sábado, 12 de agosto de 2017

O Jantar – Herman Koch

o jantar

“A atriz me olhou da cabeça aos pés antes de falar.

- Sua esposa me diz que vão amanhã – comentou, e sua voz tinha algo artificialmente doce, como a substância no refrigerante light ou o recheio que usam em chocolates dietéticos, cuja embalagem diz que não irão engordá-lo...”

Herman Koch

Eu fui conhecer essa história após ver o trailer do filme. Aí, folheando livros na livraria eu acabei lendo a sinopse, juntei tudo e acabei me interessando.

Antes disso, tem algo nos livros muito comerciais que me irrita bastante. Aquelas frases destacadas, com trechos de jornais importantes ou comentários impactantes feitos por autores famosos. Tudo isso serve para referenciar a obra e fazer com que compremos o livro por conta da associação. Até tem nome isso: blurb.

Na orelha de O Jantar tem algo bem parecido:

blurb

Enfim, essas coisas criam expectativas. E com elas vêm responsabilidades. Daí, vem nossa exigência e com base nisso tudo posso concluir. O livro é bem mediano e o filme é ruim.

A história tem uma linha do tempo fragmentada. O principal é o jantar, entre dois casais, formados por dois irmãos e suas respectivas esposas. Mas a narrativa, feita por Paul, tem vários flashbacks e digressões, já que não há tantos acontecimentos e ocorrem, logo, muitas interpretações sobre eles.

Até aí tudo bem.

Paul é um ex-professor de história, casado com Claire, com quem tem o filho Michel. O irmão é Serge, um importante e famoso político, prestes a tornar-se primeiro ministro da Holanda. Ele é casado com Babette. Também tem filhos e um deles Beau, adotado em um país da África.

O livro é separado por capítulos que remontam todo o jantar em um restaurante sofisticado e pretensioso, cheio de frescuras. Tem capítulo da entrada, prato principal, sobremesa, enfim... o ponto é que em cada um desses momentos os acontecimentos vão ficando claros e os motivos desse jantar vão sendo mostrados tanto entre eles quanto para o leitor.

O narrador Paul é excessivamente verborrágico e tem grandes ressentimentos do irmão Serge, que parece ter charme para conquistar a todos, motivo de seu grande sucesso na carreira como político. Mas com os quatro personagens sentados à mesa a realidade não é o que parece.

Sem dar spoilers, o motivo do jantar é revelado e há problemas com os filhos dos casais, que envolvem decisões dos pais e um conflito ético com crime e castigo, que dá uma boa discussão.

Em diversos momentos, a acidez de Paul é interessante, como no trecho que selecionei acima. Em vários outros fica muito cansativo e repetitivo. Tudo é dito novamente e as situações parecem se repetir. Isso é ruim para um livro curto, que chega a 250 páginas em letras não muito compactas.

Além disso, alguns fatos são óbvios desde o começo, fazendo o suspense ser meio bobo. Claro que as consequências da revelação dos fatos são importantes também e me parece que é nisso que o livro faz melhor.

A personagem Claire é bem interessante e a visão que ela tem de seu filho e sobretudo a lógica que ela constrói para justificar os atos dele. Sobretudo, os dela, ao protege-lo de qualquer consequência de seus atos.

A revelação de hipocrisias familiares não é um assunto novo. Já está mais batido que qualquer outra coisa, por isso, se for explorado, tem que ser pelo menos de uma forma diferente ou que traga debates enriquecedores. Nisso esse livro não pecou.

As críticas à sociedade holandesa também foram boas.

A narrativa que me pareceu um pouco chata e arrastada.

Não gosto de um argumento que se usa muito ao opinar sobre livros que é o fato de que “não consegui me identificar com nenhum personagem”. Ora, que leiamos nossa autobiografia então. A proposta é conhecermos personagens e histórias diferentes, senão qual o propósito da leitura? E isso envolve também odiarmos um personagem, acharmos chato, ruim, malvado, enfim, são sentimentos da vida e muitas vezes essa é a proposta do autor.

O problema nesse livro é que nenhum personagem causa interesse. Aí é ruim. Não tenho vontade de gostar nem de odiar ninguém. Chega uma hora que leio esse livro e quero mesmo saber o que vai acontecer na história, mas não me importo muito com o final dos personagens.

Por isso achei o livro mediano. Tem partes boas e ruins. Mas fez promessas, não é? Complicado sair chamando de “Um Garota Exemplar europeu”.

De todo jeito, não rola um arrependimento de ter lido. Só não foi nada de impressionante. Acontece. Agora, o filme tinha um bom trailer, que prometia. Assisti no mesmo dia que terminei de ler.

o jantar filmeFilme: O Jantar (The Dinner)
Nota: 5
Elenco: Steve Coogan, Richard Gere, Rebecca Hall, Laura Linney, Chloë Sevigny
Ano: 2017
Direção: Oren Moverman

Então. Ah, que adaptação ruim. Nada tira isso da minha cabeça. O final desse filme bem que eu queria esquecer, mas não deu.

Houve diversas mudanças em personagens, passagens e situações. Não entendi o motivo por que foi alterado até o sentido da história, a crítica que o autor fazia à criação hipócrita dos adolescentes.

O filme ficou muito focado no personagem Paul, de Steve Coogan, que estava insuportavelmente chato e exagerado na atuação. Nada daquilo convencia.

Qual a utilidade do papel da atriz Chloë Sevigny? Não acrescentou em nada!

Por fim, aquele final péssimo, que teve a ideia de ser absurdo com uma comicidade de humor negro. Só foi ruim mesmo.

Não recomendo esse filme de jeito nenhum.

FDL

0 comentários: