sexta-feira, 25 de agosto de 2017

A Balada de Adam Henry – Ian McEwan

A-Balada-de-Adam-Henry“Vou lhe dizer por que estou aqui, Adam. Quero ter certeza de que você sabe o que está fzendo. Algumas pessoas acham que você é jovem demais para tomar uma decisão como essa e que foi influenciado por seus pais e pelos líderes da congregação. E outros acham que, como você é extremamente inteligente e capaz, deveríamos apenas deixar que siga em frente.”

Ian McEwan

Já estava curioso com essa leitura há algum tempo, porque recebi boas indicações. Até fiquei surpreso com o tamanho do livro quando chegou. É versão menor com 190 páginas. Termina-se rapidinho e sem muitas paradas, seja pelo ritmo da narração, seja pela qualidade da história.

A história se passa na Inglaterra e tem como protagonista a juíza Fiona Maye, de um tribunal superior que trata de direito de família. Ao longo das primeiras páginas conhecemos o teor de alguns casos com que ela trabalha e, ainda que com muita humanidade, já faz de forma mecânica. Além disso, Fiona encara uma crise no seu casamento, mesmo depois de tanto tempo.

A situação que ocorre pra incomodar o marasmo é o caso de Adam Henry, um adolescente com 17 anos e leucemia. Seu tratamento precisa urgentemente de uma transfusão de sangue para que ele tenha chances e não morra. Ocorre que Adam e sua família são testemunhas de Jeová, religião que se opõe fortemente às transfusões, preferindo a morte a recorrer a esse tipo de procedimento.

Como Adam tem 17 anos e se recusa ao tratamento, o processo pedia que a juíza verificasse se ele tinha “competência de Gillick”, caso no qual o jovem já está intelectualmente e emocionalmente apto a decidir sobre sua própria saúde.

Nesse caso que envolve um conflito entre direito à vida, liberdade religiosa e tutela dos interesses de um adolescente, a juíza acaba conhecendo Adam e se aproximando dele, que é inteligente e artisticamente sensível. Como ela passa por um momento difícil da vida, essa aproximação mexe com a magistrada. O resto é spoiler.

Esse tema da transfusão de sangue com testemunhas de Jeová para quem estudou direito já é bem batido. Para quem não é da área eu não sei se é de conhecimento generalizado. Ainda assim, gostei do paralelo que isso tem com a vida pessoal da própria juíza. Isso é assim porque em ficção no geral o a figura do juiz é a do sisudo velho atrás da bancada batendo o martelinho, sem humanidade por trás.

O livro é bem interessante e tem diversas passagens com boas reflexões e discussões a respeito de religiosidade, postura ética do magistrado, relações de casamento quando se aproxima a terceira idade, a relação do ser humano quando se vê à beira da morte, enfim, são páginas ricas em conteúdo, sem a menor dúvida.

Gostaria de ter me apegado um pouco mais a essa personagem? Sim. Fiquei sentindo que faltou algo que não sei explicar? Também. Até por isso, apesar de achar que é um bom livro, não está no topo da minha lista nesse ano.

Esse autor é muito respeitado e tem várias obras famosas e recomendadas. Tenho interesse em lê-lo novamente e mesmo que não tenha ficado tão empolgado assim, deixo minha recomendação.

FDL

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