sábado, 19 de agosto de 2017

O Advogado Rebelde – John Grisham

adv rebelde

“Em geral, sou um imbecil hipócrita quando meus clientes são notoriamente culpados. Mas, se me derem um homem inocente, eu exalo arrogância e superioridade. Sei disso e luto com todas as forças para dar a impressão, ao júri pelo menos, de que de fato sou uma pessoa amigável. Na verdade, não me importo se me odiarem, desde que não odeiem meu cliente. Mas, quando represento um santo como Doug Renfro, é essencial que eu vá até o fim igualmente zeloso, mas não ofensivo. Incrédulo com a injustiça, mas também confiável. ”

John Grisham

De longe esse foi o pior livro do Grisham que eu já li. E ainda passei ele na frente de outras opções porque queria uma opção confiável, na qual eu sabia com o que contar.

É o livro mais recente dele publicado no Brasil e deixou a desejar em dois aspectos: o narrador em primeira pessoa é muito chato, com uma descrição desinteressante sobre sim mesmo; além disso, a história é extremamente inverossímil, ainda que divertida e instigante.

O começo de O Advogado Rebelde é bem chato, tanto que liguei a luz laranja para abandoná-lo depois da página 50 se alguma mudança não acontecesse. É raro eu fazer isso.

Mas, de fato a leitura embala, porque a história tem um protagonista, o advogado Sebastian Rudd, que tem seu estilo peculiar de trabalhar e há uma divisão por capítulos, com casos em que ele trabalha bem demarcados, como se fossem contos.

Aliás, fica bem clara a linguagem televisiva do Grisham nesse livro. Fica evidente o interesse em transformar esse livro em uma série. Pode até dar certo, porque o protagonista até é carismático. Um narrador diferente teria deixado tudo mais interessante.

Uma passagem inicial nessa história particularmente me irritou e eu até marquei para não esquecer de como foi sem inspiração:

“...No interrogatório, eu a ataco com uma sede de vingança que parece espantar até Kauffman e Huver. Ela deixa a sala aos prantos. Em seguida, trazem sua imprudente filha, srta. Marlo Wilfang, que repete sua pequena narrativa sob a desajeitada indagação de Dan Huver, que agora já está completamente desarvorado. Quando ela é passada para mim, eu a conduzo docemente pelo caminho da paz, depois corto sua garganta de orelha a orelha em menos de dez minutos, ela está chorando, arquejando e desejando mil vezes nunca ter me chamado na arena...”

Esse é um dos exemplos da falta de inspiração. Cortou a garganta como? Deixou as mulheres aos prantos como? É um parágrafo inteiro dizendo: sou foda, não importa como, foi assim e acabou.

As histórias mais ao final do livro com o advogado ficam melhores, mas são excessivamente fantasiosas. Chega a irritar em alguns pontos. É melhor ligar a chavinha de leitor ingênuo para terminar esse livro.

Me parece que Grisham construiu um personagem bom, mas não teve paciência de criar boas histórias para ele e de narrar tudo de forma interessante e original.

De longe isso não me afasta do autor. Foi apenas um momento de baixa inspiração. Acontece com todos.

Só vi boatos pela internet que a ideia é de que haja continuações e espero que nelas o autor capriche mais.

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Ainda assim, como ponto positivo vale uma crítica em especial, em meio a tantas, que Rudd faz ao sistema criminal americano, ao modelo de guerra às drogas, que também ocorre no Brasil:

“Jovens e negros, quase todos eles. Segundo os números, estão presos por crimes não violentos relacionados a drogas. A pena média é de sete anos. Depois da soltura, sessenta por cento estarão de volta aqui em três anos.

E por que não? O que há do lado de fora para evitar sua volta? Eles agora são criminosos condenados, uma marca da qual jamais conseguirão se livrar. Desde o começo, as probabilidades estavam contra eles e, agora que estão rotulados como criminosos, a vida no mundo livre deve de alguma forma melhorar? Eles são as verdadeiras baias de nossas guerras. A guerra contra as drogas. A guerra contra o crime. Vítimas involuntárias de leis duras passadas por políticos duros nos últimos quarenta anos. Um milhão de jovens negros agora armazenados em prisões decadentes, passando os dias no ócio à custa do contribuinte.

Nossas prisões estão lotadas. Nossas ruas estão cheias de drogas. Quem está vencendo a guerra?

Nós perdemos o juízo”.

FDL

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