“Eu lhe explico sobre a coluna. Segundo o livro, é no Canal de San Marco, de frente para a ilha de San Giorgio. Conte três colunas, e lá está: com sua base de mármore gasta por todos os prisioneiros e, por muitos séculos, turistas curiosos tentando o impossível. O desafio é colocar suas mãos para trás (já que as mãos dos prisioneiros estariam atadas) e, de costas para a coluna, tentar fazer a volta completa. Para os condenados, era uma cruel oferta de uma possível liberdade, já que, reza a lenda, o desafio nunca foi superado.
Tess acha que devo ir primeiro. Coloco meus dedos no cinto e subo na base da coluna. Um passo em falso e desço.
“Não consigo”, digo.
“Minha vez!”
As costas de Tess abraçam o mármore, ela me olha, rindo. Então começa. Seus pés pouco vacilam, avançando centímetro a centímetro. E avançam. Eu fico ali com a câmera do iPhone pronta para filmar seu tombo, mas em vez disso ela desaparece à medida que dá a volta na coluna. Um segundo depois ela reaparece, ainda tateando com os pés. Só que agora o riso desapareceu. Em seu lugar há um olhar sem expressão, que eu imagino ser uma enorme concentração. Coloco o iPhone de volta em meu bolso.
Quando ela retorna ao ponto de partida, fica ali parada, olhando para a água, como se ouvindo as instruções murmuradas pelas ondas que se sobrepõem.
“Tess!” Um grito que visa a despertá-la de onde quer que ela esteja, tanto como para comemorar seu feito. “Você conseguiu!”
Ela desce. E, ao recordar-se de quem sou eu e onde ela está, seu sorriso volta.
“O que eu ganho?”, ela pergunta.
“Seu lugar na História. Aparentemente, ninguém nunca fez isso antes.”
“E a salvação. Ganho isso também?”
“Também. Venha”, digo, tomando sua mão, “vamos sair desse sol infernal.””
Andrew Pyper
A sinopse desse livro me chamou a atenção quando lançado. Acabei comprando. O visual da capa também é impressionante. A editora caprichou no acabamento envelhecido com cara medieval.
O livro conta a história de um professor universitário, chamado David Ullman, especializado na expressão literária do Diabo. Seu foco está na obra do autor John Milton, Paraíso Perdido. A história trata do possível fim da descrença do professor na existência do inominado, após ser procurado por um trabalho que modifica completamente a sua vida e de sua família.
Não detestei o livro, mas também não adorei. O começo é muito bom, com passagens realmente perturbadoras, que me fizeram deixar esse livro na mochila, para lê-lo apenas em transporte ou filas de espera.
O meio é bem arrastado e repetitivo. Não deveria ser, porque o livro não é grande e tem uma história até que bem escrita.
O final é do tipo aberto e abrupto. Há quem goste e há quem odeie. Eu fico no time dos que gostam quando tem propósito. Nesse caso tem, sobretudo pelo assunto que está sendo tratado.
O Demonologista foi um sucesso de vendas e o próximo livro do autor já está sendo vendido. Talvez eu leia, porque no final há poucas opções satisfatórias nesse tipo de literatura.
A galera mais jovem deve ter pirado nesse livro. No final, recomendo sem muita euforia.
FDL