“A pior parte, porém, é o que se passa dentro de mim, porque a cada momento não faço ideia de como me sinto ou como deveria me sentir no que diz respeito a isso. Creio que pais são sempre objetos moventes. Nós crescemos, e nossas perspectivas evoluem constantemente. Neste tribunal existe apenas uma pergunta — ele matou ou não matou? Mas, para mim, há meses, a questão tem sido mais complicada, tentando imaginar o que a maioria das crianças leva uma existência para avaliar — quem é, na verdade, o meu velho. Não quem eu pensava. Isso eu já deduzi.”
Scott Turow em “O Inocente”.
Antes de mais nada é melhor resolver a história dos homônimos. Esse é o livro do Scott Turow, publicado em 2011. Tem a mesma tradução do livro The Innocent Men, do John Grisham.
O título desse livro é The Innocent e faz paralelo com seu antecessor, Presumed Innocent, traduzido no Brasil como Acima de Qualquer Suspeita, que eu já li no ano passado e comentei aqui, junto com o filme.
O intervalo das publicações é de 24 anos. Esse é o mesmo tempo que passa na história, que traz de volta todos os elementos da anterior.
No primeiro livro é contada a história de Rusty Sabich, um promotor de justiça casado e com filho, que acaba no banco dos réus sob a acusação de matar uma outra promotora, supostamente sua amante. Ficamos o livro inteiro sem saber se Rusty é inocente ou não. Os jurados entendem que é inocente e sofreu uma armação de outro promotor, e ele sai livre, com o caminho livre para ser juiz.
Em O Inocente Rusty já passou dos 60 anos e é um experiente juiz, já a caminho da Suprema Corte, até que sua esposa tem uma morte suspeita. O promotor do caso antigo não supera a derrota e investiga o caso, encontrando detalhes suficientes para um novo processo.
Nesse livro temos um Rusty mais exposto às próprias fraquezas, sem dúvida. A idade é implacável com ele. O temperamento da esposa também piora, fazendo ser um casal de personagens bem rico, com uma dinâmica única.
O enredo é narrado, tal qual Acima de Qualquer Suspeita, em primeira pessoa. Todavia aqui há vários narradores. A história é contada simultaneamente por alguns pontos de vista. É um jeito diferente e interessante de contar a história.
A história é mais lenta que a primeira e explora temas já batidos anteriormente, mas até entendo – as obras são independentes. Interessante é que apesar de revelar o assassino no primeiro livro, Scott Turow não faz referência a quem é nesse livro o assassino passado, para não influenciar nada.
É um bom livro, mas não supera o primeiro. Recomendo para os fãs desse tipo de literatura, porque o Scott Turow é um mestre.
No post anterior eu aproveitei e vi o filme, feito pelo Harrison Ford. A TNT não perdeu a chance e já exibiu no ano passado a versão para a tv de O Inocente. Li pela internet que esse tipo de filme está fora de moda no cinema, não seria aprovado, então já aproveitaram o livro ser recente e adaptaram na TNT, que tem tradição em dramas de suspense.
O Rusty foi interpretado pelo Bill Pullman, a Barbara pela Marcia Gay Harden e o Sandy Stern pelo Alfred Molina. Com esse elenco até parecia que teria uma chance, certo? Errado. Muito errado!
Não consegui sequer terminar de ver. É um telefilme muito mal dirigido, com diálogos forçados e atuações no mesmo estilo do exagero.
Acaba sendo um festival de falatórios e situações inverossímeis. Tanto é por isso que ninguém nem soube direito que isso passou. Eu descobri muito por acidente e tive muito trabalho em achar – nem preciso dizer que não existe legenda nenhuma para isso. É uma vergonha para a carreira desses atores.
FDL