Desde o ano passado eu fiquei interessado por essa série por vários motivos. Com o retorno de uma temporada depois de décadas, o sucesso dos anos 90 ficou em evidência novamente. Com isso, foram lançados livros e outros materiais, dando destaque a essa obra que foi um grande marco da televisão americana.
Eu não conhecia nada do trabalho do David Lynch. Só sabia da fama de maluco que ele tem e da característica de non sense ou surreal que suas obras possuem. Isso de fato não tem muito a minha cara, mas Twin Peaks tem toda sua história centrada em um assassinato em uma cidade pequena, de mesmo nome da série. Por isso, achei que seria a chance de conhecer melhor. O momento chegou.
A série original teve duas temporadas, a primeira com 08 episódios e a segunda com 22. A recente, que está disponível no Netflix, eu ainda não vi. Quis dar um tempo depois dessa overdose.
Twin Peaks começa com a descoberta do corpo da adolescente Laura Palmer, que foi assassinada e encontrada pelos moradores. Para a investigação, o FBI envia o agente Dale Cooper, que chega à pitoresca cidade e investiga a vida da jovem para descobrir whodunnit. Só que o próprio policial também é bem excêntrico.
Além de todas as qualidades de uma série de investigação, Twin Peaks tem os personagens mais esquisitos que eu já vi. Quando você entende que o ponto da série não é mais descobrir quem matou Laura e sim conhecer aquele local bizarro com pessoas atormentadas por alguma força desconhecida, essa série fica deliciosa.
Entre diversos personagens, os melhores são os da Mulher do Tronco (uma senhora que conversa com um cotoco de tronco de árvore que carrega para cima e para baixo), a Sra. Nadine (depois de uma tentativa frustrada de suicídio, ela fica mais doida ainda e acha que é uma estudante adolescente. Pra piorar, a mulher tem uma força sobre-humana), o policial Andy (é inocente e atrapalhado) e o Dr. Jacoby, o psiquiatra mais maluco que seus pacientes.
Tem que ter atenção nessa série, porque são muitos personagens, muitas histórias paralelas que você descobre depois estarem ligadas. Não digo isso achando que os criadores sabiam no que iria dar, porque conforme descobri depois, não sabiam. Mas até pela improvisação do surrealismo, tudo ia ficando interessante. Não faz sentido, mas é doido.
A segunda temporada revela o assassino de Laura, não que a resposta satisfaça completamente, afinal, nada em Twin Peaks é claro. Depois disso, um novo arco de história surgiu e a série perdeu um pouco de força. Nos EUA isso se refletiu na audiência, cancelando a série.
O episódio final é a coisa mais maluca e viajada do mundo. Esteja de bom humor, abra a cabeça e assista.
Óbvio que muito em breve eu vou ver esse retorno disponibilizado no Brasil pela Netflix.
Mas não ficou por aí. Depois da série, foi lançado um filme, em prequel, nele Laura Palmer teve todo o destaque. Há várias participações interessantes também. Está disponível no momento no Telecine Play.
Filme: Twin Peaks: Os Últimos Dias de Laura Palmer (Twin Peaks: Fire Walk with Me)
Nota: 7
Elenco: David Bowie, Chris Isaak, Kiefer Sutherland, além de diversos da própria série.
Ano: 1992
Direção: David Lynch
Esse filme veio para resumir o que foi falado na série por meio de depoimentos. Além disso, mostra já a ideia dos criadores de que o mistério envolvendo Twin Peaks iria bem além da trama do assassinato de Laura.
O filme é cansativo e exagerado. As cenas de sofrimento, sexo, violência e choro de Laura Palmer são hiperbólicas. Fica cansativo e parece até apelativo. Não tem o ar bizarro que a série trouxe.
As cenas finais são angustiantes, porque embora a série tenha mesclado o humor non sense e ácido com o drama de violência de forma respeitosa e de alguma maneira igual, a gente perde um pouco a noção de como foi triste a vida de Laura no final, com a exploração, drogas e submissão a homens nojentos.
De todo modo, vale por mais um espetáculo de bizarrice.
Com isso feito, reuni os três livros que adquiri sobre a série nos últimos meses e li todos de uma vez.
Twin Peaks – Arquivos e Memórias – Brad Dukes
A editora Darkside lançou esse livro em 2017 e fiquei curioso por conta do ar sombrio que essa série tem. Depois da boa experiência com Donnie Darko, de repente seria uma boa ideia.
E foi.
Segue o mesmo estilo dos livros de Donnie Darko, Sexta-Feira 13, O Massacre da Serra Elétrica e outros. São entrevistas com atores, produtores, diretores, enfim, todas as pessoas relacionadas à criação da série.
O interessante nesse livro é que os depoimentos vão acompanhando a progressão da série, desde a pré-produção, ao lançamento, cada episódio e até o final da segunda temporada e filme.
Há várias curiosidades interessantes, como as guerras de egos dos bastidores, de como as premiações influenciaram uma emissora a engolir a série mesmo sem botar fé nela, enfim.
Também há aquele problema de excesso de informações inúteis, mas isso faz parte.
Mais uma vez o acabamento é impecável. Capa dura com uma pintura com textura, páginas com várias fotos, um marcador de página com foto e formato da famosa torta de cereja da Norma, folhas de guarda com as cortinas de veludo vermelho, enfim, uma obra de colecionador para fãs, ainda que tardios como eu. São 320 páginas, aproximadamente.
Recomendo muito.
A História Secreta de Twin Peaks – Mark Frost
Mark Frost é um dos criadores da série, junto com David Lynch. Esse livro também foi lançado no Brasil em 2017 e ele tem um formato que lembra muito o “S” do J.J. Abrams, que eu li não faz muito tempo.
Tem capa dura e ele é em formato de um dossiê do FBI com supostas informações encontradas sobre a cidade de Twin Peaks compiladas e analisadas.
É mais uma forma de dizer que a história não é apenas sobre a morte de Laura, mas sobre esse algo bizarro que circula nesse local. Para isso, há recortes de jornais, memorandos, fotos, postais, diários, enfim, todo tipo de documento que conta a história secreta do local décadas antes do ocorrido na série. Isso mostra que o ar estranho já remonta há muito tempo.
Obvio que o dossiê chega na história da série e conta diversos casos tratados nela, inclusive, o que achei muito bom, dando algumas respostas e informações que a série não deu no final, como o final de Audrey Horne, por exemplo.
O livro é gigante e caro, mais uma obra de prateleira, porque é muito bonito, com jaquet, capa dura, folhas grossas, enfim, é um divertimento para quem gostou da série.
Há um monte de enrolação chata, mas você passa por ela numa boa. Valeu o livro. São 360 páginas, aproximadamente.
O Diário Secreto de Laura Palmer – Jennifer Lynch
O derradeiro livro que li sobre a série agora em maio foi escrito por Jennifer Lynch, filha do diretor David Lynch.
Infelizmente podia ter terminado sem ele.
São aproximadamente 270 páginas do que seria o diário de Laura, objeto bem importante na série, que trouxe muitas resposta sobre quem era ela e o que aconteceu com ela, mas também trouxe muitas dúvidas, sobretudo a respeito da misteriosa figura de BOB.
O livro é raso e começa com Laura pré-adolescente e enrola de uma forma que é inacreditável. Há diversos devaneios e sensações que a adolescente escreve para se expressar de alguma forma, mas é tudo tão mal escrito que eu fui ficando cansado.
Sorte que é curto, até porque, chegar nessa quantidade de páginas já foi uma proeza da escritora. Ficou com cara de aproveitamento na onda de sucesso da série sim. Os leitores foram atrás de respostas que não encontraram na série e ficaram frustrados.
Eu nem respostas queria, porque entendi que não foi esse o ponto da série. Mesmo assim fiquei de saco cheio desse livro, que, com certeza foi um dos piores que eu li ultimamente. E olha que não sou exigente.
De todo modo fica aí a experiência.
...
Já estou com abstinência de Twin Peaks, que com certeza marcou meu mês de maio. Mas logo logo eu tomo coragem e vejo a temporada nova que está disponível no Netflix. Afinal, Laura diz no último episódio que nos encontraríamos 25 anos depois, né? Errou por um ano, mas mesmo assim já estamos conseguindo muito!
FDL