domingo, 17 de agosto de 2014

Garota Exemplar

garota exemplar

“Eu estava voltando para a sala de interrogatório quando ouvi a voz do meu pai. Às vezes, em momentos particularmente vergonhosos, eu ouvia a voz dele em minha cabeça. Mas aquela era a voz do meu pai ali. Suas palavras emergiam em bolhas molhadas como algo saído de um pântano fedorento. Piranha, piranha, piranha. Meu pai, ensandecido, passara a lançar a palavra contra qualquer mulher que o aborrecesse mesmo que vagamente: piranha, piranha, piranha. Olhei para dentro de uma sala de reuniões e lá estava ele, sentado em um banco encostado na parede. Ele um dia fora um homem bonito, intenso e com um furinho no queixo. Desconcertantemente lindo, como minha tia o descrevera. Agora ele estava murmurando para o chão, seus cabelos louros embaraçados, calças enlameadas e braços arranhados, como se tivesse aberto caminho por um espinheiro. Um fio de saliva escorria brilhante por seu queixo como a trilha de uma lesma, e ele contraía e relaxava músculos dos braços que ainda não haviam degenerado. Uma policial tensa estava junto a ele, os lábios crispados de raiva, tentando ignorá-lo: piranha, piranha, piranha, eu disse, piranha.”

Garota Exemplar – Gillian Flynn

Esse livro apareceu por aqui no ano passado, mas agora apareceu o impulso de ler. Acredite. Abriu o livro (ou ligou o Kobo) você termina em poucos dias.

É um livro de suspense, cujo protagonista é Nick Dunne, um cara que aparentemente tem um casamento perfeito com a mulher de seus sonhos, Amy Dunne. Tudo isso acontece até o dia em que ela desaparece misteriosamente e Nick não consegue escapar do olhar alheio e se torna suspeito de ser o responsável pelo crime, sobretudo quando provas contundentes aparecem.

Essa história é inquietante, interessante e inteligente. A relação desse casal é algo próprio, que funciona para eles, igualzinho no mundo real, quando somente os próprios casais entendem sua dinâmica de relacionamento.

Há uma forte sexualidade nessa história, que embala momentos de tensão e suspense.

Aquela narrativa que rebate mentiras, apresenta evidências, passa por momentos de adrenalina é exatamente o que Gillian traz. Aliás, eu teria medo de conviver com essa autora, porque esse cérebro foi capaz de criar essa história.

Claro que há liberdades artísticas e no mundo real as coisas não aconteceriam desse jeito, mas quem se importa?

Importa que o filme sairá nos próximos meses, com direção de David Fincher, que fez um ótimo trabalho em Millennium.

Recomendo muito esse livro e aguardo o filme.

FDL

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Series Finale: Silk – 3ª Temporada

silks3

Primeiro mandamento sobre séries britânicas: não se apegue.

Elas são curtas, de uma irregularidade impressionante e geralmente duram poucas temporadas.

Com Silk não foi diferente. Teve uma excelente primeira temporada se seis episódios em 2011. Voltou em 2012 com mais seis episódios, mas não tão excelentes como na primeira temporada.

Somente agora em 2014 tivemos uma continuação. Curta também. Só que dessa vez foi anunciado ser a temporada derradeira.

Silk é um drama jurídico britânico, mas com algumas especificidades. Ao mesmo tempo que aborda os tradicionais casos da Justiça, ficamos diante das tramoias pelo poder em escritórios de advocacia.

O sistema inglês ajuda a deixar interessante um modelo de séries que talvez esteja desgastado. Acusação e defesa dividem os mesmos escritórios, trazendo os conflitos éticos e ideológicos de cada um.

O maior destaque dessa série é a atriz Maxine Peake, que interpreta a protagonista Martha Costello, uma advogada especialmente talentosa, com talento para a defesa, mas com reflexos em sua vida pessoal, sobretudo na tensão sexual/amorosa que tem com seu colega de escritório e rival, Clive Reader, interpretado pelo ator Rupert Penry-Jones, inclinado para a acusação, claro.

Com poucos episódios, ganchos e um elenco sensacional, essa série você assiste em maratona num dia só. Recomendo muito e deixa sua marca como um excelente drama inglês.

Pena que tenha durado tão pouco, porque seria fácil se acostumar a ver sempre Martha Costello na tv. Mas os ingleses são assim.

Recomendo muito.

FDL