sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Menina Má / Tara Maldita

tara malditaFilme: Tara Maldita (The Bad Seed)
Nota: 8,0
Elenco: Nancy Kelly, Patty McCormack
Ano: 1956
Direção: Mervyn LeRoy

 

 

 

 

 

Quando foi lançado o livro Menina Má, do autor William March, eu fui apresentado a essa história, que eu já deveria ter conhecido antes.

Esse filme foi feito em 1956, inspirado no livro citado acima e em uma peça famosa na Broadway que adaptou o romance. Foi indicado a 04 Oscar, inclusive melhor atriz para Nancy Kelly e atriz coadjuvante para Patty McCormack, a terrível Rhoda.

Antes de começar, Tara Maldita não é título de filme pornô. O termo tara já foi muito utilizado nas ciências sociais, em especial a criminologia, para tratar de desvios de comportamentos esperados das pessoas consideradas normais.

Aliás, esse filme/livro é criminologia pura. Vários personagens debatem esse tema no decorrer da história. A grande questão é se as pessoas nascem más ou se tornam, além da dúvida de haver a possibilidade de hereditariedade de tendências homicidas.

Na história, Rhoda é uma linda menina de oito anos, com duas longas tranças loiras e excelentes maneiras e educação. Tudo isso esconde uma pessoa egoísta, manipuladora, fria e assassina.

O enredo se desenvolve a partir da morte de um menino colega de escola de Rhoda, que havia ganho dela em um concurso de caligrafia e obtido uma medalha. A morte suspeita e o comportamento frio da filha acabam gerando a desconfiança da mãe de Rhoda, Christine.

O ponto alto desse filme é o elenco. Você percebe a inspiração em uma peça de teatro desde o começo, seja pelas posições da câmera e cenários, seja pela forma falada dos diálogos. Isso dá um ar diferente na produção toda.

É um pouco lento e enrolado em diversas partes, que também apresentam alguns chavões. Aliás, me ressalvo agora em colocar isso sob outra perspectiva, já que tudo foi feito em 1956 e de lá para cá muita coisa se repetiu.

Há muitos personagens e uma violência até que considerável, levando em conta a época de produção.

A discussão acerca do tema hoje em dia avançou muito e a criminologia hoje tem muito mais complexidades, só que tudo isso possui uma grande validade e essa história nos perturba um pouco, já que a violência infantil é um tema muito desconfortável para muita gente tratar.

Claro que depois do filme meu livro chegou e eu fui ler.

Menina Má – William March

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“Christine sacudiu a cabeça em negativa, deu um suspiro, e olhou para baixo, desamparada. “Não posso. Não posso contar. Nem mesmo a você, Monica.” Ela foi à geladeira, pegou uma caixa de creme de leite e despejou-a na vasilha de estanho de Monica, pensando: Como posso culpar Rhoda por seus atos? Quem tem essa semente do mal e o passou para ela fui eu. Se alguém tem culpa, esse alguém sou eu, e não ela. Subitamente, ela se sentiu ao mesmo tempo humilhada e culpada, pensando em como fora injusta com a criança, mesmo que fosse por falta de informação. “A culpa é minha”, ela repetiu de novo para si. “Sou eu que tenho a semente do mal.”

William March

Logo nas primeiras páginas você observa que não houve apenas uma inspiração na produção do filme. Há diversas passagens idênticas, é como rever tudo. Por isso acabei cansando e não terminando de ler imediatamente, já que essa leitura não trazia nada de novo.

Retomei esses dias e acabei tudo, porque apesar de não ser um livro tão longo, é excessivamente enrolado no meio e corrido no final.

No livro há algumas diferenças importantes. A primeira dela é com relação ao pai de Christine. No filme ele aparece e dá todas as pistas possíveis a respeito da mãe dessa personagem. Isso é importante, porque é de onde sabemos que a personagem vem e os motivos de sua culpa e o que a faz tomar a derradeira atitude.

Spoilers por aqui.

Christine descobre ser adotada e filha biológica de uma notável serial killer. Por isso acha que é culpada pelo comportamento homicida e frio de Rhoda, que teria herdado da avó. Por isso, engana a filha, dando-lhe vários comprimidos para dormir e morrer. Após isso, dá um tiro na própria cabeça.

O filme diverge do livro a partir daí.

Pesquisei em algumas páginas da internet que o público da época do filme achava que seria um final forte e não combinava com os padrões da época um final como esse. Por isso, a despeito do romance terminar com a morte de Christine e Rhoda sobrevivendo sem ninguém saber sobre o que ela fez, o filme foi diferente.

No filme ambas sobrevivem e Rhoda acaba morrendo fulgurada ao tentar recuperar o broche do menino que matou.

Não faz diferença o final, na verdade. O que importa mesmo é que esse livro é perturbador.

Mais do que responder a pergunta se existe alguma hereditariedade no comportamento do serial killer é o da outra questão: o que uma mãe faz se descobre que tem uma filha sem capacidade de ter remorso e mata qualquer um que passa pelo seu caminho? Será que muitas mães fariam o que Christine fez?

O livro é bom, muito embora nos perca nas excessivas e chatas passagens de conflito interior de Christine. A história em si é interessante e perturbadora.

Recomendo tudo.

FDL

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