quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Confissões – Kanae Minato

confissões kanae

“Você quer saber o que eles perceberam? Acho que descobriram a sensação de serem tratados com respeito. Ouvimos tanta gente falar de famílias abusivas que corremos o risco de achar que todas as crianças são maltratadas em casa. Mas a verdade é que a maioria das crianças hoje em dia é paparicada e mimada. Os pais imploram e só faltam ajoelhar para que os filhos estudem, comam ou o que for. Talvez por isso os filhos demonstrem tão pouco respeito pelos pais e falem com os adultos no mesmo tom que usam para conversar com os colegas. E muitos professores entram no jogo – acham uma honra ganhar um apelido ou serem tratados de maneira informal pelos alunos na sala de aula”

Kanae Minato

Segue a sinopse desse livro, que já daí me fez querer ler na hora:

“O mundo da professora Yūko Moriguchi girava em torno da pequena Manami, uma garotinha de 4 anos apaixonada por coelhinhos. Agora, após um terrível acontecimento que tirou a vida de sua filha, Moriguchi decide pedir demissão. Antes, porém, ela tem uma última lição para seus pupilos. A professora revela que sua filha não foi vítima de um acidente, como se pensava: dois alunos são os culpados. Sua aula derradeira irá desencadear uma trama diabólica de vingança.

Narrado em vozes alternadas e com reviravoltas inesperadas, Confissões explora os limites da punição, misturando suspense, drama, desespero e violência de forma honesta e brutal, culminando num confronto angustiante entre professora e aluno que irá colocar os ocupantes de uma escola inteira em perigo.

Com uma escrita direta, elegante e assustadora, Kanae Minato mostra por que é considerada a rainha dos thrillers no Japão”.

Confissões foi um livro que li em um dia só. Tudo bem que são apenas 174 páginas, mas o ritmo da narração é tão frenético e a história tão intensa, que me escravizou na hora que comecei. Fazia pequenas paradas apenas para refletir sobre aquilo que estava lendo, porque esse livro me tirou da realidade completamente.

Dois livros paralelos correm em um só. O primeiro deles é um suspense envolvendo adolescentes psicopatas, ou com qualquer transtorno antissocial da moda, submetidos à vingança de uma professora ferida com a pior violência que uma mulher pode sofrer: contra seus filhos. Mas está latente uma discussão sobre a criação das crianças no Japão e, observadas as adaptações culturais, no mundo também: professores, pais e colegas não estão se relacionando de forma harmônica e a distância de comunicação está isolando as pessoas, prejudicando quem está em formação. Há a questão da superproteção também.

O livro é dividido em capítulos, que são narrativas em formato de confissão de cada personagem. Além disso, o tempo passa entre uma confissão e outra, mostrando diferentes pontos de vista sobre o acontecimento principal, as diversas motivações e, claro, as consequências. Gostei desse modo de narrar a história, mostra as nuances.

O final tem reviravoltas rocambolescas e forçadas, mas não deixa de cumprir seu papel. Gostei muito.

Quero destacar um capítulo em que são encontradas as cartas da mãe de um personagem, Naoki. Falei sobre o assunto recentemente quando li o livro e vi o filme “O Jantar”. A superproteção de alguns pais chega a cegá-los. Os filhos fazem o diabo, mas a culpa é sempre dos outros, porque como vêem os filhos como uma extensão de si mesmos, assumiriam uma culpa própria também.

A situação com os jovens no Japão é polêmica, já tinha ouvido falar nisso. O livro até fala de um termo que eu não conhecia: hikikomoris. É um problema que ocorre no país, onde diversos jovens estão entrando em forte depressão e não saem de casa. Não estudam, não trabalham, ficam trancados no quarto. Uma das explicações para isso é o grau de exigência de perfeição e a baixa tolerância às falhas que o jovem sente na sociedade.

O livro trata disso, desse clima de competição e comparação que há nas escolas. Isso é bem preocupante.

Quando terminei de ler fui pesquisar e descobri que houve um filme, que deveria assistir para completar o combo.

confissões filmeFilme: Confissões (Kokuhaku)
Nota: 8
Elenco: não conheço muito de cinema japonês
Ano: 2010
Direção: Tetsuya Nakashima

O filme segue a história de forma bem parecida com o livro, com poucas mudanças.

Japoneses possuem uma cultura muito distante da nossa, então estranhamos algumas situações. A primeira delas é que eles não poupam a violência física, nem mesmo com crianças. As cenas são excessivamente fortes de agressões, com sangue espirrando e tudo.

Além disso, o final do filme teve uma tendência pelo exagero no drama, com gritos, urros, choros com berros, desespero. É bem esse o estilo.

No geral, é um bom filme também, que aproveitou a chance para colocar trilha sonora que auxiliou na experiência e não pecou com mudanças desnecessárias, enrolações ou bobagens.

O livro é uma experiência melhor, mas o filme cumpre seu papel.

Recomendo tudo.

FDL

quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Clarice Lispector – Todos os Contos. Parte 01: Primeiras Histórias

Clarice Lispector – Todos os Contos 1Estava pensando em fazer algo diferente com a minha rotina de leituras e esse livro foi a opção mais adequada. Estava com saudades de ler algo de Clarice e não tenho o hábito de ler contos. Por isso, enquanto tiver tempo, vou ler esse livro bem aos poucos. Como ele é uma junção de contos que já eram agrupados em diferentes livros, fica fácil fazer uma divisão.

O trabalho de contos de Clarice é tão respeitado quanto o de romances e eu sempre tive vontade de conhecer, porque até hoje eu só li os romances A Hora da Estrela e Água Viva. Já os li há muitos anos e mesmo assim muito me marcam e me impressiono com quantas coisas ainda ficaram na minha memória. Isso é identificação com o que se lê. Quanto mais descartável a leitura, menos ela dura.

A primeira parte foi uma reunião de contos escritos na juventude da autora. O título ficou Primeiras Histórias, com 10 contos.

O Triunfo

O primeiro conto é bem curto e tem a protagonista Luísa, que acaba de ser abandonada pelo companheiro e está no momento de choque em se adaptar à nova realidade, enquanto digere o que tem acontecido.

As lembranças de Luísa claramente mostram a vivência de um relacionamento abusivo, no qual não era respeitada e o curto conto mostra uma conclusão final dela: ele voltaria para casa.

Fica a sensação de não sabermos se ela realmente conclui isso, a despeito de tudo indicar o contrário, ou é apenas uma forma que encontrou de pensar para evitar o sofrimento.

Posso interpretar também que ela quando se vê sozinha e percebe as falhas do marido, entende que ela é superior a ele, não o contrário, como tanto pensava. Logo, ele que precisava dela, não o oposto.

A intensidade da escrita e o significado em cada linha já mostram que ler Clarice é para ser devagar mesmo, porque há um simbolismo em tudo que ela escreve.

Só agora percebo como sentia falta dessa leitura.

Obsessão

Esse já é um conto mais longo e denso.

A narradora é uma mulher infeliz na apatia de seu casamento com Jaime e sua vida que apenas seguia o que tinha que seguir, sem questionamentos.

Ocorre o momento de ruptura quando ela conhece Daniel, que é justamente o oposto daquilo que ela conhecia, pois é um homem que questiona tudo, enxerga na vida um grande sofrimento e ultrapassa a vida básica em busca de algo que transcende.

Isso faz com que ela se apaixone por Daniel e também sucumba, porque ele vê nela essa insignificância, a chamando de burra e inocente o tempo todo.

A despeito de ser agredida, ela se apaixona cada vez mais por esse homem que a faz questionar a sua vida anterior infeliz, ainda que na nova não encontre essa felicidade. Parece que ela quer sentir, algo que não fazia isso, ainda que fossem sensações de dor.

Nesse momento, Daniel encarna um tipo de professor e diz que irá educa-la sobre esses conhecimentos de consciência sobre a existência. Ela larga o marido e Daniel diz seu nome, Cristina.

Fico com a sensação que somente sabemos o nome dela nesse momento porque antes ela era anônima, não existia, era apenas um corpo seguindo a vida.

O final do conto mostra que conforme ela descobre a existência, descobre também que Daniel não é um Deus, possui fraquezas como qualquer um.

Assim, Cristina entende que conhecimento é solidão, voltando para seu marido.

Esse conto é complexo e ler Clarice sempre dá a impressão de que algo não foi percebido ou entendido. Mas algo tão profundo só pode atingir cada leitor de uma forma, não há outro jeito.

Apesar de se alongar muito, vejo nesse conto alguns recursos que já conhecia na escrita dela: a busca do protagonista por um sentido na existência, a saída do marasmo ao se chocar com a consciência, a revelação tardia do nome da protagonista quando ela sai da apatia e o final aberto.

Excelente conto.

O delírio

Esse já é um conto mais difícil. Somente relendo para compreender algo. Ou achar que compreendeu. É bem curtinho.

A pouca narrativa mostra um homem doente, em meio a delírios causados pela enfermidade. Ele é escritor.

Por meio de diversos simbolismos, como a luz que entra pela janela, a terra murcha e a renovação das espécies, percebe-se que cada vez mais o escritor está ligado a uma existência metafísica, perdendo o contato com a realidade.

Isso se mostra ao não compreender algumas situações à sua volta, fazendo com que sua enfermeira entenda que o fim dele está próximo.

O mais interessante é que ele somente sente paz com seu delírio quando pega papel e lápis e o coloca em letras. É temática da Clarice essa união entre o escritor e o sentido que ele mesmo se dá somente ao escrever.

Quantos simbolismos posso ter perdido? Muitos, mas somente relendo várias vezes para compreender ou viajar cada vez mais. Será que para compreender esse conto o próprio delírio deve ser nosso?

Essa leitura de contos abre demais a cabeça.

Eu e Jimmy

Conto de pouquíssimas páginas, mas bem interessante. Um dos melhores até agora.

Vejo um lado irônico na autora, que traz uma escrita com clara postura feminista.

A protagonista é uma estudante de direito e começa a se relacionar com Jimmy. Mas ela segue o que sua mãe fez, tendo pensamentos próprios, mas os suprimindo para seguir uma doutrinação masculina.

Jimmy ensina-lhe sobre seu pensamento natural, ou seja, se duas pessoas se gostarem, devem se amar, tal qual animais, e qualquer outra coisa é bobagem.

Assim a protagonista segue, até conhecer seu examinador no curso, a quem chama de D., que lhe ensina novas teorias e pensamentos novos. Isso faz com que ela deixe de admirar Jimmy, que era muito mais raso.

Aí vem a ironia, para terminar com Jimmy ela aplica a ele a própria teoria. Mas ele não gosta nem um pouco e a ofende, fazendo com que ela fique confusa.

Nessa hora vem o ponto alto: ela consulta sua avó sobre o conflito, obtendo a sábia resposta de que homens criam teorias para eles, mas para as mulheres são diferentes.

Assim, a estudante compreende que se é assim, de fato somos animais. Porém Jimmy apesar de falar, não compreende isso.

É interessante a passagem curta que mostra o descobrir de uma mulher sobre questões que a inferiorizam em um tempo que ela está começando a ter acesso ao conhecimento.

História Interrompida

O conto mostra mais uma protagonista sem nome. Esta tem um relacionamento com W e se sente inquieta em tentar compreendê-lo. Ele é uma pessoa triste, que a deixa confusa. O problema é que quanto mais tenta fazê-lo superar esse estado, pior se sente, pois ele acha que ela não tem capacidade de entender.

Deste modo, ela conclui que ou ela o destrói, ou ele a destrói. Em uma espécie de vingança, ela decide que irá pedi-lo em casamento, talvez como forma de “ganhar” a briga, fazendo com que ele fique feliz.

Para isso, planeja como pedir, como se vestir, para que tudo seja perfeito. Se perde em expectativas. Até se sente culpada pela felicidade.

Em sua visão até infantil, ela ignora os verdadeiros motivos da tristeza dele. Ela o quer contente para que ela fique contente também.

Todavia, vem a ruptura: no dia em que pediria W em casamento descobre que ele se matou.

Após uma passagem ela se questiona, porque no futuro se casou e teve filhos, mas continua sem compreender o sentido de W e de seu sofrimento por ele. As explicações de Deus não a satisfazem.

Interessante compreender a passagem de Ló que ela cita: aquela que olha para trás e se transforma em sal. Ela tenta não fazer isso, mas não consegue, porque não entende o sentido do suicídio.

É um conto mais complexo e confuso, porque confesso não entender como a autora se vingaria casando. Mas ainda assim mostra a relação de expectativa e frustração como forma de evolução para o ser humano.

A Fuga

Esse conto tem umas 05 páginas, mas é um tapa na cara.

Temos uma protagonista mulher novamente, sem nome novamente e nesse caso certamente ela não tem nome porque representa todas as mulheres.

Ela é casada há 12 anos e tem uma grande descoberta, uma revelação, um rompante de coragem. Resolve fugir de casa. Nos primeiros parágrafos ela saboreia as primeiras horas de liberdade, na chuva.

Após isso, aparece uma alegoria, da pessoa que não é atingida pela gravidade, vive caindo, mas nunca chega a lugar algum. Ela se sente afundando no mar, sem nunca chegar ao fundo.

Ela de repente sente de novo a mesma sensação de sufocamento que sentia no casamento. Começa a pensar que talvez o dinheiro que tinha não desse para o navio, que tomou chuva e estava com frio. Parecem desculpas para desistir da fuga, ou a sensação de que uma mulher casada naquela época não tinha a opção de seguir sua própria vida.

Ao final, volta para casa e o marido nem nota que ela demorou, já lhe trazendo compromissos caseiros. Ele dorme e ela chora no seu canto.

Percebemos que o título da fuga não é do marido, mas dela mesma, porque é anulada, não tem como ter a liberdade que sonha nesse mundo.

Clarice reflete muito sobre o papel da mulher, sobretudo na instituição família. Ela é apenas um papel social, não tem individualidade.

Talvez um dos meus contos preferidos até agora.

Trecho

Clarice apresenta Flora, uma mulher que espera seu namorado/amante/rolo, Cristiano, em um restaurante.

Ela se sente insegura por estar sozinha e acha que todos a julgam por isso, ou, pior, não a notam, como se não existisse.

Ela o espera ansiosamente, mesmo com o atraso, porque ele lhe prometeu que seria um grande dia.

O conto vai mostrando uma linha de pensamentos de Flora, que tem uma filha, a quem chama de Nenê. Flora também parece ser jovem e vive sendo avisada que seu maior medo pode ser realidade: será abandonada com uma filha.

Em um momento, quando já crê que Cristiano não virá, Flora se olha no espelho e não se reconhece. Sente que sem ele, ela não existe. Mais uma vez Clarice mostra como as mulheres da época se sentiam incompletas sem um homem ao lado.

De repente, Cristiano chega. Ela sente raiva por ele demorar tanto, a fazer não existir naquela restaurante por tanto tempo. Ele dá uma desculpa esfarrapada e começa a lhe tratar com paternalismo.

Ela esquece. Fica feliz, porque agora existe.

Cartas a Hermengardo

Este conto me pareceu ser o mais difícil de compreender o sentido, por conta da linguagem da autora e das metáforas e referências que para mim nem sempre ficaram tão claras.

São 05 cartas escritas por Idalina a José, a quem prefere chamar de Hermengardo. Ela não pretende enviá-las e não o conhece pessoalmente. Ela apenas o vê da sacada de seu prédio fumando na sacada dele.

A impressão é a de que como ela sabe que a carta não será lida por ele, ela pode expressar todas as angústias e reflexões que o convívio social a impedem de fazer.

Na primeira carta, Idalina sente-se culpada, por ter tudo e não ser feliz, estar insatisfeita. Diz parece pouco der pão e cama. Obviamente se nota que lhe falta companhia.

Idalina tem emprego, cita chegar em casa de uma repartição e também um professor de direito público. Mas é sozinha e até cita o termo “spleen”, muito utilizado na literatura, que nada mais é o sofrimento pelo vazio existencial.

Nas cartas seguintes, Idalina mostra suas reflexões antes ocultas. Como uma espécie de resignação, afirma que amar é sofrer. Lamenta essa constatação, mas faz um estranho paralelo entre pensar em ouvir uma música e efetivamente ouvi-la. Segundo ela, assim que ouve a música, ela se acaba e o significado que tinha em seu pensamento também se vai.

Por isso, Idalina diz que só ama quem não coloca o amor em prática, porque é como coloca-lo para fora de si e a experiência destrói o amor.

Ela ainda faz reflexões sobre paixão e deixa Hermengardo com um conselho sobre amar, mesmo sabendo que ele não lerá suas cartas.

Conto muito difícil e tenho certeza que precisarei reler no futuro para quem sabe retirar algo mais dele.

Gertrudes Pede Um Conselho

Clarice mostra nesse conto sua grande habilidade com a escrita, sobretudo nas questões dos pensamentos e sentimentos de seus personagens. Esse conto, como tantos outros, é quase inteiro escrito em discurso indireto livre, com poucos diálogos explícitos.

Essa característica deixa um ar soberano ao narrador na interpretação do personagem, mas com uma linguagem dessas sensações.

Gertrudes, Tuda, é uma jovem de 17 anos, muito inquieta, que escreve diversas cartas para a “doutora”. Não fica claro qual a atuação dela, ficando no ar a suspeita de que seja uma advogada.

Talvez pela insistência das cartas com um pedido de emprego, a doutora chama Tuda para uma entrevista.

No caminho, Tuda reflete sobre sua perturbação, as ideias de suicídio e, seguindo o tema do conto anterior, a sensação de culpa que sentia por sentir-se incompleta, já que tinha tudo. Em um momento diz que não suporta a felicidade que tem, mesmo sem saber que felicidade é essa.

Claro que Tuda cria expectativas de como seria essa mulher que idealizava e teria como mentora, direcionando lhe pelo caminho que precisava seguir e não sabia como era.

O problema é que quando chega à entrevista, Tuda se decepciona, pois a doutora não é como imaginava e demonstra vários sinais de que também é uma humana com conflitos e incertezas.

Tuda, com isso, tem vontade de fugir, pois constata que a doutora é igual a todo mundo, incapaz de compreende-la.

Após conversarem e perceber o desinteresse da doutora, quando está indo embora, ouve da mulher para que vivesse a vida, deixasse o sentido dela aparecer naturalmente, como acontece com todos. Diz-lhe também que ela é uma garota sensível, por isso, sente tanto mais infelicidade quanto felicidade que os outros, mas não deveria antecipar, porque o sentido da vida aconteceria.

No entanto, a falta de sinceridade da mentora é percebida pela suposta pupila, que se sente agora superior à doutora, que desistiu do sentido da vida, mas ela não, era corajosa.

Tuda ainda sente uma fagulha de admiração pela doutora quando essa pede para que ela retorne com uns 20 anos para trabalhar com ela, quando for mais experiente.

A epifania de Tuda chega no caminho de casa, quando lembra da mão mole que a doutora estendeu-lhe na despedida: foi indesejada. Mas mesmo assim está mudada. Percebe que não precisa de sua mãe lhe dizendo o que fazer, nem da doutora para ser mentora. Era capaz de tomar suas decisões sozinha.

Arrebata da seguinte forma:

“Lembrou-se subitamente: a doutora... Não... Não. Nem aos vinte anos. Aos vinte anos seria uma mulher caminhando sobre a planície desconhecida... Uma mulher! O poder oculto desta palavra. Porque afinal, pensou, ela... ela existia! Acompanhou o pensamento a sensação de que tinha um corpo seu, o corpo que o homem olhara, uma alma sua, a alma que a doutora tocara. Apertou os lábios com firmeza, cheia de súbita violência:

- Eu lá preciso de doutora! Lá preciso de ninguém!

Continuou a andar, apressada, palpitante, feroz de alegria.”

Mais dois Bêbados

O conto final de Primeiras Histórias é bem diferente dos outros. Mas ainda segue como assunto o conflito interno sobre o significado da vida.

Um homem bêbado, noivo, cansado da falta de compreensão de sua noiva, Ema, perambula pela rua em busca de outro bêbado para começar a conversar.

Ele encontra outro homem, que deixou esposa e filho doente em casa para beber. Mas o outro manguaceiro não parece ter interesse nessas reflexões que o primeiro faz e que parece beber apenas para atingir esse grau de consciência.

Irritado, o primeiro homem começa a contar uma história bizarra e perturbadora a respeito da esposa e do filho do segundo, de modo a faze-lo ouvir, demonstrar emoções e e sentimentos.

Mesmo assim, parece que não há resultado, até que o outro bêbado diz que vai falar uma coisa e... o conto acaba.

É irônico, pois no meu entender foi a autora dizendo que nunca sabemos que o outro pensa quando tentamos enfiar pensamentos na cabeça dos outros.

...

Assim termina esse primeiro livro de contos da Clarice Lispector. O próximo é Laços de Família, um dos mais famosos da autora. Em breve faço comentários sobre ele.

FDL

segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Chaves – A história Oficial Ilustrada

Chaves – A história Oficial IlustradaJá fazia muito tempo que tinha comprado esse livro e estava aqui esperando a hora certa de ler. Nem houve nada de especial, só um tempo livre e como são 200 páginas com letras grandes e várias figuras, rapidinho é lido.

Esse livro é da editora Universo dos Livros e é uma tradução de obra feita pela emissora de Chaves no México. É um trabalho impecável. Realmente de primeira qualidade.

As primeiras páginas são dedicadas à biografia de Roberto Gómez Bolaños, desde a infância até ser consagrado como um dos maiores comediantes e profissionais da televisão da história mexicana.

Essa parte é bem interessante, porque vemos a vida de Roberto influenciando como acabaram sendo seus personagens e o que acontecia com ele.

As páginas seguintes mostram a história dos programas de Chespirito (seu apelido) na televisão, principalmente Chaves e Chapolin, com guias de personagens, biografias e curiosidades.

O livro foi escrito antes da morte de Bolaños em 2014 e também fugiu das polêmicas pesadas que houve entre ele e o restante do elenco, passando superficialmente sobre alguma coisinha.

Gostei muito de conhecer um pouco mais sobre o criador do seriado que marcou minha infância e até hoje tem aquela sensação agradável de conforto quando assisto a algum episódio por aí.

Recomendo esse livro.

domingo, 27 de agosto de 2017

Friends From College – 1ª Temporada

friends from college s1

Vi o trailer dessa curta série que o Netflix iria estrear e resolvi apostar. A chamada me convenceu.

São 06 amigos na faixa dos 40 anos que estudaram juntos em Harvard. Quando um casal deles volta a morar na cidade, todos passam a se reunir novamente, expondo situações não resolvidas e fazendo com que eles resgatassem o passado para pensar em mudar o presente infeliz.

No elenco não há tantos nomes super famosos. Eu conhecia a Cobie Smulders, que fez a Robin de How I Met Your Mother. Ela está bem na série.

O personagem principal é o escritor Ethan Turner, interpretado pelo comediante Keegan-Michael Key, que é muito talentoso e reconhecido pelos críticos, mas não vende nada e vive fodido de dinheiro. Ele é casado com Lisa, a Cobie, mas tem um caso com a amiga deles há anos, Sam (Annie Parisse).

Ethan precisa de grana para pagar seu tratamento de engravidar com a mulher e seu melhor amigo Max (Fred Savage) o ajuda, tentando um caminho comercial ao escrever livros de young adult.

Completam o grupo a artista estilo estudante de humanas Marianne (Jae Suh Park) e o playboy comedor Nick (Nat Faxon). Esses personagens são os coadjuvantes obrigatórios em qualquer comédia, não sendo diferente nessa.

Há diversas cenas engraçadas e muitas, mas muitas passagens de comédia pelo desconforto dos personagens. Tem hora que chega a dar agonia.

O bom é que Friends From College não deixou de lado trazer alguns assuntos mais relevantes e explora muito bem essa crise dos 40 anos pela qual os personagens passam. Tanto é que os respectivos namorados/esposos se incomodam com a forma imatura de comportamento deles quando se reúnem.

Outra boa sacada que tiveram nessa série foi explorar a temática saudosista para trazer a melhor época da música na minha humilde opinião. Houve diversas músicas dos anos 90 e ainda das que caem direto no meu gosto.

O segundo episódio é encerrado com “Don’t Look Back In Anger”, do Oasis, um clássico que nem preciso mencionar.

Já no final da temporada, no episódio 07 há “A Long December”, dos excelentes Counting Crows. No derradeiro, eles fazem uma zoeira boa com “MMMBop”, do Hanson.

Nesses dias mesmo critiquei a falta de opção em comédias boas e fiquei bem satisfeito com essa série. Foi renovada e no ano que vem volta com mais episódios.

Recomendo.

FDL

sexta-feira, 25 de agosto de 2017

A Balada de Adam Henry – Ian McEwan

A-Balada-de-Adam-Henry“Vou lhe dizer por que estou aqui, Adam. Quero ter certeza de que você sabe o que está fzendo. Algumas pessoas acham que você é jovem demais para tomar uma decisão como essa e que foi influenciado por seus pais e pelos líderes da congregação. E outros acham que, como você é extremamente inteligente e capaz, deveríamos apenas deixar que siga em frente.”

Ian McEwan

Já estava curioso com essa leitura há algum tempo, porque recebi boas indicações. Até fiquei surpreso com o tamanho do livro quando chegou. É versão menor com 190 páginas. Termina-se rapidinho e sem muitas paradas, seja pelo ritmo da narração, seja pela qualidade da história.

A história se passa na Inglaterra e tem como protagonista a juíza Fiona Maye, de um tribunal superior que trata de direito de família. Ao longo das primeiras páginas conhecemos o teor de alguns casos com que ela trabalha e, ainda que com muita humanidade, já faz de forma mecânica. Além disso, Fiona encara uma crise no seu casamento, mesmo depois de tanto tempo.

A situação que ocorre pra incomodar o marasmo é o caso de Adam Henry, um adolescente com 17 anos e leucemia. Seu tratamento precisa urgentemente de uma transfusão de sangue para que ele tenha chances e não morra. Ocorre que Adam e sua família são testemunhas de Jeová, religião que se opõe fortemente às transfusões, preferindo a morte a recorrer a esse tipo de procedimento.

Como Adam tem 17 anos e se recusa ao tratamento, o processo pedia que a juíza verificasse se ele tinha “competência de Gillick”, caso no qual o jovem já está intelectualmente e emocionalmente apto a decidir sobre sua própria saúde.

Nesse caso que envolve um conflito entre direito à vida, liberdade religiosa e tutela dos interesses de um adolescente, a juíza acaba conhecendo Adam e se aproximando dele, que é inteligente e artisticamente sensível. Como ela passa por um momento difícil da vida, essa aproximação mexe com a magistrada. O resto é spoiler.

Esse tema da transfusão de sangue com testemunhas de Jeová para quem estudou direito já é bem batido. Para quem não é da área eu não sei se é de conhecimento generalizado. Ainda assim, gostei do paralelo que isso tem com a vida pessoal da própria juíza. Isso é assim porque em ficção no geral o a figura do juiz é a do sisudo velho atrás da bancada batendo o martelinho, sem humanidade por trás.

O livro é bem interessante e tem diversas passagens com boas reflexões e discussões a respeito de religiosidade, postura ética do magistrado, relações de casamento quando se aproxima a terceira idade, a relação do ser humano quando se vê à beira da morte, enfim, são páginas ricas em conteúdo, sem a menor dúvida.

Gostaria de ter me apegado um pouco mais a essa personagem? Sim. Fiquei sentindo que faltou algo que não sei explicar? Também. Até por isso, apesar de achar que é um bom livro, não está no topo da minha lista nesse ano.

Esse autor é muito respeitado e tem várias obras famosas e recomendadas. Tenho interesse em lê-lo novamente e mesmo que não tenha ficado tão empolgado assim, deixo minha recomendação.

FDL

sábado, 19 de agosto de 2017

O Advogado Rebelde – John Grisham

adv rebelde

“Em geral, sou um imbecil hipócrita quando meus clientes são notoriamente culpados. Mas, se me derem um homem inocente, eu exalo arrogância e superioridade. Sei disso e luto com todas as forças para dar a impressão, ao júri pelo menos, de que de fato sou uma pessoa amigável. Na verdade, não me importo se me odiarem, desde que não odeiem meu cliente. Mas, quando represento um santo como Doug Renfro, é essencial que eu vá até o fim igualmente zeloso, mas não ofensivo. Incrédulo com a injustiça, mas também confiável. ”

John Grisham

De longe esse foi o pior livro do Grisham que eu já li. E ainda passei ele na frente de outras opções porque queria uma opção confiável, na qual eu sabia com o que contar.

É o livro mais recente dele publicado no Brasil e deixou a desejar em dois aspectos: o narrador em primeira pessoa é muito chato, com uma descrição desinteressante sobre sim mesmo; além disso, a história é extremamente inverossímil, ainda que divertida e instigante.

O começo de O Advogado Rebelde é bem chato, tanto que liguei a luz laranja para abandoná-lo depois da página 50 se alguma mudança não acontecesse. É raro eu fazer isso.

Mas, de fato a leitura embala, porque a história tem um protagonista, o advogado Sebastian Rudd, que tem seu estilo peculiar de trabalhar e há uma divisão por capítulos, com casos em que ele trabalha bem demarcados, como se fossem contos.

Aliás, fica bem clara a linguagem televisiva do Grisham nesse livro. Fica evidente o interesse em transformar esse livro em uma série. Pode até dar certo, porque o protagonista até é carismático. Um narrador diferente teria deixado tudo mais interessante.

Uma passagem inicial nessa história particularmente me irritou e eu até marquei para não esquecer de como foi sem inspiração:

“...No interrogatório, eu a ataco com uma sede de vingança que parece espantar até Kauffman e Huver. Ela deixa a sala aos prantos. Em seguida, trazem sua imprudente filha, srta. Marlo Wilfang, que repete sua pequena narrativa sob a desajeitada indagação de Dan Huver, que agora já está completamente desarvorado. Quando ela é passada para mim, eu a conduzo docemente pelo caminho da paz, depois corto sua garganta de orelha a orelha em menos de dez minutos, ela está chorando, arquejando e desejando mil vezes nunca ter me chamado na arena...”

Esse é um dos exemplos da falta de inspiração. Cortou a garganta como? Deixou as mulheres aos prantos como? É um parágrafo inteiro dizendo: sou foda, não importa como, foi assim e acabou.

As histórias mais ao final do livro com o advogado ficam melhores, mas são excessivamente fantasiosas. Chega a irritar em alguns pontos. É melhor ligar a chavinha de leitor ingênuo para terminar esse livro.

Me parece que Grisham construiu um personagem bom, mas não teve paciência de criar boas histórias para ele e de narrar tudo de forma interessante e original.

De longe isso não me afasta do autor. Foi apenas um momento de baixa inspiração. Acontece com todos.

Só vi boatos pela internet que a ideia é de que haja continuações e espero que nelas o autor capriche mais.

adv rebelde2

Ainda assim, como ponto positivo vale uma crítica em especial, em meio a tantas, que Rudd faz ao sistema criminal americano, ao modelo de guerra às drogas, que também ocorre no Brasil:

“Jovens e negros, quase todos eles. Segundo os números, estão presos por crimes não violentos relacionados a drogas. A pena média é de sete anos. Depois da soltura, sessenta por cento estarão de volta aqui em três anos.

E por que não? O que há do lado de fora para evitar sua volta? Eles agora são criminosos condenados, uma marca da qual jamais conseguirão se livrar. Desde o começo, as probabilidades estavam contra eles e, agora que estão rotulados como criminosos, a vida no mundo livre deve de alguma forma melhorar? Eles são as verdadeiras baias de nossas guerras. A guerra contra as drogas. A guerra contra o crime. Vítimas involuntárias de leis duras passadas por políticos duros nos últimos quarenta anos. Um milhão de jovens negros agora armazenados em prisões decadentes, passando os dias no ócio à custa do contribuinte.

Nossas prisões estão lotadas. Nossas ruas estão cheias de drogas. Quem está vencendo a guerra?

Nós perdemos o juízo”.

FDL

sexta-feira, 18 de agosto de 2017

One Night Only – The Struts

One Night Only

I'll give you one night only
For your eyes only

Like an eagle in the sky
You can't control it
There's a magic in my eyes
And I can't stop it burning down
On the edge of tonight
Cause tomorrow we'll be owning the world
All my scars have got a tune
There's a fire in my heart
And I can't stop it burning down
On the edge of tonight
Cause tomorrow we'll be ruling the world
And you know like pure, white gold

I'll give you one night only
For your eyes only
If entertaining's what you want
Then honey, I'm the best!
I know that we're together
For all your pleasure
Forever
This is how we burn

Yeah! I wanna ride into the night
Supersonic
Like a dragon in the sky
Riding on it
Screaming loud
At the edge of tonight
Cause tomorrow we'll be ruling the world!
On the run, I'm in the mood
There's a bullet and a gun
And I'm gonna shoot it above the clouds
I'll get it tonight
Cause tomorrow we'll be ruling the world
You know like pure, white gold

I'll give you one night only
For your eyes only
If entertaining's what you want
Then honey, I'm the best!
I know that we're together
For all your pleasure
Forever
This is how we burn
This is how we burn
This is how we burn

I just wanna ride
I just wanna turn and face the strange
Sometimes the fear in us
Turns to the best of us
I just wanna have some fun
I just wanna throw that one, two punch
Sometimes the tear in us
Turns to the best of us

I'll give you one night only
For your eyes only
If entertaining's what you want
Then honey, I'm the best!

I'll give you one night only
For your eyes only
If entertaining's what you want
Then honey, I'm the best!
I know that we're together
For all your pleasure
Forever
This is how we burn
This is how we burn
This is how we burn

Apenas uma noite

Eu só vou dar uma noite
Apenas para os seus olhos

Como uma águia no céu
Você não pode controlá-lo
Há uma magia nos meus olhos
E não posso parar de queimar
À beira da noite
Porque amanhã seremos donos do mundo
Todas as minhas cicatrizes têm uma melodia
Há um fogo no meu coração
E não posso parar de queimar
À beira da noite
Porque amanhã vamos governar o mundo
E você sabe como ouro puro e branco

Eu só vou dar uma noite
Apenas para os seus olhos
Se o entretenimento é o que você quer
Então, querida, eu sou o melhor!
Eu sei que estamos juntos
Para todo o seu prazer
Para sempre
É assim que queimamos

sim! Eu quero andar na noite
Supersônico
Como um dragão no céu
Riding on it
Gritando alto
À beira da noite
Porque amanhã vamos governar o mundo!
Na corrida, estou com vontade
Há uma bala e uma arma
E vou dispará-lo acima das nuvens
Eu vou pegar esta noite
Porque amanhã vamos governar o mundo
Você sabe como ouro puro e branco

Eu só vou dar uma noite
Apenas para os seus olhos
Se o entretenimento é o que você quer
Então, querida, eu sou o melhor!
Eu sei que estamos juntos
Para todo o seu prazer
Para sempre
É assim que queimamos
É assim que queimamos
É assim que queimamos

Eu só quero andar
Eu só quero me virar e encarar o estranho
Às vezes, o medo em nós
Nos torna melhores
Eu só quero me divertir
Eu só quero jogar aquele, dois socos
Às vezes, a lágrima em nós
Nos torna melhores

Eu só vou dar uma noite
Apenas para os seus olhos
Se o entretenimento é o que você quer
Então, querida, eu sou o melhor!

Eu só vou dar uma noite
Apenas para os seus olhos
Se o entretenimento é o que você quer
Então, querida, eu sou o melhor!
Eu sei que estamos juntos
Para todo o seu prazer
Para sempre
É assim que queimamos
É assim que queimamos
É assim que queimamos

quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Lembra? The Class

the classNesse período do ano em que não há tantas séries no ar e nesse momento da televisão/streaming que parece não ter nada bom para rir, tive que recorrer ao passado para me divertir.

No momento, o politicamente correto faz com que se premiem comédias que não são engraçadas. Jamais vou entender isso. Um humor óbvio também é bom e faz bem para quem assiste.

Na hora pensei em rever a curta porém marcante The Class.

A série teve 18 episódios em única temporada exibida entre 2006 e 2007. A série é assinada por David Crane e Jeffrey Klarik, evidenciando que a ideia era ocupar o espaço deixado em aberto com o fim de Friends e o fracasso do derivado Joey.

The Class tinha 8 personagens principais, ligados pelo fato de terem estudado juntos na segunda série do primário. O reencontro se dá em uma festa organizada por Ethan Haas (Jason Ritter).

Ethan faz essa festa surpresa para sua noiva, celebrando que se conheceram na segunda série. Para isso, reúne todos seus colegas de classe e faz diversos gestos românticos. Resultado: a noiva acha essa fofura um saco e dá o pé nele na frente de todo mundo.

No reencontro vão as duas irmãs Lina Warbler (Heather Goldenhersh) e Kat Warbler (Lizzy Caplan). A primeira acaba de ser traída pelo namorado e precisa sair para esquecer, mas acaba conhecendo o deprimido e suicida Richie Velch (Richie Velch), surgindo um possível romance.

A segunda irmã é bem irônica e mal-humorada, achando graça na tragédia que é a festa. Mas como sua gêmea arranja um possível namorado, ela acaba ficando na festa e sobre justo para ela aturar a choradeira de Ethan, surgindo uma improvável amizade entre pessoas opostas.

Também vão à festa os antigos namorados de escola Duncan Carmelo (Jon Bernthal) e Nicole Allen (Andrea Anders). Eles não se vêem há anos, quando ele terminou com ela. Agora, ela está mais linda do que nunca, casada com um milionário ex-jogador de futebol americano. Ele está pobre e sozinho, ainda morando com sua mãe. Esse reencontro os reaproxima com os dilemas dele de arrepender-se de ter terminado com ela e dela por ser presa em um casamento infeliz.

Completa a lista a jornalista Holly Ellenbogen (Lucy Punch) que hoje é elegante e magra, mas só foi à festa para encontrar o seu ex-namorado da época do Ensino Médio, Kyle Lendo (Sean Maguire). Ela quer esfregar sua felicidade na cara dele, para se vingar do que ocorreu no passado: na noite do baile de formatura ela o flagrou com outro estudante nos amassos. Hoje Kyle tem um companheiro e a surpresa é o marido que Holly tenta esfregar na cara dele como uma vitória: não parece ser o tipo macho alpha.

De uma certa forma, todos os personagens vão acabar se cruzando pelas amizades que ressurgem com essa festa e diversas situações vão ocorrendo envolvendo relacionamentos e confusões em uma série bem leve e engraçada.

Minha personagen preferida é a da Lizzy Kaplan, que já tinha feito sucesso na época com o filme Meninas Malvadas. Ela tem um humor pesado, que geram falas minhas e piadas que faço até hoje.

Com certeza acabou não sendo o novo Friends. Nessa época a disputa por audiência era muito acirrada e a exigência alta para que um programa novo ficasse no ar, sobretudo uma comédia. Acabou não passando da primeira temporada, ainda com um gancho terrível, revelando que esse cancelamento não era esperado.

Foi um dos cancelamentos de séries mais amargos que lembro de ter visto, mas acontece. Serviu para filtrar bem o que começar a assistir na tv americana.

Só que essa série tem algo que é um dos pontos mais fortes de Friends: o humor despretensioso e vindo da observação de uma geração. Claro que os créditos são do escritor, que nesse caso era o mesmo.

Por isso a semelhança com Friends.

Talvez tivesse sido necessária uma quantidade menor de personagens ou uma história mais clara. Não que isso tivesse me incomodado, ao contrário, deu identidade a The Class, mas americano não gosta muito de mudanças na tv comum.

Foi excelente rever a série nessa semana. Dei muita risada e lembrei até de mim mesmo há 10 anos, empolgado com as séries americanas.

Fica a saudade e o gosto de querer mais até hoje. Mas, paciência. Vamos torcer para vir algo tão bom quanto Friends no futuro, mesmo que já tendo passado tanto tempo.

FDL

sábado, 12 de agosto de 2017

O Jantar – Herman Koch

o jantar

“A atriz me olhou da cabeça aos pés antes de falar.

- Sua esposa me diz que vão amanhã – comentou, e sua voz tinha algo artificialmente doce, como a substância no refrigerante light ou o recheio que usam em chocolates dietéticos, cuja embalagem diz que não irão engordá-lo...”

Herman Koch

Eu fui conhecer essa história após ver o trailer do filme. Aí, folheando livros na livraria eu acabei lendo a sinopse, juntei tudo e acabei me interessando.

Antes disso, tem algo nos livros muito comerciais que me irrita bastante. Aquelas frases destacadas, com trechos de jornais importantes ou comentários impactantes feitos por autores famosos. Tudo isso serve para referenciar a obra e fazer com que compremos o livro por conta da associação. Até tem nome isso: blurb.

Na orelha de O Jantar tem algo bem parecido:

blurb

Enfim, essas coisas criam expectativas. E com elas vêm responsabilidades. Daí, vem nossa exigência e com base nisso tudo posso concluir. O livro é bem mediano e o filme é ruim.

A história tem uma linha do tempo fragmentada. O principal é o jantar, entre dois casais, formados por dois irmãos e suas respectivas esposas. Mas a narrativa, feita por Paul, tem vários flashbacks e digressões, já que não há tantos acontecimentos e ocorrem, logo, muitas interpretações sobre eles.

Até aí tudo bem.

Paul é um ex-professor de história, casado com Claire, com quem tem o filho Michel. O irmão é Serge, um importante e famoso político, prestes a tornar-se primeiro ministro da Holanda. Ele é casado com Babette. Também tem filhos e um deles Beau, adotado em um país da África.

O livro é separado por capítulos que remontam todo o jantar em um restaurante sofisticado e pretensioso, cheio de frescuras. Tem capítulo da entrada, prato principal, sobremesa, enfim... o ponto é que em cada um desses momentos os acontecimentos vão ficando claros e os motivos desse jantar vão sendo mostrados tanto entre eles quanto para o leitor.

O narrador Paul é excessivamente verborrágico e tem grandes ressentimentos do irmão Serge, que parece ter charme para conquistar a todos, motivo de seu grande sucesso na carreira como político. Mas com os quatro personagens sentados à mesa a realidade não é o que parece.

Sem dar spoilers, o motivo do jantar é revelado e há problemas com os filhos dos casais, que envolvem decisões dos pais e um conflito ético com crime e castigo, que dá uma boa discussão.

Em diversos momentos, a acidez de Paul é interessante, como no trecho que selecionei acima. Em vários outros fica muito cansativo e repetitivo. Tudo é dito novamente e as situações parecem se repetir. Isso é ruim para um livro curto, que chega a 250 páginas em letras não muito compactas.

Além disso, alguns fatos são óbvios desde o começo, fazendo o suspense ser meio bobo. Claro que as consequências da revelação dos fatos são importantes também e me parece que é nisso que o livro faz melhor.

A personagem Claire é bem interessante e a visão que ela tem de seu filho e sobretudo a lógica que ela constrói para justificar os atos dele. Sobretudo, os dela, ao protege-lo de qualquer consequência de seus atos.

A revelação de hipocrisias familiares não é um assunto novo. Já está mais batido que qualquer outra coisa, por isso, se for explorado, tem que ser pelo menos de uma forma diferente ou que traga debates enriquecedores. Nisso esse livro não pecou.

As críticas à sociedade holandesa também foram boas.

A narrativa que me pareceu um pouco chata e arrastada.

Não gosto de um argumento que se usa muito ao opinar sobre livros que é o fato de que “não consegui me identificar com nenhum personagem”. Ora, que leiamos nossa autobiografia então. A proposta é conhecermos personagens e histórias diferentes, senão qual o propósito da leitura? E isso envolve também odiarmos um personagem, acharmos chato, ruim, malvado, enfim, são sentimentos da vida e muitas vezes essa é a proposta do autor.

O problema nesse livro é que nenhum personagem causa interesse. Aí é ruim. Não tenho vontade de gostar nem de odiar ninguém. Chega uma hora que leio esse livro e quero mesmo saber o que vai acontecer na história, mas não me importo muito com o final dos personagens.

Por isso achei o livro mediano. Tem partes boas e ruins. Mas fez promessas, não é? Complicado sair chamando de “Um Garota Exemplar europeu”.

De todo jeito, não rola um arrependimento de ter lido. Só não foi nada de impressionante. Acontece. Agora, o filme tinha um bom trailer, que prometia. Assisti no mesmo dia que terminei de ler.

o jantar filmeFilme: O Jantar (The Dinner)
Nota: 5
Elenco: Steve Coogan, Richard Gere, Rebecca Hall, Laura Linney, Chloë Sevigny
Ano: 2017
Direção: Oren Moverman

Então. Ah, que adaptação ruim. Nada tira isso da minha cabeça. O final desse filme bem que eu queria esquecer, mas não deu.

Houve diversas mudanças em personagens, passagens e situações. Não entendi o motivo por que foi alterado até o sentido da história, a crítica que o autor fazia à criação hipócrita dos adolescentes.

O filme ficou muito focado no personagem Paul, de Steve Coogan, que estava insuportavelmente chato e exagerado na atuação. Nada daquilo convencia.

Qual a utilidade do papel da atriz Chloë Sevigny? Não acrescentou em nada!

Por fim, aquele final péssimo, que teve a ideia de ser absurdo com uma comicidade de humor negro. Só foi ruim mesmo.

Não recomendo esse filme de jeito nenhum.

FDL

sábado, 5 de agosto de 2017

Matéria Escura – Blake Crouch

matéria-escura

“Será que é assim que Deus se sente? A exultação em literalmente ditar o surgimento de um mundo? Sim, este mundo já existia, mas eu o conectei a nós. De todos os mundos possíveis, encontrei este, que, ao menos pelo que vejo daqui da porta da caixa, é exatamente aonde eu queria chegar.”

Blake Crouch

Minha escolha com esse livro talvez remeta ao próprio tema que ele retrata. Não sei como o vi pela primeira vez em alguma livraria da vida ou como essa capa tão bonita me chamou a atenção. Mas fato é que não tenho o costume de ler esse tipo de literatura e também tinha várias opções na frente. Acontece que tinha que ser ele agora e foi.

Matéria Escura conta a história do físico Jason Dessen, que poderia ter se tornado um grande nome da ciência em sua área, quântica. Mas ele se casou e teve filho, tornando-se um professor universitário comum.

A virada acontece quando um dia é sequestrado por um homem mascarado, é drogado e jogado em um local, acordando em um laboratório em que todos o conhecem, sem que reconheça ninguém. Como se não fosse suficiente, sua casa, família e profissão não são as mesmas.

Com isso, Dessen luta para descobrir o que houve, como houve e o que fazer para recuperar sua vida e seu mundo de volta.

O estilo desse livro é thriller sci-fi, sem decepcionar no que promete. De fato foi lido em poucos dias por conta da ansiedade. Não tem muita enrolação, porque não faltam acontecimentos.

Há alguns suspenses iniciais que ficam bem evidentes no começo do livro, mas acredito que o foco nem seja fazer mistério mesmo e sim explorar a sensação de ansiedade que a evolução do enredo causa.

As explicações físicas não são tão complexas e não confundem um já veterano profissional de humanas, que passou pelo vestibular e a física há mais de 10 anos. Se há precisão e honestidade científicas certamente não posso dizer. Mas somente a visão passada já é extremamente impressionante.

O excesso de fantasias e abstrações são o que não me atrai em obras de ficção científica. Só que uma coisa boa sempre tem o potencial de ser explorada: a questão ética das descobertas e a relação entre poder e moral, porque, afinal, conhecimento acima de tudo é poder.

Por algum motivo esse livro caiu aqui e fiquei muito contente em ter lido. É um dos meus favoritos de 2017.

Recomendo, aguardando o filme, que deverá ser interessante.

FDL

sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Whatever It Takes – Imagine Dragons

Whatever It Takes

Falling too fast to prepare for this

Tripping in the world could be dangerous

Everybody circling is vulturous

Negative, Nepotist

Everybody waiting for the fall of man

Everybody praying for the end of times

Everybody hoping they could be the one

I was born to run, I was born for this

Whip, whip

Run me like a race horse

Hold me like a rip cord

Break me down and build me up

I wanna be the slip, slip

Word upon your lip, lip

Letter that you rip, rip

Break me down and build me up

Whatever it takes

Cause I love the adrenaline in my veins

I do whatever it takes

Cause I love how it feels

When I break the chains

Whatever it takes

Ya take me to the top, I'm ready for

Whatever it takes

Cause I love the adrenaline in my veins

I do what it takes

Always had a fear of being typical

Looking at my body feeling miserable

Always hanging on to the visual

I wanna be invisible

Looking at my years like a martyrdom

Everybody needs to be a part of 'em

Never be enough from the particle sum

I was born to run, I was born for this

Whip, whip

Run me like a race horse

Hold me like a rip cord

Break me down and build me up

I wanna be the slip, slip

Word upon your lip, lip

Letter that you rip, rip

Break me down and build me up

Whatever it takes

Cause I love the adrenaline in my veins

I do whatever it takes

Cause I love how it feels

When I break the chains

Whatever it takes

Ya take me to the top, I'm ready for

Whatever it takes

Cause I love the adrenaline in my veins

I do what it takes

Hypocritical, egotistical

Don't wanna be the parenthetical

Hypothetical, working onto something that I'm proud of

Out of the box an epoxy to the world

And the vision we've lost

I'm an apostrophe

I'm just a symbol to remind you

That there's more to see

I'm just a product of the system, a catastrophe

And yet a masterpiece, and yet I'm half diseased

And when I am deceased

At least I go down to the grave and I happily

Leave the body of my soul to be a part of me

I do what it takes

Whatever it takes

Cause I love the adrenaline in my veins

I do whatever it takes

Cause I love how it feels

When I break the chains

Whatever it takes

Ya take me to the top, I'm ready for

Whatever it takes

Cause I love the adrenaline in my veins

I do what it takes

O que for preciso

Caindo rápido demais para se preparar para isso

Tropeçar no mundo pode ser perigoso

Todos que estão dando voltas são vulturinos

Nepotistas e negativos

Todos esperam a queda do homem

Todos rezam pelo fim dos tempos

Todos esperam que possam ser a pessoa certa

Eu nasci para correr, eu nasci para isso

Chicoteie, chicoteie

Cavalgue-me como um cavalo de corrida

Segure-me como um corda esfarrapada

Me quebre e me construa

Eu quero ser o erro, o erro

A palavra em seu lábio, lábio

A letra que você arranca, arranca

Me quebre e me construa

O que for preciso

Pois adoro a adrenalina em minhas veias

Eu faço o que for preciso

Pois eu adoro a sensação

De quando eu quebro as correntes

O que for preciso

Você me leva para o topo, estou pronto para

O que for preciso

Pois eu adoro a adrenalina nas minhas veias

Eu faço o que for preciso

Sempre tive medo de ser normal

Olhando para o meu corpo me sentindo miserável

Sempre me prendendo no visual

Eu quero ser invisível

Olhando os meus anos como um martírio

Todo mundo precisa fazer parte deles

Nunca fui o suficiente da soma das partículas

Eu nasci para correr, eu nasci para isso

Chicoteie, chicoteie

Cavalgue-me como um cavalo de corrida

Segure-me como um corda esfarrapada

Me quebre e me construa

Eu quero ser o erro, o erro

A palavra em seu lábio, lábio

A letra que você arranca, arranca

Me quebre e me construa

O que for preciso

Pois eu adoro a adrenalina nas minhas veias

Eu faço o que for preciso

Pois eu adoro a sensação

De quando eu quebro as correntes

O que for preciso

Você me leva para o topo, estou pronto para

O que for preciso

Pois eu adoro a adrenalina nas minhas veias

Eu faço o que for preciso

Hipócrata, egoísta

Não quero ser o parênteses

Hipotético, trabalhando em algo de que estou orgulhoso

Fora da caixa um epóxi ao mundo

E a visão que nós perdemos

Eu sou um apóstrofo

Sou apenas um símbolo para lembrar

Que há mais para ver

Sou apenas um produto do sistema, a catástrofe

Mas ainda uma obra-prima, e ainda estou meio doente

E quando eu estiver morto

Pelo menos eu vou para o túmulo e eu alegremente

Deixo o corpo da minha alma para ser parte de mim

Eu faço o que for preciso

O que for preciso

Pois eu adoro a adrenalina nas minhas veias

Eu faço o que for preciso

Pois eu adoro a sensação

De quando eu quebro as correntes

O que for preciso

Você me leva para o topo, estou pronto para

O que for preciso

Pois eu adoro a adrenalina nas minhas veias

Eu faço o que for preciso