“Você quer saber o que eles perceberam? Acho que descobriram a sensação de serem tratados com respeito. Ouvimos tanta gente falar de famílias abusivas que corremos o risco de achar que todas as crianças são maltratadas em casa. Mas a verdade é que a maioria das crianças hoje em dia é paparicada e mimada. Os pais imploram e só faltam ajoelhar para que os filhos estudem, comam ou o que for. Talvez por isso os filhos demonstrem tão pouco respeito pelos pais e falem com os adultos no mesmo tom que usam para conversar com os colegas. E muitos professores entram no jogo – acham uma honra ganhar um apelido ou serem tratados de maneira informal pelos alunos na sala de aula”
Kanae Minato
Segue a sinopse desse livro, que já daí me fez querer ler na hora:
“O mundo da professora Yūko Moriguchi girava em torno da pequena Manami, uma garotinha de 4 anos apaixonada por coelhinhos. Agora, após um terrível acontecimento que tirou a vida de sua filha, Moriguchi decide pedir demissão. Antes, porém, ela tem uma última lição para seus pupilos. A professora revela que sua filha não foi vítima de um acidente, como se pensava: dois alunos são os culpados. Sua aula derradeira irá desencadear uma trama diabólica de vingança.
Narrado em vozes alternadas e com reviravoltas inesperadas, Confissões explora os limites da punição, misturando suspense, drama, desespero e violência de forma honesta e brutal, culminando num confronto angustiante entre professora e aluno que irá colocar os ocupantes de uma escola inteira em perigo.
Com uma escrita direta, elegante e assustadora, Kanae Minato mostra por que é considerada a rainha dos thrillers no Japão”.
Confissões foi um livro que li em um dia só. Tudo bem que são apenas 174 páginas, mas o ritmo da narração é tão frenético e a história tão intensa, que me escravizou na hora que comecei. Fazia pequenas paradas apenas para refletir sobre aquilo que estava lendo, porque esse livro me tirou da realidade completamente.
Dois livros paralelos correm em um só. O primeiro deles é um suspense envolvendo adolescentes psicopatas, ou com qualquer transtorno antissocial da moda, submetidos à vingança de uma professora ferida com a pior violência que uma mulher pode sofrer: contra seus filhos. Mas está latente uma discussão sobre a criação das crianças no Japão e, observadas as adaptações culturais, no mundo também: professores, pais e colegas não estão se relacionando de forma harmônica e a distância de comunicação está isolando as pessoas, prejudicando quem está em formação. Há a questão da superproteção também.
O livro é dividido em capítulos, que são narrativas em formato de confissão de cada personagem. Além disso, o tempo passa entre uma confissão e outra, mostrando diferentes pontos de vista sobre o acontecimento principal, as diversas motivações e, claro, as consequências. Gostei desse modo de narrar a história, mostra as nuances.
O final tem reviravoltas rocambolescas e forçadas, mas não deixa de cumprir seu papel. Gostei muito.
Quero destacar um capítulo em que são encontradas as cartas da mãe de um personagem, Naoki. Falei sobre o assunto recentemente quando li o livro e vi o filme “O Jantar”. A superproteção de alguns pais chega a cegá-los. Os filhos fazem o diabo, mas a culpa é sempre dos outros, porque como vêem os filhos como uma extensão de si mesmos, assumiriam uma culpa própria também.
A situação com os jovens no Japão é polêmica, já tinha ouvido falar nisso. O livro até fala de um termo que eu não conhecia: hikikomoris. É um problema que ocorre no país, onde diversos jovens estão entrando em forte depressão e não saem de casa. Não estudam, não trabalham, ficam trancados no quarto. Uma das explicações para isso é o grau de exigência de perfeição e a baixa tolerância às falhas que o jovem sente na sociedade.
O livro trata disso, desse clima de competição e comparação que há nas escolas. Isso é bem preocupante.
Quando terminei de ler fui pesquisar e descobri que houve um filme, que deveria assistir para completar o combo.
Filme: Confissões (Kokuhaku)
Nota: 8
Elenco: não conheço muito de cinema japonês
Ano: 2010
Direção: Tetsuya Nakashima
O filme segue a história de forma bem parecida com o livro, com poucas mudanças.
Japoneses possuem uma cultura muito distante da nossa, então estranhamos algumas situações. A primeira delas é que eles não poupam a violência física, nem mesmo com crianças. As cenas são excessivamente fortes de agressões, com sangue espirrando e tudo.
Além disso, o final do filme teve uma tendência pelo exagero no drama, com gritos, urros, choros com berros, desespero. É bem esse o estilo.
No geral, é um bom filme também, que aproveitou a chance para colocar trilha sonora que auxiliou na experiência e não pecou com mudanças desnecessárias, enrolações ou bobagens.
O livro é uma experiência melhor, mas o filme cumpre seu papel.
Recomendo tudo.
FDL
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