domingo, 31 de maio de 2015

Tempo de Matar

tempo de matar“Pediu a todos que fechassem os olhos e ouvissem o que ela ia dizer. Pediu-lhes que imaginassem que a menina tinha cabelos louros e olhos azuis, que os dois violadores eram negros, que eles tinham amarrado o pé esquerdo dela numa cerca e o direito numa árvore. Que a violaram repetidamente e a insultaram porque ela era branca. Pediu-lhes que imaginassem a garotinha ali deitada, chamando pelo pai, enquanto eles lhe davam pontapés na boca, quebrando-lhe os dentes, quebrando -lhe os maxilares, o nariz. Disse-lhes que imaginassem dois negros bêbados entornando cerveja em cima dela e urinando no seu rosto e rindo como, anormais. E depois acabou por lhes dizer que imaginassem que a garotinha lhes pertencia, que era sua filha. Recomendou-lhes que fossem honestos com eles mesmos e que escrevessem em um papel se matavam ou não aqueles negros miseráveis se pudessem. E eles votaram, voto secreto. Os doze, todos, disseram que cometeriam o assassinato. O primeiro jurado contou os votos. Doze a zero. Wanda disse-lhes que estava disposta a ficar sentada naquela sala até ao Natal, mas que nunca votaria pela condenação, e se todos fossem honestos consigo próprios, pensariam da mesma maneira. Dez concordaram com ela e houve uma mulher que se opôs. Todos desataram a gritar e a censurá-la com palavras tão duras que ela, por fim, acabou por ceder.”

John Grisham

Acabei demorando para ler esse livro completamente. Como desculpa uso o fato de ser bem longo.

Trata-se do romance de estreia do escritor John Grisham, o que o lançou ao estrelato e à façanha de lançar um best seller por ano.

Talvez tenha sido o livro mais contundente que eu li desse autor. “O Recurso” também é, só que mais pelo pessimismo. Tempo de Matar impressiona pelo retrato cru de uma realidade que fingimos não ver.

Apesar de haver um plano de fundo envolvendo julgamento, assassinato, estupro, pena de morte, justiceiros e a advocacia, esse livro trata de forma incisiva mesmo o racismo. Este crime permeia todas as relações desse livro, até as mais banais.

Peguei a sinopse no Skoob:

“Dois homens brancos espancam e violentam impiedosamente uma menina negra de dez anos, numa pequena cidade ao sul dos Estados Unidos. A população da cidade - Clanton, no Mississipi -, apesar da significativa maioria branca, reage com choque e horror ao crime desumano. Mas o drama da menina Tonya e de sua família não pára por aí. Ele ganha dimensão nacional a partir do momento em que o pai da menina consegue um fuzil emprestado, relembra seus tempos no Vietnã e mata os estupradores. A opinião pública se divide e o jovem advogado, Jake Brigance, que assume a defesa, terá que enfrentar toda sorte de perseguições, principalmente por parte da violenta Ku Klux Klan.”

O personagem de Jake Brigance é interessante, porque não esconde utilizar o julgamento para alavancar sua carreira. Além disso, é cercado de pessoas que andam no limite da falta de ética profissional, se aproveitando dos benefícios de desonestidade sem, de fato, meter a mão na sujeira.

Escolhi esse trecho específico do livro para epigrafar esse post porque revela o cerne do assunto tratado por Grisham. Será que negros e brancos são julgados da mesma forma? E será que deveriam?

O meio do livro é excessivamente enfadonho, se perdendo em diálogos repetitivos e pormenores que não acrescentaram em nada. Nos livros seguintes Grisham foi mais dinâmico.

Por outro lado, a passagem do julgamento é de arrepiar, sobretudo com o texto tão lúcido e inteligente.

Claro que é uma trama rocambolesca, cheia de emoções que fogem da realidade. Mas pra isso serve a ficção e a fantasia, que, nesse caso, ainda trouxe um belo de um debate para as nossas consciências.

Acabei lendo esse livro por passa-lo na frente de outros, mas o motivo é justificável: em 2014 (comprei no natal agora) Grisham lançou “A Herança”, que se trata de uma continuação de “Tempo de Matar”, mais de 20 anos depois. Tudo isso me fez ter que ler esse livro logo. Não me arrependi.

Claro que como todo bom livro dele temos o seu respectivo filme. Eis:

 

MV5BMjIwMzI2NTk3N15BMl5BanBnXkFtZTgwMDgxNTYxMTE@._V1_SX214_AL_Filme: Tempo de Matar (A Time to Kill)
Nota: 9
Elenco: Matthew McConaughey, Sandra Bullock, Samuel L. Jackson, Kevin Spacey, Oliver Platt, Donald Sutherland, Kiefer Sutherland, Ashley Judd e como sou muito atento, vi Octavia Spencer como uma enfermeira sem fala que apareceu rapidinho.
Ano: 1996
Direção: Joel Schumacher

 

 

 

 

Joel Schumacher já tinha dirigido outro filme baseado em livro do Grisham: O Cliente.

Quando eu vejo esse elenco, sobretudo que tem participação do Kevin Spacey, me revolto por não ter lido/assistido antes. O que importa é que a hora chegou.

Dificilmente vemos isso, mas para um livro excelente, o filme excelente. Ótimos atores, escalados como eu imaginei os personagens.

A cena de enfrentamento entre a comunidade negra e a KKK na frente do tribunal ficou excelente, de arrepiar.

Mudança que não gostei: algumas interferências do personagem Carl Lee foram diferentes do livro e achei desnecessário. Deixou o advogado em situação de incompetência e transformou o réu em herói. Prefiro a quebra de maniqueísmo do Grisham, que fez o personagem vacilar em vários momentos. A cena do policial que perdoa Carl Lee foi estragada por esse pitaco. Não gostei disso.

Mudança que gostei: o trecho que epigrafei o post, no livro é mencionado sobre uma fala de uma das juradas nas deliberações. Ela diz isso aos outros jurados enquanto debatiam. O filme supriu uma falha do livro, que suprimiu a alegação final de Jake, dando um pulo no tempo até o final do julgamento. Para isso, de forma inteligente essa fala que inverte o perfil racial de vítimas e réus no processo foi dita por Jake, em uma cena muito bem feita, a qual aplaudo de pé a atuação de Matthew McConaughey.

Posso ser bem ranzinza e dizer que se no livro cortam o cabelo de Ellen Roark, por que não fizeram o mesmo com Sandra Bullock? Deixa pra lá.

De todo modo, recomendo filme, livro, tudo.

FDL

quinta-feira, 14 de maio de 2015

Season Finale: Secrets And Lies – 1ª Temporada

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Quando vi os anúncios do ano passado sobre novas séries, percebi na hora que essa seria imperdível.

A sinopse traz Ryan Phillippe como um pai de família que vai fazer sua corrida matinal em um dia chuvoso e encontra o corpo do seu vizinho de 5 anos num matagal. A investigação recai sobre ele como principal suspeito, que, para piorar, não lembra do que fez no dia anterior.

Conforme a temporada de 10 episódios passa, a trama vai se complicando cada vez mais e à medida que avançamos em alguns mistérios, outros aparecem.

Não foi a série do ano, mas serviu para me manter interessado. Uma técnica que me incomodou muito foi a da encheção de linguiça no meio da temporada. Eram apresentados vizinhos novos ou que não tinham aparecido direito, para depois recaírem sobre eles as dúvidas do crime e ao final não terem sido eles.

A detetive do caso é interpretada pela atriz Juliette Lewis, excelente como sempre. Ela interpreta uma mulher fria e analítica, que ao final do caso vai se envolvendo e mostrando até onde vai para saber a verdade ou para simplesmente prender qualquer um e ter a glória de ser a responsável pela solução do caso.

Como em toda série americana, somos obrigados a aturar adolescentes idiotas e mimadas. Aqui não poderia ser diferente.

Ryan Phillippe esteve muito bem no papel mais uma vez. Ele é um bom ator e deveria ser mais considerado.

O final foi relativamente surpreendente. Houve algumas dicas de quem seria o assassino e a lista de possíveis suspeitos foi diminuindo aos poucos. Mesmo assim foi um bom final. Meio amargo em alguns aspectos, mas um bom final para uma série que tratou, acima de tudo, de dramas familiares.

A emissora renovou a série, mas de forma antológica, ou seja, teremos uma história completamente diferente na próxima temporada, apenas com a mesma detetive. Fica um pouco de vontade de fechar algumas situações abertas do primeiro caso, mas essa técnica do “não sei” é boa para gerar conflitos.

Acho que na próxima temporada dou mais uma chance à série. Vejamos o que virá também.

FDL

terça-feira, 5 de maio de 2015

Season Finale: The Mindy Project - 3ª Temporada

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Quem diria, a tímida e pequena série de audiência modesta vai mostrando que tem seu lugar.

A terceira temporada da Mindy foi a primeira a encerrar sua temporada, agora na época de finais das séries grandes.

O trabalho continua bom e a série ainda é uma boa opção de humor leve e inteligente. Mindy é uma mulher admirável por ser segura, confiante e fazer esse tipo de humor.

A série ainda tem coadjuvantes fracos, ainda com a saída de alguns deles. Mas de fato The Mindy Project não é a melhor comédia do momento. É competente.

A principal história se focou no amadurecimento do relacionamento de Mindy e Danny, além de uma aventura dela em outra cidade. Ficou evidente que a autora quis mostrar uma mulher que mergulhou de cabeça num relacionamento sem perder o foco de ser uma profissional melhor.

Por fim, há a história da gravidez de Mindy, que será mais explorada ainda na próxima temporada, já que essa série foi renovada pela Fox antes do final dessa.

Há umas situações forçadas e de graça foragida, mas no final a gente vai ficando velho e ranzinza mesmo.

Vou continuar acompanhando.

FDL

Season Finale: The Voice UK – 4ª Temporada

Depois de ter achado boa a temporada passada, resolvi dar mais uma chance à versão britânica do show das viradas de cadeiras.

voice2015

O quadro de jurados ficou parecido. Saiu Kylie Minogue e entrou Rita Ora. Confesso que não conheço nenhuma música dela. Mas já sabia quem era, porque ela já tinha sido jurada convidada no X Factor. Acho que a mulher tem um negócio com ser jurada de reality show.

Ela poderia ter feito um trabalho melhor. Achei meio boazinha e sem sal. Os participantes dela não tinham nenhuma qualidade que me fizesse querer continuar vendo.

Will I Am continuou com sua estratégia agressiva e de todos os seus participantes, gostei da Lucy, que cantava uma ópera pop.

 

Tom Jones também esteve bem e não teve participantes realmente legais.

Ricky Wilson foi o campeão, com o participante Stevie, que tem aquela cara de vencedor desse tipo de programa.

A dedicação do Ricky e a pegada do programa deixaram bem claro que o vencedor desse ano seria ele. Merecido, porque ele parece se importar mesmo com os participantes.

 

Houve outros participantes interessantes, como Karis Thomas, Howard Rose e Hannah Symons, mas o The Voice insiste em ser um programa com vozes fortes e artistas com pouca relevância, completamente esquecíveis.

Os episódios foram um pouco mais cansativos. Aquela enrolação com piadinhas e conversas atravessadas são muito cansativos. Além disso têm aquelas insuportáveis perguntas de bastidores feitas pelos apresentadores.

Sorte que não é a versão brasileira, que ainda não entendeu que ninguém quer ver uma atriz sem sucesso lendo comentários que as pessoas fazem no twitter.

Não sei se vou ver no ano que vem. Mas o negócio podia ser mais dinâmico.

Sorte que os britânicos têm bom gosto musical e as músicas são sempre boas nesses programas.

FDL