sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

Assassinato no Expresso do Oriente

expresso oriente 1Filme: Assassinato no Expresso do Oriente (Murder on the Orient Express)
Nota: 9
Elenco: Kenneth Branagh, Johnny Depp, Penélope Cruz,
Michelle Pfeiffer
, Judi Dench, Olivia Colman, Willem Dafoe, Josh Gad
Ano: 2017
Direção: Kenneth Branagh

Acredito que esse tenha sido meu filme mais aguardado do ano. Primeiro que é mais uma versão de um livro que foi dos responsáveis pela minha paixão em ler. Além disso, o elenco e a proposta foram bem ousados: somente atores bem consagrados e uma visão tanto na história quanto visual, que misturou elementos modernos com o ar clássico da literatura de Agatha Christie.

Só pelo trailer já fiquei curioso. Eles colocaram uma música de Imagine Dragons, com imagens em filtro todo modernoso. Algumas pessoas, sobretudo os fãs mais puristas, detestaram a ideia, tanto que no filme a música não toca. Eu já gostei. É somente mais uma visão, não interfere na verossimilhança. Além do mais, essa foi uma das minhas músicas preferidas no ano.

Quanto ao filme, que saudades dava em estar em uma sala de cinema na ansiedade por um belo suspense. Se queriam efeitos especiais, já que somente isso é importante hoje, também teve.

É fácil de perceber as mudanças feitas na história para que o grande público comprasse a ideia, literalmente. Cinema é bilheteria. Vimos o que aconteceu com a trilogia Millennnium, que até indicação ao Oscar teve, mas cadê as continuações, que não foram tão rentáveis?

Desse modo, reforço que não dá para ser tão purista com relação à história original. Há diversas mudanças periféricas. Uma etnia trocada ali, um perfil físico de personagem lá e supressões. Até aí tudo bem.

Minha única crítica foi com relação às alterações na personalidade de Poirot.

Foi complicado retirar da cabeça a imagem do personagem, que é um dos meus preferidos na vida, da figura do genial ator David Suchet, que consagrou Hercule Poirot por décadas na televisão inglesa. Mas estava de mente aberta e até gostei muito da interpretação do ator Kenneth Brannagh.

Porém, houve traços adicionados que a meu ver eram desnecessários e passaram uma ideia de um Poirot que não existe. Sobretudo com relação às cenas finais e ele entregando-se a uma possível morte, ou relembrando um antigo amor, ou até mesmo em algumas cenas de vulnerabilidade que não combinavam com ele. Minha única crítica ao filme.

expresso oriente 2

Fora isso, eu vivo para ver atores com personagens misteriosos, fazendo olhar de suspense do tipo “sei demais e desconfio de todos”. Claro que as cenas de flashbacks são a cereja do bolo.

Esse livro, que é um dos meus preferidos na literatura, precisava ser relido antes de ir ao cinema (na estreia, claro).

Eis.

Assassinato no Expresso do Oriente - Agatha Christie

“ – Minha vida foi ameaçada M. Poirot. Mas sou dos homens que sabem cuidar de si. – Retirou uma pequena pistola automática do bolso do casaco, mostrou-a e guardou-a novamente. – Não sou o tipo de homem que pode ser apanhado dormindo. Mas quero estar duplamente seguro disso. Creio que o senhor é o homem indicado para o meu dinheiro, M. Poirot. E, lembre-se, muito dinheiro.

Poirot olhou-o pensativamente por alguns minutos. Seu rosto não dizia absolutamente nada. Ratchett não poderia adivinhar o que lhe passava pelo pensamento.

- Lamento, Monsieur – disse com convicção -, mas tenho sido muito feliz na minha profissão. Ganhei o suficiente para satisfazer tanto meus desejos como meus caprichos. E agora só aceito casos que... me interessam.

- O senhor tem muito bons nervos – disse Ratchett -, mas será que vinte mil dólares não o tentariam?

- Absolutamente.

- Se o senhor está barganhando por mais, não conseguirá. Sei quanto as coisas valem exatamente.

- Eu também, M. Ratchett.

- O que há de errado com a minha oferta?

Poirot ergueu-se.

- Se me desculpar a observação pessoa, eu não gosto da sua cara, M. Ratchett – dizendo isso, foi deixando o carro-restaurante.”

Agatha Christie

livro expresso orienteEsse livro é lido de uma vez só. Nem chega a ser exageradamente curto, mas é totalmente viciante e cativante.

O mistério se passa quase que inteiramente no trem conhecido como Expresso do Oriente, que ia da Turquia até a Inglaterra (ainda existe, mas em trechos menores).

O período é o entre guerras, às vésperas da segunda. Diversas pessoas de alta classe social viajam no trem que está estranhamente lotado para essa época do ano. O detetive belga Hercule Poirot precisa voltar a Londres para uma emergência profissional e acaba embarcando em cima da hora.

No local, um bizarro homem chamado Ratchett procura pelo detetive, temendo pela sua vida (diálogo epigrafado). Porém, ele é brutalmente assassinado a facadas de uma forma misteriosa, ficando evidente que o assassino está dentro do trem, pois ele está preso em uma nevasca.

O ambiente claustrofóbico é o ponto principal no suspense. Fora isso, ele é um “clássico” Agatha Christie: personagens elitizados, suspense psicológico, sala fechada, todos são suspeitos e todos mentem, além de estar nos detalhes o deslize do assassino.

As cenas finais são minhas preferidas. Hercule Poirot reúne todo o elenco em uma sala (os que não foram assassinados durante a história) e revela o assassino, não sem antes demonstrar passo a passo a linha de raciocínio que o fez chegar à conclusão.

Esse tipo de livro criou minha paixão por ler e essa releitura em 2017 era o que eu precisava nesse finalzinho.

Recomendo Agatha Christie e Poirot eternamente.

FDL

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