“Uma outra sala dos domínios de Vander abrigava o sistema conhecido como Sistema de Identificação Automática de Digitais, além de sala escura para edição e recuperação de imagens e sons, digitais ou não. Ele supervisionava também o laboratório fotográfico, onde mais de cento e cinqüenta rolos de filme processado saíam diariamente do equipamento automático. Levei algum tempo para localizar Vander, e finalmente o encontrei no laboratório de marcas e pegadas, onde havia embalagens de pizza ordeiramente empilhadas num canto. Policiais criativos as usavam para transportar moldes de marcas de pneus e pegadas. Na parede do fundo estava apoiada a porta que alguém derrubara a pontapés.
Vander, sentado na frente do computador, comparava pegadas na tela repartida. Deixei a maca do lado de fora.
“É muita gentileza sua fazer isso”, falei.
Seus olhos azuis aguados pareciam estar sempre focalizados em outro lugar, e como de costume o avental estava manchado de roxo por causa do Ninhydrin. Uma caneta hidrográfica vazara, manchando um bolso.
“Uma beleza, esse aqui”, ele disse, apontando para a tela ao se levantar. “O sujeito compra sapato novo de sola de couro, você sabe que eles escorregam muito no início, certo? Por isso o espertinho pega uma faca e faz cortes transversais. Vai se casar e não quer correr o risco de escorregar na igreja.”
Segui-o para fora do laboratório, sem a menor disposição para curiosidades.
“Um dia, ele tem a casa roubada. Levaram sapatos, roupas, um monte de coisas. Dois dias depois uma mulher é estuprada no bairro. A polícia encontrou essas pegadas estranhas na cena do crime. E ocorreram muitos arrombamentos de casas na região.”
Entramos no laboratório de luz alternada.
“Pegaram um rapaz. Treze anos.” Vander balançou a cabeça, ao acender a luz. “Não entendo mais essa juventude. Quando eu tinha treze anos, a pior coisa que eu fiz foi atirar num passarinho com espingarda de chumbo.”
Ele montou o Luma-Lite no tripé.
“Isso para mim é péssimo”, falei.”
Patricia Cornwell
Primeiro livro da Cornwell que eu leio em forma de audiobook e só os capítulos finais por escrito. Foi uma boa pedida.
Como as obras da Dra. Scarpetta são cheias de diálogos, fica interessante o formato de audiobook, até parece um podcast ou algo do tipo.
A história mostra Kay recolhendo os caquinhos após a morte de Benton e tendo sua capacidade colocada à prova por conta de seus problemas pessoais. Junto a isso, parece haver alguém sabotando o seu departamento enquanto há um crime de difícil descoberta sendo investigado.
Fora isso, Cornwell segue o mesmo formato, o temperamento explosivo e auto-destrutivo de Marino, a pirralha chata e agressiva da sobrinha genial e Kay misturando seus momentos de insegurança pessoal com excesso de confiança profissional.
Não tem o mesmo viço dos primeiros livros, mas ainda são boas obras. Esse foi o décimo livro da série.
O próximo já quero ler logo, mas me propus a ler pelo menos dois por ano. Nisso estou em dia.
Até o próximo.
FDL