responde a uma freira por que se gasta tanto dinheiro com viagens espaciais enquanto há crianças passando fome no mundo. É uma declaração de amor à ciência.

097: Mais uma carta relacionada a escravidão. Jarm Logue responde uma carta a uma mulher que era sua proprietária, que lhe cobrava uma dívida. Puta que pariu, que porrada.

105: Charles Bukowski escreve a um jornalista opinando sobre a retirada de livros seus de uma biblioteca sob a alegação de ter conteúdo sádico e fascista. Interessante a visão dele.

112: Uma carta nojenta de Mark Chapman, assassino de John Lennon, já preso, tentando lucrar com seu crime, querendo leiloar um disco assinado pelo cantor, que possuía antes do homicídio.

116: Albert Einstein escreveu para uma menina uma carta respondendo a uma pergunta feita: cientistas rezam? Sua resposta é interessante.

121: Carta de Einstein para Franklin Roosevelt na qual ele alerta para a corrida do enriquecimento de urânio no período entre guerras. O problema é que esse estudo foi base para a criação das bombas atômicas utilizadas em Hiroshima e Nagasaki. Mais tarde Einstein diz que essa carta foi o maior erro de sua vida.

Nem preciso dizer que esse livro é excelente.

É grande e caro, mas vale a pena. Tem uma versão de listas e uma versão de cartas brasileiras. Quero ler em breve ambos.

FDL

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