“Se eu pensasse que isso nunca mais me aconteceria, eu morreria.
Mas isto está errado. Ninguém morre por falta de sexo. É por falta de amor que morremos. Não há ninguém que eu possa amar, todas as pessoas que eu podia amar estão mortas ou em outro lugar.”
Margaret Atwood.
Para o desafio de 12 livros em 2019, no mês de março, escolhi O Conto da Aia. Achei que combinaria com o mês da mulher e assim eu não perderia a chance de ler esse livro, que me parece ser cada vez mais atual.
Trata-se de uma distopia, na qual em um mundo não distante, um governo autoritário começou a restringir cada vez mais os direitos democráticos, até que em um determinado momento há uma sociedade fanática religiosa, com mulheres escravas, sistema de castas e uma sociedade de vigilância, com penas de morte em praça pública.
Tudo está relacionado com uma crise de fertilidade que atinge a população, que também sofre com a poluição. Isso faz surgir uma onda conservadora, que utiliza métodos e técnicas agressivas para a construção dessa nova sociedade.
O que me impressiona é esse livro ter sido escrito em 1985. Era uma época em que os comportamentos liberais cresciam muito. Não se esperava ver o que ocorre hoje, uma guerra entre liberais e conservadores. Enquanto escrevo esse post, é uma guerra ainda ideológica. Até quando ficará assim não sabemos.
Há diversas passagens perturbadoras nesse livro, sobretudo com a protagonista, Offread, uma Aia, ou seja, mulheres que ainda são férteis e, por isso, são muito valiosas. Não por isso mantiveram sua humanidade – são coisas preciosas, mas são passam disso.
A relação entre os seres humanos no contexto da dominação é incômoda demais. A vigilância constante e o pensamento completamente preso na cabeça são perturbadores.
É um dos melhores livros que li na vida.
Com isso, resolvi ver a série, que já está em temporadas avançadas, mas ainda é sucesso de crítica.
Não passei do primeiro episódio.
É uma série excelente e não segui por dois motivos.
O clima de incômodo é ainda pior. A mensagem eu já havia captado com o livro e não vi necessidade de ver uma série de vários episódios de dor e sofrimento para uma ideia que eu já tinha assimilado.
O segundo motivo é maior. Essa obra deixa várias perguntas sem respostas. Isso tem motivos, porque o próprio clima de incerteza e conspiração fazem parte do que a autora quis passar.
Séries americanas sempre pecam pelo mesmo motivo. Já percebi que O Conto da Aia vai ter várias temporadas e vão acabar transformando a história em algo diferente do original. Não senti vontade de ver o que vai ser construído.
De todo modo, Elisabeth Moss de cara demonstrou merecer todos os prêmios que recebeu, porque sua atuação está no ponto do que é essa série.
Recomendo muito a série e o livro, mas tenhamos estômago, porque o Conto tem cara de premonição.
FDL
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