domingo, 10 de julho de 2016

On The Road – Jack Kerouac

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As garotas desceram também e iniciamos a nossa grande noite empurrando o carro mais uma vez rua abaixo. “Iuuupi! Vamos lá!”, gritou Dean, e nos atiramos no banco de trás e lá fomos nós, tilintando, para o pequeno Harlem da rua Folsom.

Mergulhamos na noite cálida e louca, ouvindo um sax-tenor incrível soprando o trajeto inteiro, fazendo “ii-yah! ii-yah! ii-yah!”, batíamos palmas na batida do jazz e a rapaziada gritava “vai, vai, vai!”. Dean já estava correndo pela rua com seu dedo suspenso no ar, aos gritos: “Toca, homem, toca!”. Um bando de negros em roupa de sábado à noite armou um burburinho na entrada da boate. Era um saloon ordinário e empoeirado com um pequeno tablado no fundo servindo de palco; os rapazes se acotovelavam lá em cima, metidos em seus chapéus, tocando jazz acima das cabeças da platéia, um lugar louco; mulheres muito doidas, desleixadas, circulavam por lá, algumas com roupões de banho, garrafas rolavam chocando-se pelos becos. Nos fundos do bar, num corredor escuro além dos lavatórios destroçados, homens e mulheres em grupos se escoravam nas paredes e bebiam vinho barato, cuspindo sob as estrelas – vinho e uísque. O maravilhoso saxofonista soprava até atingir o êxtase, era um improviso soberbo com riffs em crescendos e minuendos que iam desde um simples “ii-yah!” até um louco “ii-di-lii-yah!” flutuando com furor e acompanhados pelo rolar impetuoso da bateria toda queimada por baganas e que era martelada com fervor por um negro brutal com pescoço de touro que estava pouco se lixando para o mundo exterior, apenas surrando ininterruptamente seus tambores arruinados, bum-bum, ti-cabum, bum-bum. A música rugia e o saxofonista dominava a situação, todos estavam vendo que ele a dominava. Dean agarrava a cabeça no meio da multidão, e era uma multidão muito louca. Todos imploravam, com gritos e olhares desvairados, para que o saxofonista mantivesse o mesmo ritmo, e ele se contorcia, se inclinava até os joelhos e voltava a erguer-se com o sax, em sintonia com o uivo nítido acima do furor da platéia. Uma negra alta e magra sacudia os ossos quase dentro da boca do sax; ele a afastou com seu som. “Ii-hii-hi!”

Jack Kerouac

Sempre tive curiosidade em ler alguma coisa do Jack Kerouac. Em alguns momentos meu lado humanas fala alto.

De duas uma: ou estou velho para compreender esse espírito do livro ou realmente não tem nada demais como alguns dizem.

Acabei cansando na metade e parei. Certamente não vejo motivos para retomar.

Falta história. Isso poderia ser compensado com passagens interessantes, ou diálogos, ou digressões. Nada disso acontece. É um livro de memórias que não me interessou.

Eu entendo algumas pessoas gostarem bastante, mas lamento não ser para mim ou eu não ter a sensibilidade de perceber essa genialidade toda.

Fica para uma outra vida.

FDL

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