quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

A verdade sobre o caso Harry Quebert

harry quebert“— O que acha disso?
— Nada mal. Mas acho que você dá muita importância às palavras.
— Às palavras? Mas elas são importantes quando escrevemos, não?
— Sim e não. O sentido da palavra é muito mais importante do que a palavra em si.
— Aonde quer chegar?
— Muito bem, uma palavra é uma palavra e as palavras pertencem a todos. Basta abrir um dicionário e escolher uma. É nesse momento que a coisa fica interessante: será capaz de dar a essa palavra um sentido bem específico?
— Como assim?”

Joël Dicker – A verdade sobre o caso Harry Quebert

 

Já tem mais de um mês que eu li esse livro e demorei bastante para concluir essa leitura também.

Foi feita muita propaganda sobre essa obra e houve muita crítica positiva. É um caso de crime, suspense e mistério, do tipo que eu gosto, mas com reflexões mais aprofundadas, sobretudo quanto à escrita.

Eis a sinopse dele:

“Marcus Goldman viu sua vida se transformar radicalmente. Com apenas vinte e oito anos, publicou um livro que se tornou um best-seller e o alçou ao status de celebridade, com direito a um apartamento chique em Manhattan, um carrão, uma namorada estrela de TV e presenças constantes nos tapetes vermelhos, além de um contrato milionário para um novo romance. E então foi acometido pela doença dos escritores: a síndrome da página em branco. A poucos meses do prazo para a entrega do novo original, pressionado por seu editor e por seu agente, Marcus não consegue escrever nem uma linha sequer. Na tentativa de superar seu bloqueio criativo, Marcus recorre a seu amigo e ex-professor Harry Quebert, um dos escritores mais respeitados dos Estados Unidos, que vive numa bela casa à beira-mar na pequenina cidade de Aurora, em New Hampshire. Às voltas com sua dificuldade em escrever, Marcus é surpreendido pela descoberta do corpo de uma jovem de quinze anos, Nola Kellergan - que desaparecera sem deixar rastros em 1975 -, enterrado no jardim de Harry, junto com o original do romance que o consagrou. Harry admite ter tido um caso com a garota e ter escrito o livro para ela, mas alega inocência no caso do assassinato. Com a mídia inteira contra Harry, Marcus se lança numa investigação particular, seguindo uma trilha de pistas através dos livros de seu mentor, dos bosques, das praias e das áreas isoladas de New Hampshire em busca da história secreta dos cidadãos de Aurora e do homem que mais admira. Uma teia de segredos emerge, mas a verdade só virá à tona depois de uma longa e complexa jornada. Para salvar Harry, sua carreira literária e a própria pele, Marcus precisa responder a três perguntas, todas misteriosamente conectadas: quem matou Nola Kellergan? O que aconteceu no verão de 1975? E como escrever um romance verdadeiramente bem-sucedido?”

O mais importante para o autor certamente era a relação do protagonista Marcus com seu mentor Harry. Os diálogos eram recheados de teorias e pensamentos sobre o mundo, mais ainda sobre a atividade de escrever um livro. É bem brega em alguns momentos, com frases feitas e clichés, como a epígrafe que escolhi.

Vi uma crítica dizendo que o livro foi pretensioso ao tentar ser mais do que realmente era. Não sei se concordo, só sei que o livro é o que é e de fato algumas passagens são pseudo-geniais e a relação dos dois às vezes me entediava.

Toda a polêmica em relação à juventude cabe aqui. Vivemos tempos de amadurecimento precoce das pessoas e ainda hoje uma relação como a de Harry e Nola iria chocar. Imagine nos anos 70.

O negócio é que por mais que o final desse livro tenha sido perfeito, fechadinho e sem perguntas a responder, fica uma sensação de que muito poderia ser respondido antes sem essa enrolação toda.

A verdade sobre o caso Harry Quebert é um livro excessivamente longo e poderia ter economizado algumas coisas. O autor mesclou passagens do momento com testemunhos do passado, o livro Origens do Mal, escrito por Harry e o novo livro de Marcus. Isso tudo incomodava porque tínhamos de ler as mesmas coisas várias vezes – claro que se contrapunham os diferentes pontos de vista, mas mesmo assim, esse livro foi enfadonho em alguns momentos.

De todo modo, o suíço Joël Dicker fez um excelente trabalho, que deve render uma excelente obra cinematográfica ou minissérie. Não perderia por nada. Vale lembrar que o autor tem apenas 29 anos e publicou um livro pesado como esse.

Ainda que tenha algumas reservas com esse livro, recomendo.

FDL

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