“Eu estava voltando para a sala de interrogatório quando ouvi a voz do meu pai. Às vezes, em momentos particularmente vergonhosos, eu ouvia a voz dele em minha cabeça. Mas aquela era a voz do meu pai ali. Suas palavras emergiam em bolhas molhadas como algo saído de um pântano fedorento. Piranha, piranha, piranha. Meu pai, ensandecido, passara a lançar a palavra contra qualquer mulher que o aborrecesse mesmo que vagamente: piranha, piranha, piranha. Olhei para dentro de uma sala de reuniões e lá estava ele, sentado em um banco encostado na parede. Ele um dia fora um homem bonito, intenso e com um furinho no queixo. Desconcertantemente lindo, como minha tia o descrevera. Agora ele estava murmurando para o chão, seus cabelos louros embaraçados, calças enlameadas e braços arranhados, como se tivesse aberto caminho por um espinheiro. Um fio de saliva escorria brilhante por seu queixo como a trilha de uma lesma, e ele contraía e relaxava músculos dos braços que ainda não haviam degenerado. Uma policial tensa estava junto a ele, os lábios crispados de raiva, tentando ignorá-lo: piranha, piranha, piranha, eu disse, piranha.”
Garota Exemplar – Gillian Flynn
Esse livro apareceu por aqui no ano passado, mas agora apareceu o impulso de ler. Acredite. Abriu o livro (ou ligou o Kobo) você termina em poucos dias.
É um livro de suspense, cujo protagonista é Nick Dunne, um cara que aparentemente tem um casamento perfeito com a mulher de seus sonhos, Amy Dunne. Tudo isso acontece até o dia em que ela desaparece misteriosamente e Nick não consegue escapar do olhar alheio e se torna suspeito de ser o responsável pelo crime, sobretudo quando provas contundentes aparecem.
Essa história é inquietante, interessante e inteligente. A relação desse casal é algo próprio, que funciona para eles, igualzinho no mundo real, quando somente os próprios casais entendem sua dinâmica de relacionamento.
Há uma forte sexualidade nessa história, que embala momentos de tensão e suspense.
Aquela narrativa que rebate mentiras, apresenta evidências, passa por momentos de adrenalina é exatamente o que Gillian traz. Aliás, eu teria medo de conviver com essa autora, porque esse cérebro foi capaz de criar essa história.
Claro que há liberdades artísticas e no mundo real as coisas não aconteceriam desse jeito, mas quem se importa?
Importa que o filme sairá nos próximos meses, com direção de David Fincher, que fez um ótimo trabalho em Millennium.
Recomendo muito esse livro e aguardo o filme.
FDL