“Ela se senta. O suor cobrindo seu corpo ficou frio. Ela tem certeza de que, apesar da fala mansa, ele vai tentar beijá-la, sem se importar com as crianças no parquinho ou os adolescentes tomando conta delas. Mas ele não faz isso. Só enfia a mão embaixo do banco e pega uma sacola de lona fechada por um cordão. Ele abre a bolsa e tira uma linda caixa de mogno, a madeira reluzindo em um marrom tão intenso que ela consegue ver pontinhos vermelhos no acabamento. Tem uns quarenta centímetros de comprimento, talvez uns trinta de largura, e metade disso de profundidade. Ela a quer na mesma hora, e não só porque é linda. Ela a quer porque é dela. Como se fosse algo valioso, muito amado, que se perdeu tanto tempo antes que quase foi esquecido, mas agora tinha sido encontrado de novo. Como se ela fosse dona da caixa em outra vida, em que era uma princesa ou algo assim.
— O que é? — pergunta Gwendy em voz baixa.
— Uma caixa de botões — diz ele. — A sua caixa de botões. Olha.
Ele a inclina, e ela vê os botõezinhos no alto, seis em fileiras de dois, e um botão solitário em cada ponta. Oito no total. Os pares são verde-claro e verde-escuro, amarelo e laranja, azul e violeta. Um dos botões das pontas é vermelho. O outro é preto. Há também uma pequena alavanca nas laterais da caixa, e o que parece um buraco no meio.
— Os botões são muito difíceis de apertar — diz Farris. — Você tem que usar o polegar e apertar com força. E isso é uma coisa boa. Acredite em mim: você não vai querer apertar nenhum por engano, não mesmo. Principalmente o preto.
Gwendy se esqueceu de sentir medo. Está fascinada pela caixa, e quando o homem de paletó a entrega, ela aceita. Estava esperando que fosse pesada, porque mogno é uma madeira pesada, afinal de contas, e nem dava para saber o que havia dentro, mas não é. É leve a ponto de Gwendy conseguir balançar nos dedos. Ela passa o dedo pela superfície reluzente e meio convexa dos botões e quase sente as cores iluminando sua pele.’
Stephen King e Richard Chizmar
Esse livrinho saiu faz pouco tempo e fiquei interessado nessa pegada infanto-juvenil com o lado sombrio do Stephen King.
Acabei lendo inteiro de uma vez e foi uma ótima experiência.
“Em todos os dias do verão de 1974, Gwendy Peterson, de doze anos, vai pela escada, que fica presa por parafusos de ferro fortes (ainda que enferrujados pelo tempo) e sobe em ziguezague pela encosta do penhasco.
Certo dia, um estranho a chama do alto: “Ei, garota. Vem aqui um pouco. A gente precisa conversar, você e eu”. Em um banco na sombra, perto do caminho de cascalho que leva da escada até o Parque Recreativo de Castle View, há um homem de calça jeans preta, casaco preto e uma camisa branca desabotoada no alto. Na cabeça tem um chapeuzinho preto arrumado.
Vai chegar um dia em que Gwendy terá pesadelos com isso.”
Parece um conto, até pela forma que a história foi construída, mas é muito agradável de ler. A forma de King escrever é bem tranquila e fluida, então a gente entra no livro de cabeça.
Gostei também da ideia do peso que a onipotência tem, com responsabilidades e consequências. Sobretudo porque não planejamos todas as nossas ações. Às vezes agimos por impulsos.
Recomendo essa leitura bem agradável.
FDL
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