segunda-feira, 31 de julho de 2017

Phil Spector

phil spectorFilme: Phil Spector
Nota: 8
Elenco: Al Pacino, Helen Mirren, Jeffrey Tambor
Ano: 2013
Direção: David Mamet

Depois de ter lido O Segredo dos Corpos, percebi que tinha me faltado assistir a esse filme, que foi lançado há alguns anos e foi bem recebido pela crítica, até sendo indicado a alguns Globo de Ouro.

Segue a sinopse:

“O filme conta a história real do produtor musical Phil Spector (Al Pacino) durante o processo em que foi acusado de assassinato, e sua relação com a advogada Linda Kenney Baden (Helen Mirren). Ela assume o caso já em andamento e, mesmo doente, tenta encontrar provas balísticas para apresentar ao júri e provar a inocência de seu cliente. A única maneira de encenar as provas é chamando Spector como testemunha, mas antes tem que prepará-lo para isso.”

Gostei do foco que a HBO deu a essa produção. Não se trata de situações mirabolantes em tribunais ou de polícia identificando fios de cabelo no chão. É um filme completamente focado na relação entre advogado e cliente no decorrer de um processo como esse.

Linda é uma advogada experiente e Phil Spector um excêntrico personagem do showbusiness. A relação dos dois se dá no tenso e árido cenário de um julgamento por homicídio e um precisa do outro para obter sucesso, em uma relação que precisa ser de cumplicidade e confiança.

Gostei que o filme não retratou Spector de forma carismática, pois a inversão de valores tem me cansado nas obras do cinema. Parece que ser um criminoso do mal é virtude ultimamente.

A história retratou humanos, com vaidades, fraquezas, maldades e sobretudo inseguranças ocultas quando estão diante de uma situação que irá mudar suas vidas para sempre.

Em alguns momentos as falas de Phil Spector são muito longas e cansativas. O filme quase não tem história para segurar 1h30, mas no final acho que o trabalho é interessante como um todo.

Ambos os atores estavam excelentes, nem tem o que dizer de Al Pacino e Helen Mirren.

Recomendo ligar o streaming aí num dia frio para se deparar com a frieza da natureza humana.

FDL

domingo, 30 de julho de 2017

O Segredo dos Corpos – Dr. Vincent Di Maio & Ron Franscell

segredo-dos-corpos-livro-darkside-banner

“Não faço necropsias em pessoas. Faço necropsias em cadáveres. Uma pessoa é algo vivo, vibrante e único. Cadáveres são apenas o que elas deixaram para trás”.

“Às vezes, não querem ouvir o que digo, e outras digo exatamente o que querem ouvir. Seja como for, não importa: eu sempre falo a verdade.

Não tomo partidos. O que eu sei é vital: como eu me sinto é irrelevante. Como patologista forense, tenho um compromisso com a verdade. Presume-se que eu seja imparcial e diga a verdade. Fatos por si só não têm qualidades morais; nós que atribuímos moralidade a eles”.

Dr. Vincent Di Maio & Ron Franscell

Esse livro foi lançado há pouco tempo pela editora Darkside, em uma coleção chamada Crime Scene, com obras que investigam e retratam crimes reais e todo esse cenário que gera muita curiosidade e que, até pelo assunto, gera muita desinformação.

Aproveitei minha onda de interesse por crimes reais reacendendo e li o livro, que por sinal, mais uma vez, tem uma arte gráfica extremamente bem feita e acabada. Tanto na capa dura cheia de detalhes, quanto no conteúdo, repleto de marcas.

Vincent Di Maio é um patologista forense muito respeitado nos EUA, com décadas de experiência. Nesse livro ele fala de sua biografia e de casos marcantes nos quais ele atuou. Vários deles são bem famosos, o que se torna um livro de true crime pelo ponto de vista médico legal.

Já adianto que há várias páginas em que ele fala sobre sua infância e suas raízes, além de experiências pessoais como estudante e sobre seu pai, cuja profissão seguiu. É bem desinteressante e maçante. Mas faz parte do todo, enfrentemos.

O autor vai dividindo seus relatos por capítulos e em cada um mostra como foram as experiências dele com os crimes em cada caso e como contribuiu na solução dos fatos, muitas vezes extremamente equivocados.

O primeiro caso que ele relata envolve o segurança George Zimmerman e o jovem negro Trayvon Martin. Em uma situação de confronto, o primeiro atirou no segundo, o matando. É um caso com provas circunstanciais e muitas acusações de crime racial, com manifestações até do presidente da república.

O autor conta que com sua análise balística, levando em consideração dados sobre tiros de contato e marcas sobre roupas, a posição dos envolvidos no momento do disparo era diferente do imaginado, revelando uma legítima defesa e afastando as impressões anteriores.

Esse primeiro caso já mostra a resistência que o autor tem a grupos de pressão que utilizam a mídia. Ele é extremamente crítico a isso, até conservador em alguns pontos, porque se utiliza da ciência como método de obtenção da verdade, que pode ser encoberta pela exposição de versões não comprovadas.

É no segundo capítulo que o autor divaga sobre sua vida pessoal e explica o sistema da patologia forense americana, tecendo várias críticas. Como já mencionei, é bem desinteressante.

Em seguida, ele retrata um caso que chama bem mais a nossa atenção: Martha Woods.

Trata-se de uma mãe que leva os filhos ao hospital e eles estão cianóticos e sufocantes e as crianças acabam morrendo. Utiliza-se como causa a morte súbita infantil, o que o autor crítica, pois é atestar não se descobrir o que matou a pessoa.

Mas um médico investiga a vida da mãe e descobre um passado cheio de abortos e mortes suspeitas de crianças, levantando a suspeita que é confirmada após a perícia, que atestou o sufocamento das crianças causadas pela mãe, que era, na verdade, uma serial killer.

Martha foi condenada e morreu na cadeia. Não havia nessa época conhecimentos sobre a Síndrome de Münchhausen por transferência.

No quarto capítulo é contada mais uma história que teve a mídia interferindo: dois homens explodiram dentro de um carro, havendo dificuldade de identificação.

Eram, na verdade, dois ativistas radicais do movimento negro, que carregavam uma bomba para possivelmente cometer um atentado em um fórum, nos anos 70.

A causa da explosão não foi descoberta, mas toda a disputa de acusações entre os movimentos teve a verdade mostrada apenas com a perícia. Ressalto nesse capítulo a grande resistência do autor a movimentos negros e comunistas. Não acho que tinha de defender, mas se ele explicitou sua imparcialidade quanto aos fatos, por utilizar a ciência forense para a obtenção da verdade, também deveria isentar-se politicamente.

O caso seguinte é sobre Lee Harvey Oswald, o assassino do presidente John Fitzgerald Kennedy.

Houve muita discussão, no auge da guerra fria, sobre conspirações que escondiam a verdadeira identidade do assassino, havendo uma fraude na identificação do morto, sepultando um substituto para enganar o povo.

Para isso, o autor conta ter participado de uma exumação para se certificar completamente do trabalho feito, assegurando que as teorias conspiratórias não passavam de delírios de paranoicos políticos.

Ressalto que esse capítulo tem descrições absolutamente nojentas e grotescas a respeito do estado do corpo, do trabalho de necropsia e até mesmo da exumação. Tem que ter estômago forte nesse aí.

No caso seguinte, no 6º capítulo, o autor conta a história da enfermeira Genene Jones, uma mulher realmente bizarra.

Tal qual no caso de Martha Woods, crianças morriam misteriosamente sob seus cuidados, passando-se anos sem que houvesse suspeitas. Mas após investigações e perícias, descobriu-se que a enfermeira envenenava as crianças com uma droga paralisante indetectável na época, causando mortes realmente dolorosas e sem rastros.

Nesse capítulo há uma discussão mais aprofundada sobre as críticas do autor ao diagnóstico por SMS (síndrome da morte súbita).

Há no final uma crítica que chama bem a atenção quanto à diferença do sistema criminal americano com o brasileiro: o autor menciona o fato de que Genene pode sair da cadeia em 2018, sendo a primeira serial killer americana posta em liberdade, acusando uma falha do sistema.

Em seguida, o autor conta casos mais rápidos. O primeiro é do imigrante ilegal Martin Frias, que morava em um trailer com a mulher e a encontrou morta com um tiro de rifle. Foi acusado e condenado pelo homicídio e somente após a perícia foi constatado o suicídio da mulher, que tinha histórico de depressão.

Além desse caso, ele fala sobre o caso de um coronel, que foi encontrado enforcado, deixando um bilhete com suspeitas de perseguição. Houve suspeitas de terrorismo e um clima de tensão no país. Ocorre que a perícia atestou um suicídio, descoberto depois que fora motivado para obtenção de um seguro de vida, já que a família passava por dificuldades financeiras.

Nesse capítulo selecionei um trecho que me fez pensar, porque a família do homem jamais aceitou a hipótese do suicídio, ainda que com robustas provas forenses deixando isso evidente.

Com relação a isso, o autor escreveu:

“Não tenho como saber o verdadeiro motivo dessas mortes. Está além da minha compreensão. Temos ferramentas fantásticas que nos permitem analisar vestígios microscópicos de fatos consumados, mas não há ciência capaz de detectar resquícios de medos, pesadelos, e demônios internos que os causaram. O coração humano não é um disco rígido que podemos dissecar para perscrutar os segredos que encerram cada tecla pressionada ao longo de uma vida. Tenho certeza de que as famílias do General Ownby e do coronel Shue gostariam de saber ainda mais do que eu.

Corações se partem, ainda que não deixem vestígios.

Morrer é, às vezes, mais fácil do que viver com a morte.”

P_20170804_223803

O último caso desse capítulo é o de Kevin Hunt, homem negro acusado de matar o enteado de 02 anos. Em um caso cheio de preconceitos e racismo, o erro foi descoberto somente após a verificação de equívoco crasso em necropsia: o menino tinha falecido de morte natural e os ferimentos não eram de agressão, mas sim de tentativa de reanimação.

Houve perseguição implacável da promotoria nesse caso e Kevin acabou aceitando um acordo de admissão de culpa num segundo julgamento, para não correr o risco de ser condenado a uma prisão perpétua em um sistema que esteve contra ele o tempo todo.

O autor lamenta que a medicina forense não possa ter ajudado nesse caso a trazer justiça e mostrar a verdade sem sombra de dúvidas.

Os casos finais mostram os trabalhos mais famosos de Di Maio.

O primeiro dele envolve a sua participação no caso de Phil Spector, cujo julgamento chamou a atenção do mundo todo.

Phil Spector é um grande produtor musical americano, trabalhando com vários nomes, inclusive os Beatles (produziu Let it Be). Mas quando ficou mais velho e passou a ficar esquecido, sua vaidade sofreu com isso, já que sua fama é tudo que tinha.

Spector levou uma garçonete e atriz fracassada para sua casa e ela é encontrada com um tiro na boca. Ele é acusado de mata-la, mas ele diz que ela se matou em um jogo sexual, já que tinha histórico de depressão.

Di Maio é contratado como perito da defesa e discorre sobre a visão de que profissionais gabaritados são contratados a peso de ouro em julgamentos assim, ficando com fama de mercenários.

O caso envolveu advogados e peritos de outros julgamentos famosos, como O.J. Simpson e Menendez, mas o excêntrico milionário foi condenado em seu segundo júri, conseguindo ainda escapar do primeiro.

Com isso, lembrei que houve um filme sobre esse caso que eu não tinha visto. Acabei vendo no mesmo dia e falarei sobre ele depois.

O caso seguinte é bem famoso também, conhecido como West Memphis, ou Devil’s Knot, enfim, aquele em que três meninos foram brutalmente assassinados e torturados em uma pequena cidade interiorana nos EUA.

A questão nesse crime é a de que três adolescentes foram presos e condenados, mas com base em boatos, superstições e teimosia da investigação, sem provas reais.

O autor do livro é convidado pelo advogado a analisar as provas forenses obtidas e encontra tudo errado: inchaços que foram base para conclusão de estupro não passavam de reações normais de corpos submersos, lesões atribuídas aos supostos autores foram causadas por animais, enfim, vários erros.

Por isso, em um twist carpado jurídico, o caso foi reaberto e os condenados libertados, mas sem reconhecimento de erro por parte das autoridades policiais e judiciais.

Di Maio ressalta que não sabe a verdade até hoje e podem sim ter sido os condenados quem cometeram o crime. Mas provas para isso não houve. Se a investigação não fosse tão contaminada, talvez tivessem obtido elementos robustos para uma versão próxima da verdade.

Quanto a esse caso, há diversos documentários, filmes, livros. Até comentei aqui já o “Sem Evidências”, há alguns anos.

É um crime perturbador, pela violência e pela ignorância que todos ficam com relação à verdade, que nunca foi nem será descoberta.

O caso final diz respeito à reanálise da causa mortis do famoso gênio pintor perturbado Vincent Van Gogh, cujo falecimento era cheio de dúvidas, que foram elucidadas após um trabalho forense.

No fim, o livro que parece curto é bem cheio de dados, informações e histórias, porque é contado por um objetivo cientista, sem enrolações.

Recomendo muito, porque abre nossa mente sobre um trabalho que é desconhecido por muitos ou romantizado pelos filmes e seriados, mas envolve muito estudo, dedicação, riscos, desconfortos e uma procura incansável pela verdade.

Valeu muito a pena essa leitura.

FDL

sexta-feira, 28 de julho de 2017

Louis C.K. 2017

louis-ck-2017-netflix-comedy-special-poster

Percebi que a Netflix lançou vários especiais de comédia no estilo stand up nesse ano. Depois da boa experiência com o da Sarah Silverman, resolvi assistir ao do Louis C.K., que eu nunca tinha visto nenhum, mas estava bem impressionado com os monólogos que ele fez no Saturday Night Live nos últimos anos.

O especial é bom, mas não me matei de rir. Acho que ele começa meio morno e vai ficando melhor só no final mesmo. Ele também fez várias piadas que me davam a sensação de que eu já tinha ouvido. Às vezes nem tinha, mas não passou a impressão de que era algo novo.

Ele tem, acima de tudo, um jeito engraçado, principalmente pela ironia e o deboche suave que ele tem ao falar. Por isso, acaba sendo uma boa opção de comédia ultimamente.

Não é o melhor stand up que eu já vi na vida, longe disso, mas o Louis é um cara engraçado e vale a pena conhecer. Às vezes é o nosso estado de espírito no dia também.

Ainda que sem entusiasmo, recomendo.

FDL

quinta-feira, 27 de julho de 2017

Misery – Louca Obsessão – Stephen King

misery - stephen king“Mas personagens de história NÃO! Deus leva a gente quando chega a hora e um escritor é Deus para as pessoas da história, ele cria elas assim como Deus criou a gente e ninguém sabe onde Deus está nem tem como fazer Ele explicar nada, sim, tudo bem, mas escute o que eu vou dizer, seu coisa feia, e escute bem: no caso de Misery, Deus está com as duas pernas quebradas e Deus está na MINHA casa comendo da MINHA comida... e...”

“Ele viu que ela mal prestava atenção. Era a segunda vez em que ela não demonstrava menor interesse nos truques do ofício que fascinariam toda uma turma de aspirantes a escritor. Ele achava que o motivo era bem simples. Annie Wilkes era a plateia perfeita, uma mulher que adorava as histórias sem se importar nem um pouco com a mecânica por trás dos panos. Ela era a encarnação do estereótipo vitoriano do Leitor Fiel. Ela não queria saber de bíblias e índices, pois para ela Misery e os personagens que a rodeavam eram perfeitamente reais. Índices não queria dizer nada para ela. Se ele tivesse falado do censo populacional de Little Dunthorpe, talvez ela tivesse se interessado”

Stephen King

Esse livro foi um enrosco esse ano. Comecei a ler em abril, mas depois de contratempos e compromissos, tive que suspender essas leituras para focar em outros assuntos. Acabei retornando apenas no começo desses mês, mas não muito empolgado com o andamento.

O filme dos anos 90, Louca Obsessão, é um dos meus preferidos e acabei lendo esse livro, que foi meu primeiro Stephen King, por causa disso.

Nunca escondi que não sou fã dele. Acho irregular. Embora tenha gostado muito de algumas produções inspiradas em livros dele, outras foram realmente péssimas.

Só que sempre esperamos o mais recorrente: nenhum filme chega aos pés do livro. Raramente ocorrem exceções e com Misery – Louca Obsessão ocorreu exatamente isso.

A história é excelente, muito parecida com o filme.

A obra mostra Paul Sheldon, um famoso escritor de livros de mulherzinha que cansou de sua protagonista, Misery, a matando em seu último trabalho e escrevendo um novo, com o que considera recuperar o prazer na profissão.

Quando está indo entregar seu manuscrito à editora, o autor sofre um acidente de carro na neve, sendo socorrido por Annie Wilkes, uma suposta enfermeira, que diz ser sua fã número um. Acontece que ao acordar em uma cama, sem poder se mover após os machucados, Paul começa a perceber que algo não vai bem com Annie, cuja intenção se mostra cada vez mais distante de um dia deixa-lo sair dali.

A coisa ainda piora quando Annie descobre que Paul matou Misery em seu último livro...

Os pontos positivos são que Stephen King não é um dos mais respeitados autores em suspense/terror à toa. Os momentos de tensão são realmente fortes e marcantes. Ele consegue te prender, te deixar ansioso a ponto de esquecer o mundo à volta.

Além disso, o livro não poupa passagens violentas e grotescas, que são bem mais leves no filme dos anos 90.

Porém, aí vem o problema, que pode conter spoilers: boa parte do livro se passa com Paul preso a uma cama, logo, um recurso muito utilizado é o do delírio dele se misturando com a realidade, por conta da loucura do isolamento e dos fortes remédios que era obrigado a tomar.

Essas passagens foram incrivelmente chatas e repetitivas, uma encheção de linguiça pura.

Além disso, há passagens com trechos do livro que ele passa a escrever nesse cárcere e essa história tem várias páginas completamente desinteressantes.

Claro que esses recursos serviram para dar mais densidade à história, que é cheia de referência a outras obras literárias, músicas, cultura americana no geral. Mas cansa perceber que isso é inserido em lacunas para preencher um espaço que não deveria estar lá.

Por isso acabei demorando muito para terminar, porque o meio dessa história tem uma enorme barriga.

De todo modo foi uma boa experiência e o final do livro é bem interessante.

Quem sabe no futuro leio uma outra obra desse autor e fico mais impressionado? Ainda assim nada muda sobre as minhas impressões sobre o filme, que é um clássico do suspense/terror.

Recomendo.

FDL

quinta-feira, 20 de julho de 2017

Sarah Silverman: A Speck of Dust

SarahSilverman_Netflix

O último stand up que apareceu da Sarah foi em 2013, na HBO, o We Are Miracles. Não sei por que eu não postei nada por aqui. Aliás, até achava que tinha postado, mas era uma época complicada.

Agora, há algumas semanas, a Netflix anunciou um novo show com ela, chamado A Speck of Dust. Então, esperei estar tranquilo e me divertir com essa mulher, que é inigualável.

O show é mais do mesmo: Sarah no palco sem figurinos e adereços, apenas com sua voz falando absurdos milimetricamente pensados, sendo extremamente debochada e engraçada, mas não sem fazer severas críticas à hipócrita sociedade elitista.

Em apresentações anteriores, Sarah falou de assuntos considerados tabus, como religião, política, aborto, racismo, estupro, enfim... Nesse ela optou por falar de: religião, política, aborto, racismo, estupro. Quem achava que o assunto dela estava esgotado se enganou. Quem achou que ela tinha atingido o ápice do politicamente incorreto se enganou novamente.

A diferença aqui é que ela não fez as apresentações musicais, que também são muito boas. Senti falta.

Alguns exemplos de assuntos que ela explorou em forma de comédia:

Ela mencionou que sua irmã tinha uma amiga e quando a foi cumprimentar, estendeu a mão, mas a mulher tinha ganchos no lugar da mão, que ela fingiu não notar e sacudiu como se nada tivesse acontecido.

Ela escrotiza geral dizendo que os padrões de beleza que a sociedade impõe são impossíveis e já começam na infância, dando Barbies para as crianças. Sorte a dela ter os lábios da Angelina Jolie, pelo menos dentro da calcinha.

Sarah passou por uma fase muito dedicada à política, sendo uma dura crítica de Donald Trump. Eu imaginava que não seria um show no estilo que eu gosto, pois poderia falar apenas desses assuntos. Ao contrário, eles foram tocados de forma bem sutil, deixando tudo muito interessante.

Uma das passagens mais marcantes, que me deixou com aquele sorrisinho de canto ao notar a ironia ocorreu quando Sarah mencionou em uma outra piada situações delicadas de violência ocorrida nos ambientes familiares no passado. Ela faz um parênteses e diz “when America was great...”

Gostei ainda mais disso porque é uma sensação que eu tenho sempre quando vejo pessoas conservadoras argumentando. O mundo não era maravilhoso no passado e não está nada bom agora. As novas gerações precisam mudar algo, porque não está tudo bem.

Ela podia estar sempre na televisão, no cinema, na internet. Mas talvez seja bom assim, porque sempre dá um ânimo ver Sarah Silverman fazer comédia pesada sem sentir a necessidade de ofender ninguém.

Não é para todo mundo. Não é sensível e delicado. Mas é muito verdadeiro.

FDL

quarta-feira, 19 de julho de 2017

Veep – 6ª Temporada

veeps6

Essa série só melhorava. Estava em um ascendente impressionante. Nessa temporada, que terminei de ver ontem, deu uma estabilizada, até mesmo uma caída.

O que deixa Veep melhor é o diálogo e a atuação de Julia Louis-Dreyfus. Isso ficou impecável, cada vez melhor.

A história que deu um sinal de desgaste, afinal, ela perdeu a presidência e passou a temporada inteira patinando com o oportunismo de tentar fazer seu nome de alguma forma.

É impressionante como cada vez mais Selina é uma pessoa horrível e falsa. Me sinto mal em torcer para que ela se dê bem. Talvez seja porque só em uma série a gente veja a real face de um político, porque os bastidores são mostrados.

O elenco ainda estava ótimo e a capacidade de piadas sujas ultrapassa os limites. É um alívio em um momento tão ruim para as comédias.

Recomendo ainda e aguardo a próxima temporada no ano que vem.

FDL

segunda-feira, 17 de julho de 2017

Meu amigo Dahmer – Derf Backderf

DarkSide_Dahmer_Post_01

“Como ele andava por lá fedendo a bebida no horário de aula? Eu ainda não entendo. Todos os alunos sabiam o que Dahmer fazia... Mas não teve um professor ou funcionário do colégio que notou. Nem mesmo um.

Será que eram mesmo tão distraídos? Ou só não queriam se incomodar?”

Derf Backderf

Vi a notícia sobre o lançamento desse livro e fiquei interessado. Dizia que um colega de escola de um famoso serial killer recontaria seus tempos de estudante para saber como o menino se tornaria em um sanguinário assassino.

Em um primeiro momento eu não associei o nome à pessoa famosa e até achei que esse livro seria uma obra de ficção. O que me chamou a atenção mesmo é o formato, pois seria contado em forma de hq. Como não tenho o habito de ler esse tipo de livro e o tema me interessa, achei que seria uma boa oportunidade. E foi.

Somente depois de pesquisar entendi que se trata de uma história real, do assassino Jeffrey Dahmer. Já tinha lido sobre ele em alguns livros do assunto e ele é pavoroso. Ficou mais interessante ainda essa obra.

Esse livro é narrado pelo autor, que teve contato com Dahmer durante o Ensino Médio em uma escola americana. Nunca chegaram a ser grandes amigos, mas o assassino era uma “figura” da colégio por conta de sua personalidade estranha.

Em meio a memórias que nem têm tanta relação com Dahmer assim, o autor traz um questionamento muito válido: havia vários sinais na juventude de que algo de muito errado havia com ele, mas absolutamente ninguém notou. Por isso selecionei esse trecho para epigrafar esse post.

Claro que é ressalvado que não se trata de mudar a essência de Dahmer, porque seus instintos aparentemente não poderiam ser modificados. Todavia, com certeza poderia ter sido impedido antes de cometer tantos crimes tão violentos. Esse é o ponto do autor. Ninguém dá atenção aos “invisíveis”.

O livro é de capa dura e como não poderia ser diferente com essa editora, tem uma arte e acabamento impecáveis. Dá gosto de deixar na prateleira depois de ler. Melhoraram também a qualidade do papel, muito boa.

Depois de ler esse livro em apenas um dia (apesar de gordo, não há muito conteúdo, por causa das ilustrações), precisei reler sobre os assassinatos de Dahmer em si, porque esse “Meu Amigo Dahmer” não trata especificamente sobre esse período dele.

Por ser um dos mais famosos casos de assassinatos em série, a história de Dahmer é retratada em praticamente todos os livros que tratam do assunto: Harold Schechter, Ilana Casoy, Michael Newton (pelo menos são os que eu tenho aqui).

Muito interessante ler sobre essa história e a discussão que ela traz. Me deu vontade de voltar a ler sobre true crime. Material sobre o assunto não falta.

Recomendo.

FDL