Em muitos casos primeiro vem o livro, depois o povo aproveita e faz o filme. Com Donnie Darko é bem diferente. O filme lançado em 2001 nem foi um sucesso tão grande, mas acabou sendo queridinho pela galera cult, então, agora em 2016 a Editora Darkside editou um livro com um puta acabamento com entrevistas, bastidores e entrevistas com o cineasta responsável por essa estranha e inteligente obra.
Eu nunca tinha visto esse filme, mais por conta da falta de interesse por assuntos de ficção científica. Só que com o anúncio do livro eu fui pesquisar um pouco mais e acabei vendo do que se tratava e acabei assistindo.
O filme me fez encomendar esse livro em pré-venda, que li inteiro logo que chegou. Será que eu gostei?
Vamos ao filme primeiro.
Filme: Donnie Darko
Nota: 10
Elenco: Jake Gyllenhaal, Drew Barrymore, Patrick Swayze, Maggie Gyllenhaal
Ano: 2001
Direção: Richard Kelly (também escreveu)
O começo dos anos 200 foi marcado por esses filmes confusos, que misturam as imagens com a psicologia, com memórias, com ilusões e com o metafísico. Assisti a vários deles e confesso que são um desafio aos neurônios ou porque são nebulosos e vagos demais ou porque são inteligentes demais.
Donnie Darko é as duas coisas, ainda com teorias físicas enfiadas no meio.
O protagonista, cujo nome é o título do filme, interpretado pelo Jake Gyllenhaal, é um adolescente problemático com histórico de doença mental. Em uma certa madrugada ele vê uma bizarra figura fantasiada de coelho que o pede para sair de seu quarto e segui-lo. No dia seguinte ele descobre que uma turbina de avião caiu em seu quarto e certamente o teria matado se estivesse lá.
Durante o filme Donnie tem vários contatos com o coelho, que lhe dá um tempo de contagem regressiva para o mundo acabar. Enquanto isso ele manipula o adolescente a cometer uma série de vandalismos na comunidade.
O final do filme é bem aberto e sujeito a algumas interpretações. Só que logo após assistir eu acabei vendo um blog com uma teoria dos universos paralelos muito interessante, mas não salvei o link e agora não lembro qual foi. Essa teoria é justamente adaptada das entrevistas que o diretor Richard Kelly deu (que foram adicionadas no livro recém lançado).
Não bastasse a proposta diferente e inteligente, há ótimos atores, diversas passagens e paralelo à trama principal, Donnie vai encarando diversas demagogias na sociedade. O clima de hipocrisia reina na sua comunidade. Só que no espírito de que o mundo vai acabar, ele também detona com tudo.
Gostei muito de todas as cenas da Drew Barrimore, como uma professora moderna que faz os alunos questionarem. Obviamente é pressionada pelos conservadores.
Também destaco a excelente cena, muito bem interpretada pelo Jake Gyllenhaal quando o picareta Jim Cunningham vai dar uma palestra na sua escola e Donnie ataca suas fórmulas e argumentos simplistas, tão vazios, mas ao mesmo tempo tão palatáveis, que engana os fracos.
No final, esse filme me marcou muito, mesmo eu não conseguindo entender 100% dele (juro que a teoria dos universos tangenciais faz bastante sentido).
Qual é a cereja do bolo de um bom filme? Claro, trilha sonora. Aí sim a experiência inexplicável de ver um filme fica perfeita. Com Donnie Darko não seria diferente.
A história se passa no final dos anos 80 e a música dessa época foi muito bem explorada, com Never Tear Us Apart – INXS, Head Over Heels - Tears For Fears, Love Will Tear Us Apart - Joy Division, The Killing Moon - Echo & The Bunnymen e a música final, que deu um excelente efeito dramático: Mad World - Michael Andrews & Gary Jules
Com um filme louco desses a gente só pode assistir e gostar, concluindo que o mundo está ou é louco mesmo.
Vamos ao livro.
“DONNIE (furioso)
Quanto eles estão te pagando para estar aqui?
JIM CUNNINGHAM
Desculpe? Qual o seu nome, filho?
DONNIE
Gerald.
JIM CUNNINGHAM
Bem, Gerald, eu acho que você está com medo.
DONNIE
Bem, Jim... eu acho que você só fala merda!
Escutam-se cochichos pelo lugar. Algumas gargalhadas dos alunos.
Você está falando essas bostas todas para nos fazer comprar seu livro? Porque, deixa eu te contar uma coisa, esse foi o pior conselho que eu já ouvi (para a garota idiotinha). Se você quer que sua irmã perca peso, diga para ela sair do sofá, parar de comer Twinkies... e talvez entrar no time de hóquei na grama. (para o garoto magricela). Você nunca vai saber o que quer ser quando crescer. Na maior parte do tempo, ninguém sabe. Que quanto a você, Jim? (para Larry) E você... cansou de ter sua cabeça enfiada na privada por algum moleque babaca? Então vá levantar peso... faça uma aula de caratê. E quando ele tentar fazer isso de novo, chuta ele no saco.
Mais burburinhos no local... As gargalhadas dos alunos ficam mais altas.
JIM CUNNINGHAM
(perdendo a calma)
Acho que você tem medo de me pedir um conselho. Acho que você é um jovem muito problemático... e confuso. Acho que você está procurando respostas nos lugares errados.
DONNIE
(pausa longa)
Bem, eu acho que você é a porra do Anticristo”
(Richard Kelly)
Esse livro começa facilmente sendo excelente para simplesmente deixar na estante de livros. O acabamento é muito bonito e fodão. Tem capa dura e uma arte gráfica muito bem feita.
Além disso, as páginas são ilustradas e com um acabamento realmente feito para fã.
Quanto ao conteúdo, realmente é raso, mas não por nenhuma incompetência, eu acho. É porque não há nada mesmo, é um filme de roteiro original.
No começo há uma longa entrevista com Richard Kelly, que fala sobre sua vida, sobre o processo de criação, desenvolvimento e lançamento do filme Donnie Darko. É bem interessante e dá algumas pistas sobre o que ele quis com essa história.
Depois há o roteiro final completo do filme, com todos os diálogos. Isso é bem legal, porque lê-lo é como rever tudo.
Por fim há algumas páginas com o que seria o livro “A Filosofia da Viagem no Tempo”, de Roberta Sparrow, livro este que é utilizado por Donnie no filme e embasa toda a história, dando várias explicações ao final.
Mesmo sendo curto, com pouco mais de 200 páginas, há muitas figuras, informações e destaques, que apenas enriquecem a experiência de conhecer essa obra. Vale a pena com certeza, porque fica para a posteridade.
Recomendo tudo, filme, livro e tudo mais que aparecer.
FDL
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