sexta-feira, 11 de abril de 2008

O Retrato de Dorian Grey

"A propósito, Dorian - disse após uma pausa - qual o proveito de um homem que ganha o mundo inteiro, mas perde - como é mesmo? - sua própria alma?"
"- Meu caro amigo, vejo que você começa a se tornar, com efeito, um verdadeiro moralista. Talvez chegue até a ficar como esses convertidos, ou como os pregadores protestantes, que nos previnem contra os pecados que eles próprios estão cansados de cometer."


Terminei de ler "O Retrato de Dorian Grey" e cheguei à conclusão que esse é um livro de duplicidades. É uma oposição entre o feio e o belo, um confronto entre a essência e a aparência, um embate entre o prazer e a moral e, como não poderia ser diferente, eu gostei e não gostei.
Tudo bem que de proposições opostas eu cheguei a um paradoxo, coisa que o livro não é, aliás, é muito bem definido em qual traçado toma.
Dorian Grey é um aristocrata incrivelmente belo, que por influência dos que viam nele o sucesso de suas frustrações o adulando, inflam seu ego. A convicção de sua beleza celestial chega a tanto, que ele chega ao ponto de desejar transferir para um retrato seu todas as misérias que a vida lhe trouxesse no futuro, com o fim de manter em sua estética o poder de encantar os outros.O que eu mais gostei foi da proposta que diz para nós da necessidade das cicatrizes, pois elas nos ensinam ao crescimento. Como Dorian não sentia em si mesmo as chagas de seus atrozes atos egoístas, nunca de fato teve consciência do monstro que se tornava. Tinha horror ao quadro que se enfeiava, mas nunca teve horror de si mesmo.
Eu gostaria de dar destaque ao verborrágico Lorde Henry, cujos trechos da epígrafe do post mostram bem que tipo de gente ele é: um amoral, prepotente e extremamente lógico, chegando ao ponto de desconcertar as pessoas com quem discutia com argumentos precisos, que faziam os outros chegarem a conclusões absurdas, mas com alguma verdade. A ironia é traço marcante nesse livro, sobretudo com a questão do final e a oposição de valores.
O fato de Dorian Grey recorrer à classe baixa para cometer maldades mostra bem a visão do autor de que é lá que se encontra a pureza do amor, não em quem vive de vaidade e de luxo.

Vamos agora ao que me incomoda.
Existe uma atmosfera um pouco frívola nesse livro, e não acho que faça parte de uma crítica do Oscar Wilde a esse estilo de vida. Acho que ele também valoriza demais a beleza física e o luxo fútil da alta sociedade. Além disso, a crítica perde a universalidade quando para ela é transposta um mundo bem específico: o tipo de admiração que os homens dos livros têm entre si. Não me passou verossimilhança essa admiração endeusadora que uns tinham pelos outros - e, se é por conta da aparência física de Dorian, estamos diante de admiração que não é pessoal, mas homossexual.
Não que as criticas profundas não possam ter como ícones uma minoria, mas o foco trata justamente de algo que não é compatível com o homossexualismo. Isso é tão óbvio, que a manifestação dele não é clara. Então, sendo dúbio de novo, o livro tem de duas uma: ou são homossexuais e o autor não soube expressar de forma clara, como deveria ter feito; ou o autor tentou criar heterossexuais e não conseguiu fazer de forma convincente (sobretudo por estar de fora da vida dele, para quem conhece a sua vida pessoal), o que torna a universalidade mais falha ainda.


Mas de fato é uma obra-prima da literatura e o tema de reflexão é capaz de mudar a forma com que uma pessoa vê o mundo e age nele depois de lê-lo.
Acho que tiramos algumas máximas: por que adoramos tanto a beleza física? Quem é adulado e não conhece seus erros comete atos horríveis sem perceber, pois não houve aprendimento que incorporasse uma consciência.
A metáfora é muito pertinente e rocomendo que seja lido.

FDL

2 comentários:

Fernanda disse...

A única coisa coisa que conheço é o que mostra no filme "A liga extraórdinária", que é pouco e não sei se é muito fiel ao livro.

Mas pelo visto o livro é bem ambíguo hein!!
Bjo otro

Mila disse...

Bem, esse é meu livro preferido.
Eu discordo que as conclusões que tiramos das palavra de Lorde Henry são absurdas. Na minha opinião são amorais, mas verdadeiras, a sociedade é amoral.
Não entendo quando vc diz que Oscar Oscar Wilde "valoriza demais a beleza física e o luxo fútil da alta sociedade", isso não faz sentido com base no livro, que pra mim é uma crítica à essa visão (entre outas coisas). Pode-se perceber isso no personagem de lorde henry, e também em algumas situações de festas da alta sociedade (cenas que são descritas de modo crítico, e nao com exaltação).
Aquela sua crítica quanto ao homossexualismo também não me fez muito sentido. Oscar escreveu o livro baseado em alguém que ele conhecia (apesar da clara inspiração em Fausto). Não é absurdo um pintor velho e sozinho se apaixonar, mesmo que não de uma maneira homossexual, por um rosto belíssimo, de um rapaz jovem.
Concordo com vc qdo diz que o livro nos faz refletir sobre o tema, mesmo que nao quisessemos tal reflexão é inevitável.