A última coisa que ando querendo fazer é começar a ver séries novas. Preciso terminar as velhas e pronto.
Acontece que a HBO veio com essa proposta que não tinha como deixar pra lá. HBO-GO novamente.
A série teve 08 intensos episódios que tratavam da seguinte história:
Nasir Khan, ou “Naz” é um estudante americano de origem paquistanesa. Tem educação rígida e aparentemente é um excelente filho e aluno. Quando recebe um convite para uma festa em Manhattan, Naz toma uma atitude impulsiva e pega o taxi de seu pai escondido.
A história se desdobra com o que acontece nessa noite: Naz conhece uma mulher, tem uma intensa noite de sexo e drogas com ela e sofre um apagão. Só que quando ele desperta, a mulher está morta e ele não sabe o que aconteceu, entrando em pânico e fugindo.
The Night Of tentou cuidar de mais de um assunto ao mesmo tempo, o que faz dela uma das séries mais complexas e tensas que eu vi ultimamente.
A primeira faceta da sociedade americana é como ela vê o imigrante, sobretudo o árabe. Eles são apontados na rua, sofrem violência e são moralmente agredidos diariamente. Não podem revidar, senão terão fama de agressivos.
Isso se reflete na seletividade do sistema criminal, já que a polícia toma esse grupo como alvo. É o que acontece com Naz.
A investigação policial e o cinismo e desprezo por parte de quem trabalha na Justiça são brilhantes nessa série.
Não parando por aí, The Night Of mostrou os efeitos do aprisionamento. Naz aguardou o julgamento preso no estabelecimento prisional conhecido como Rikers. Isso o transforma completamente, já que o ser humano precisa mudar para se adaptar.
Nisso destaco o personagem Freddy, o preso que manda na cadeia. Muito bem construído ele mostra vários lados do criminoso e do prisioneiro, sobretudo o lado humano, com forças, fraquezas, maldades e virtudes, ainda que em desequilíbrio.
Boa parte da história explora a advocacia. Primeiro com o advogado de porta de cadeia Jack Stone, muito bem interpretado pelo ator John Turturro. Mostra a insegurança de um advogado de casos pequenos que por uma coincidência acaba se deparando com um julgamento famoso. Além disso, ele sofre de uma baixa auto-estima, que se reflete na doença alérgica que ele tem.
Acho que em alguns momentos a série foca demais em Jack Stone e com cenas repetitivas, mas tá valendo. A relação paralela dele com o caso dele com o gato, por quem ele se afeiçoou, mas tinha alergia, foi muito bem feita.
Uma curiosidade é que a série foi produzida pelo falecido ator James Gandolfini, que interpretaria o advogado, mas acabou morrendo antes.
Há também a falsa advogada boazinha e a novata que se entrega demais ao caso e acaba fazendo besteira. Confesso que foi uma parte que não gostei da série.
Em primeiro lugar a advogada high profile de escritório bacanudo foi interpretada de forma meio óbvia. Estava bem claro o que aconteceria depois.
Já a personagem Chandra não fez o mínimo sentido o que aconteceu no final. O comportamento dela simplesmente mudou para ela ser arruinada e haver espaço para o Stone fazer as alegações finais.
Com o fim vimos o fim da crise de consciência do policial e da promotora, cansados e calejados com o cotidiano da profissão. Ele se aposenta e ela calça tênis. Será que a vida real é assim?
Fato é que essa temporada começou muito bem e foi decaindo conforme avançava. Não foi uma decepção, mas também não me marcou muito não.
O final agridoce era o que se esperava, até mesmo pelos efeitos permanentes que a prisão temporária deixa, aliás, alegorizados pelas tatuagens, em lugares cada vez mais expostos conforme a história passava.
De todo jeito fica a recomendação.
FDL