segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

O Menino da Mala - Lene Kaaberbøl e Agnete Friis

o-menino-da-mala-lenekaaberbol-agnetefriis-ligiabraslauskas-literaturar7-700“O menino se remexeu no banco, ainda sonolento, mas despertando aos poucos. Espreguiçou-se e ficou ali por um bom tempo, fitando o estofamento à sua frente com os olhos semiabertos. Virou o rosto e olhou para Nina, reconheceu-a, e o doce semblante do sono subitamente deu lugar a um discreto esgar de decepção. Mas algo mudara. A carranca ainda estava lá, mas não a hostilidade. Percebia-se no olhar dele uma centelha de familiaridade, de segurança, talvez inspirada por tudo aquilo que haviam passado juntos no dia anterior. O olhar vazio de Karin, a poça de sangue sob a cabeça dela, a fuga atabalhoada do chalé, as prostitutas na Helgolandsgade, as fatias de pão seco.”

Lene Kaaberbøl e Agnete Friis

Diante desse final de ano tenso e cheio de preocupações, acabei, pela primeira vez na vida, dando uma grande pausa nos livros e filmes. Mas agora retomei e acabei por terminar de ler esse excelente livro das dinamarquesas Lene Kaaberbøl e Agnete Friis.

O Menino da Mala é o primeiro de uma série que começou a ser publicada no Brasil em 2013 – a série de Nina Borg. Lá fora já foram publicados três títulos. Aqui o jeito é esperar se quisermos acompanhar em nosso idioma. Esperar bem e não ter certeza nem de continuidade nem de periodicidade.

A história é ao mesmo tempo instigante e aterrorizante. Eis:

“’Você adora salvar as pessoas, não é? Bem, aqui está a sua chance.’ Mesmo sem entender o que sua amiga Karin quer dizer com isso, Nina atende seu pedido e vai até a estação ferroviária de Copenhague buscar uma mala no guarda-volumes. Dentro, encontra um menino de 3 anos nu e dopado, mas vivo. Chocada, Nina mal tem tempo de pensar no que fazer, pois um brutamontes furioso aparece atrás do garoto. Será que ela está diante de um caso de tráfico de crianças? Sem saber se deve confiar na polícia, ela foge com o menino e vai à procura de Karin, a única que pode esclarecer aquele absurdo. Quando descobre que a amiga foi brutalmente assassinada, Nina se dá conta de que sua vida está ameaçada e que o garoto também precisa ser salvo. Mas, para isso, é necessário descobrir quem ele é, de onde veio e por que está sendo caçado.”

Retirado do site da Editora Arqueiro.

A narrativa é bastante ágil e o clima de tensão é incessante, como de costume para os autores nórdicos, salvo raras exceções.

A personagem Nina Borg é muito interessante, talvez o maior trunfo do livro. Ela é problemática, claro, vivemos em tempos de anti-heróis, mas a despeito de sua fragilidade física, possui uma grande força interior, sobretudo quando é para ajudar os verdadeiramente frágeis. Nesse caso, uma criança, mas não sem voltar seus olhos para se preocupar com a prostituta.

Alguns dizem que ela é uma Lisbeth Salander melhorada. Discordo. Só compartilham da descrição física frágil. Acaba por aí.

Fico contente no afastamento dos clichés de policiais problemáticos e gostei muito da construção mais elaborada dos personagens acessórios, não só da protagonista da série de livros.

A emoção do amor de mãe e até onde ela vai para proteger seu filho é a parte mais interessante na trama em si. Tanto Sigita, a mãe do menino, como a própria Nina, que desenvolve uma proteção maternal por ele, fazem o impossível para salvá-lo, deixando até elas mesmas em perigo.

A única crítica que faço é quanto a um detalhe no final. Tem spoilers, então quem quiser ler, pare por aqui.

Faltou uma cena de interação entre a Sigita e a Nina após a confusão. Nem que fosse um agradecimento por cuidar do filho dela, algo assim. Esqueceram da coitada da Sigita depois que ela recuperou o filho. Encerramento da história também é importante e eu senti falta de uma exploração melhor.

Mas mesmo assim foi um dos melhores livros que eu li em 2013 e recomendo a todos que curtam um bom thriller.

FDL

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